Capítulo Três - Desconhecido

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    Lágrimas molhando as barras da manga de sua blusa de moletom e seus olhos ficando cada vez mais vermelhos de tanto esfregar. Kunikuzushi tentava desesperadamente parar de chorar, ele já tinha saido do quarto de motel e agora estava em uma cafeteria, que apesar do horário, estava quase vazia, então não se importou de pedir um café enquanto tentava se recuperava para poder ligar para sua mãe.

  Logo escutou sua senha sendo chamada para poder pegar seu pedido, mas antes que pudesse se levantar, um garoto ruivo pegou o café e se aproximou da mesa.

  - Eai cara... Eu percebi que você está com os olhos muito vermelhos e você não tem cara de quem fuma maconha. - Ele solta uma risada sem malícia, Kunikuzushi não consegue ficar bravo. - O que aconteceu?

  Kunikuzushi pega o copo de sua mão, sentindo seus dedos se roçando levemente. Kunikuzushi parecia aterrorizado com essa pergunta, então permaneceu quieto.

  - Olha, eu sei que a gente não se conhece, mas eu estou genuinamente preocupado. - Kunikuzushi ainda parecia incerto, então o desconhecido continuou. - Pensa comigo, você com certeza nunca mais vai me ver, e eu não te conheço, então que mal faria se você desabafar um pouco?

  Kunikuzushi encarou os profundos olhos azuis vividos. Eram bonitos, mas não tão lindos quanto os de seu namorado. Respirando fundo, Kunikuzushi derramou suas preocupações no desconhecido.

  - Então eu acho que ele me usou de certa forma, entende?

  - Sim, eu entendo. O que eu NÃO entendo é como o cretino do seu namorado teve a audácia de fazer isso com alguém tão puro como você! - O ruivo estava enfurecido, isso conseguiu arrancar uma risada de Kunikuzushi. - Oh! Eu fiz você rir! Agora sim estou feliz!

  - Bem, é bom eu ligar para a minha mãe, vou pedir para ela vir me buscar, mas infelizmente ela vai me fazer varias perguntas e eu não estou com cabeça para isso agora.

  Kunikuzushi pega seu celular, descendo direto para o contato de sua mãe, até que o desconhecido interrompe.

  - Já que é assim, por que eu não te levo? - Kunikuzushi fica assustado com a pergunta e recusa na mesma hora. -Ok, eu entendo o seu lado, sei que está com medo já que a gente nem sabe o nome um do outro, mas como segurança eu posso te dar isso. - O desconhecido tira um canivete do bolso e o coloca na mão de Kunikuzushi.

  - E-Espera! Por que você tem um canivete?!

  - Autodefesa, entro em bastante conflitos.

  Isso aparentemente, foi o suficiente para Kunikuzushi aceitar a carona, afinal o ruivo não parecia ser uma pessoa tão ruim assim. Ele só era metido a galã, mas nada de ruim nisso.

  Antes de sairem da cafeteria, o ruivo comprou uma bomba de chocolate com doce de leite e disse que era um 'presente de consolação', Kunikuzushi achou uma graça, já que adorava doces, então aceitou de bom grado.

  O carro que estava um pouco longe da cafeteria era vermelho e aparentemente, bem caro. Isso fez Kunikuzushi se tocar.

  - Espera, quantos anos você tem? Você tem carteira? - O ruivo riu, mas não respondeu a pergunta. Kunikuzushi não tinha muitas escolhas mesmo, então entrou calado e informou onde morava, e para surpresa de ambos, era perto do condomínio do ruivo.

  Mais ou menos vinte minutos para chegar no endereço informado, Kunikuzushi continuava com o canivete em suas mãos, mas estava feliz por encontrar um 'conforto temporário' naquele completo estranho. Kunikuzushi engoliu toda dor que sentiu por não ser o seu namorado o confortando, mas tudo bem, ele também poderia entender o lado de Kazuha.

  - As vezes, ele só tinha alguma coisa importante para fazer... - Essas palavras fluíram de Kunikuzushi involuntariamente, e isso fez com que o desconhecido socasse o volante com força. Isso o assustou, então levantou o canivete em forma de defesa, mas o desconhecido não ligou muito.

  - ...O que é mais importante? Qualquer merda que ele 'precisasse' fazer, ou o NAMORADO DELE?! De verdade cara... Eu não sou ninguém na sua vida, não sei o seu nome e nada sobre você, eu nem deveria opinar, mas eu não consigo tratar isso com normalidade como você faz... Apenas, tome cuidado com esse cara, por favor. - Kunikuzushi baixou a guarda e consequentemente, abaixou o canivete.

  - ...Você fala igual a minha mãe...

  Ninguém mais se pronunciou até chegarem na frente da casa de Kunikuzushi, tinham se passado bons minutos desde aquela conversa, e o ruivo parecia um pouco mais tranquilo, aquilo também tranquilizou Kunikuzushi.

  - Prontinho, cara! Está entregue!

  - Muito obrigado, de verdade. Nem sei qual seria a reação da minha mãe se eu contasse isso para ela, você me ajudou muito, ehr.. - Kunikuzushi esperou que ele dissesse seu nome, mas o desconhecido negou.

  - Sabe, eu não seria 'apenas um desconhecido' se eu lhe dissesse o meu nome, talvez nós sejamos do mesmo colégio, ou até mesmo parentes e não sabemos. Vamos deixar assim por enquanto, ok? - Kunikuzushi sorriu a concordou com o ruivo do mesmo jeito.

  - Obrigado novamente, se cuida... Cara. - Os dois trocaram 'soquinhos' e Kunikuzushi saiu do carro correndo diretamente para a porta de entrada.

  Kunikuzushi não viu o carro ir embora, porque assim que abriu a porta, encontrou Ei sentada no sofá com olheiras assustadoras e uma expressão sombria. Kunikuzushi se assusta com a visão, sua mãe que sempre foi uma pessoa preocupada com sua aparência, bem vaidosa, estava horrível agora.

  - Kuni. Quem era aquele rapaz? - Sua voz estava grogue, "Ela não dormiu nada?" pensou Kunikuzushi. - Eu apenas estou preocupada, Kuni. Você sabe que não precisa mentir para mim, eu não irei falar nada, apenas quero ajudar. Senta aqui, filho. - Kunikuzushi chega perto de Ei e sente seu braço sendo puxado para baixo o fazendo cair no colo de sua mãe.

  - ...Mãe...? - Kunikuzushi não entende o que estava acontecendo, mas apenas de sentir o calor familiar de sua mãe é o suficiente para fazê-lo desabar. Ele quebrou em um piscar de olhos. Suas lágrimas voltaram a rolar e sua cabeça estava mais e mais pesada, Ei o tranquilizava com cafunés suaves em sua cabeça.

  - Está tudo bem, filho. Mamãe está com você, você sabe o quanto eu te amo, querido. Pode chorar o quanto você quiser. - Ei o puxou para o seu ombro e o segurou lá.

  Kunikuzushi acha que chorou por quase uma eternidade e Ei o confortara por muito mais que isso. Kunikuzushi foi se recuperando aos poucos, até que ele estivesse bem o suficiente para poder falar.

  - Basicamente, aquele cara que me trouxe é um completo desconhecido, ele veio até mim e começou a me questionar do porquê de eu estar chorando. Bem, o Kazuha meio que me deixou em um quarto de motel sozinho com isso. - Kunikuzushi puxou o papel do bolso e mostrou a mensagem a Ei. Kunikuzushi não queria encarar os olhos dela, ele estava com vergonha e medo dos olhos afiados de sua mãe. - E esse desconhecido me confortou deixando eu desabafar tudo em cima dele, e foi isso...

  - ...Entendi, esse cara foi bem gentil com você, não é? E o que você vai fazer em relação ao Kazuha? - O nome de Kazuha saiu em um tom de ódio, Kunikuzushi sentiu isso.

  - Bem, eu tenho certeza de que ele nunca me deixaria assim, ele deveria ter outros assuntos para tratar, sabe? Eu vou mandar mensagem mais tarde, sei que ele vai responder. - Ei olhou assustada, mas o olhar de confiança que Kunikuzushi lhe dava era de partir o seu coração. Ela não poderia simplesmente acabar com isso.

  - Tudo bem, filho... Eu espero que ele não faça nada de ruim com você, Kuni. Só te quero bem, ok...? - Kunikuzushi balança a cabeça e sorri para ela, que retribui o mesmo sorriso, mas um pouco desanimada. - Eu acredito que você deve estar com fome, não é? Eu comprei um bolo de chocolate simples e uma caixinha de um chá novo e pensei em tomar café da manhã com você... Ou você já comeu? - Kunikuzushi já havia tomado café, mas aceitou o café com sua mãe já que não era sempre que ela faltava em seu trabalho para ficar com ele.

  - Adoraria, mãe... Mas depois de comer, você vai dormir, entendeu? Você está horrível! Aposto que a Poppy ainda iria te achar 'uma gostosa', mesmo com cara de zumbi. - Ei engasgou com o ar, não esperando que seu filho dissesse uma coisa dessas. - O que? Não é assim que vocês, lésbicas emocionadas falam? Não sei como ainda não casaram uma com a outra.

  - Kuni!

Liebe Tut Weh - ChiScaraOnde histórias criam vida. Descubra agora