Capítulo Sete - Dividido

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    Um mês depois do início de sua sequência de faltas no colégio, Kunikuzushi recebeu a notícia de quando seria a prova final, ele por um lado ficava muito aliviado pelo ano já ter acabado, mas o outro lado estava completamente em conflito. Ele não queria ir, não queria ver a cara de ninguém, não queria ter o azar de reencontrar Kazuha, ele pensa que vomitaria se isso acontecesse.
   
    - Filho...? - Ei bate em sua porta, esperando uma resposta, depois de um 'uhn?', ela continua. - Você viu que amanhã vai ser o dia da prova final? Você vai?
   
    - ...Vou, mãe. - Kunikuzushi não escutou mais nada além de passos se distanciando.
   
    Kunikuzushi odiava aquela sensação de 'cansaço mental', odiava os remédios que sua psiquiatra passava, odiava a falsa sensação de felicidade que eles o proporcionava, odiava querer se esconder de alguém e se sentir retraído, ele odiava tudo e todos. Depois de um tempo, sua mente começou a divagar em assuntos aleatórios, ele não poderia ficar pensando em coisas negativas.
   
    Kunikuzushi pensou como seria ter outros garotos como namorado; "Heizou provavelmente seria atencioso e grudento, mas ele era amigo de Kazuha, então não poderia esperar muita coisa, Albedo quase não teria tempo para ele, por conta de pesquisas e seu cérebro genial, Xiao não seria muito carinhoso, mas aposto que seria um fofo no off, e aquele ruivo desconhecido... Como será que ele seria como namorado? Acho que muito protetor, um bom ouvinte e ele claramente gostaria de afeto em publico..."
   
    Talvez Kunikuzushi não esteja acostumado com esse tipo de tratamento, então achou estranho pensar que ele fizesse alguma coisa desse tipo em publico, mas no fundo de seu coração, era o que ele mais desejava.
   
    Meia hora depois de seus remédios, ele começou a sentir os efeitos, olhava para o nada e dava risadas, começava a querer conversar e como não havia ninguém em seu quarto, começou a falar sozinho, então sentado em frente ao espelho, ele começava a conversar, rir e chorar, ele sempre se perguntava em que momento ele pediu para ser tratado daquele jeito por Kazuha.
   
    - ...Talvez, eu seja mesmo ingênuo demais... Queria poder esquecer tudo aquilo! - Gritou na frente do espelho com lágrimas em seu rosto.
   
    - Você foi tolo, Kunikuzushi. Uma criança tola. - Um arrepio percorreu sua espinha, olhando para o espelho com espanto, ele via si mesmo sorrindo.
   
    - Que porra é essa?!
   
    - Não se preocupe, Kuni. - Seu nome saiu enjoativamente doce vindo do 'reflexo do espelho', e logo em seguida, uma risada sádica. - Eu prometo que vou fazer você esquecer de tudo o que ele te fez... Eu só preciso que você confie em mim, pode ser?
   
    - O que?! O que é você?! Eu só posso estar alucinando, não é possível! - Sua linha de raciocínio foi interrompida por Ei entrando no quarto.
   
    - ...Com quem você estava falando, Kuni? - Kunikuzushi corre em direção a sua mãe, a abraçando e escondendo o rosto em seu pescoço.
   
    - Eu não quero mais tomar aquela merda de antidepressivo, nunca mais! - Ei passa a mão em seu cabelo o acalmando.
   
    - Por que, filho? O que aconteceu?
   
    - Não importa! Eu estou dizendo que não quero mais! - A expressão de Ei foi de puro espanto, afinal Kunikuzushi nunca falou assim com ela. - ...Desculpa, eu só estou um pouco estressado. Eu vou comer alguma coisa...
   
    - ...Eu te fiz um pouco de chá... - Kunikuzushi já havia saído de seu campo de visão. Ei não iria mentir, ela ficou um pouco chateada com a atitude de Kunikuzushi, mas ela respeitava o porquê dele estar assim.
   
    O resto do dia passou mais rápido do que Kunikuzushi gostaria, só de pensar no que encararia no dia seguinte já o desanimava, mas felizmente, seria um único dia.
   
    Quando Ei lhe avisou que Yae iria jantar com eles, como a maioria dos dias, ele pediu a sua mãe se desculpar com ela e disse que iria descansar mais cedo, Ei ficou um pouco desapontada com a situação, ela havia feito o prato favorito de Kunikuzushi e esperava que eles três pudessem jantar juntos, mas não poderia fazer muita coisa além de abraça-lo e desejar uma boa noite.
   
    A noite passou como um sopro suave da brisa marítima mais calma, foi rápido e silencioso, sem pensamentos intrusivos, ou alucinações da sua cabeça, apenas ele, jogado na cama e só existindo, mas ainda havia aquela 'pulga' atrás da orelha, ele queria dormir. Ele faria de tudo se pudesse pregar os olhos por uma mísera hora.
   
    Ele sabe que teria olheiras horríveis quando levantasse, e sabe o quanto ele ficaria sobrecarregado pela falta de sono e a pressão que sentiria quando pisasse naquele colégio com o perigo de encontrar quem ele não queria. Kunikuzushi desejava a morte.
   
    Mas quando o seu despertador tocou, Kunikuzushi não resistiu, abriu a sua bolsa de remédios e pegou duas pílulas de sertralina e engoliu no seco, ele conseguia sentir o remédio descendo lentamente pela sua garganta, era nojenta a sensação, mas o fazia se sentir vivo. Depois de alguns minutos sentado na cama, ele tomou coragem e foi fazer sua rotina que normalmente fazia.
   
    No banheiro, encarava sua face destruída, olheiras enormes e olhos inchados como ele havia previsto, a carranca de noites mal dormidas por conta do sertralina, ele realmente odiava tomar aquele remédio, mas era necessário. Sua psiquiatra tentou recomendar a tarja preta, mas Ei protestou dizendo que seria muito remédio e que ele ficaria dopado com essa quantidade de medicamentos, mas mesmo assim, a tarja ainda era necessária.
   
    Kunikuzushi odiava o fato de ser dependente de remédios para poder fazer alguma coisa, ele odiava o que Kazuha fez com Kunikuzushi.
   
    - Eu já te disse, confie em mim, eu irei libertar o seu coração daquele que te fez mal. - Novamente, o reflexo do espelho falava com ele, sorria para ele. Kunikuzushi fechou os olhos com força e tapou os ouvidos, ele não queria se ver e muito menos se escutar.
   
    - ...Por favor, me deixa em paz... Que porra que tá acontecendo?! - Antes que pudesse se afastar do espelho, a risada sádica de antes ecoou em seus ouvidos novamente. Ele não sabia o que fazer.
   
    Aquilo era algum tipo de maldição ou era efeito do remédio? Ele realmente não sabia e nem queria saber, ele só queria viver em paz e esquecer que tudo aquilo aconteceu, viver sua vida livre de qualquer peça que sua cabeça queira lhe pregar.
   
    Mesmo depois daquela cena estranha do espelho, ele ainda foi para o colégio, ele acabaria logo com esse inferno.
   
    Chegando lá, ele já sentiu vontade de voltar para casa, ele atraia olhares indesejáveis para cima dele, muitos murmúrios e cochichos dizendo como sua aparência havia mudado, e mais algumas coisas como; 'Parece que o Kazuha o transformou de anjo para demônio bem rápido' ou 'Ele com certeza, não merecia aquilo', Kunikuzushi odiou a pena das pessoas sobre ele.
   
    Andando o mais rápido possível para poder chegar em sua sala, quase correndo ele pode finalmente entrar e esperar que a prova começasse, quando esbarrou em alguém. Com medo de ser quem ele pensava, apenas abaixou a cabeça e passou reto, mas antes pudesse realmente sair daquela situação, uma voz pouco conhecida o chama.
   
    - Ei, cara! Eu sabia que seríamos do mesmo colégio, eu deveria ser vidente! - Kunikuzushi vira rapidamente encontrando um rosto tão familiar, mas ao mesmo tempo, tão desconhecido.

Liebe Tut Weh - ChiScaraOnde histórias criam vida. Descubra agora