O final me atropelou e me deixou com insônia: Romance 11 livro 18 do Norueguês Dag Solstag.
Um brinde aos livros que não saíram ao mundo todo padrãozinho, como se fosse feito numa fábrica de best seller, todo cagado na jornada do herói. Gente, uma hora ler livro normal cansa! E esse livro aqui é tudo menos normal! E eu precisava disso mesmo sem saber. Gostei da primeira à última página.
No final do ano passado eu comecei a pesquisar livros pra comprar e encontrei essa indicação. A pessoa do artigo escreveu que o final era surpreendente. Eu achei interessante e comecei a ler esse livro pela internet, tem umas 35 páginas como amostra grátis e ao terminar a amostra eu fiquei encantada. Achei que o escritor mandava muito bem e que a história parecia bem interessante.
O escritor utiliza de repetições para firmar a história na sua cabeça e por não ter capítulos e ter pouquíssimos diálogos, todo a narração é muito próxima do personagem principal. A narrativa é íntima e mostra os desejos, pensamentos e medos de um homem de meia idade extremamente autoconsciente. Mas essa consciência e lucidez não o leva a um caminho muito lúcido, diga-se de passagem.
Um homem larga a mulher e o filho de 2 anos, e seu bom emprego, para se mudar de cidade e ir atrás da amante. Depois de 14 anos vivendo com essa amante, ele também a larga e vai morar sozinho já com seus 50 anos de idade. Numa crise de meia idade e de existência, ele elabora um plano com um amigo médico.
Minha parte preferida é quando ele diz a esse médico: o que mais me incomoda é a insignificância da vida. Poderia morar em outra cidade, estar em outro emprego, que a vida seria a mesma coisa insignificante.
Genial.
O médico gosta do que ouve, aparentemente por ser um médico viciado em drogas, ele encontra nesse homem levemente perturbado uma cumplicidade que apenas viciados e loucos poderiam empreender.
Esse livro me lembra também Kafka em Metamorfose. Creio que pela excentricidade. Em Metamorfose um homem acorda e se vê transformado em um inseto gigante. Incrível.
Após muitas leituras do tipo best seller, ler um livro que está cagando e andando pras narrativas e arcos padronizados de heróis, vilões, clímax e resolução dos conflitos, Romance 11 livro 18 me trás de volta a esperança e a animação pra escrever. Eu adoro é isso: um livro que te faz pensar, que te faz voltar as páginas após terminar a leitura pra tentar encontrar uma pista de algo que você deixou passar. Que não te dá a resposta mas te faz perscrutar sua mente em busca de significado, de uma metáfora para o que foi aquela história.
Se eu fosse dizer sobre o que é esse livro, eu diria que é sobre a insignificância da vida e sobre como podemos infligir a nós mesmos situações absurdas e infelizes ao qual não temos necessidade de continuar levando, mas que levaremos adiante mesmo assim pelo compromisso da nossa própria teimosia e obsessão. Mas é tudo insignificante e não precisamos ir tão longe em tudo que fazemos.
Eu recomendo. Diria até que esse livro me trouxe vitalidade para minha vida como escritora pois eu sempre soube que pra mim é impossível escrever da forma padrão dos que fazem sucesso, eu gosto é da bagaceira, da loucura, da crise existencial e de livros que não incorporam o romance como a liga principal de toda a trama... eu gosto é disso, do que chamarei aqui literatura hard. E apesar de um dia desejar escrever um best seller, um livro padrão, só pra dizer pra mim mesma que eu consigo também quero mais ainda escrever livros assim, fora da curva, livros de literatura hard.
Se voce ler esse livro algum dia, vem aqui me dizer o que achou. É tão bom falar de um livro com quem já leu!
Bem, agora é aguardar a leitura do próximo livro, que ainda não chegou mas que prometeram que esse livro iria desgraçar minha mente. Comprei só por causa disso. Não vou revelar o título ainda, mas adianto que só comprei porque a pessoa que recomendou por meio de um artigo disse que ficou noites sem dormir por causa desse livro. Estou empolgadissima!
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DIÁRIO DE UMA ESCRITORA
ComédieSer escritor é para guerreiros mentais que precisam diariamente lutar em mundos inventados e vencer batalhas indescritíveis para que uma história possa nascer. Isso requer muita disciplina, afinal, há projeto mais longo e imersivo do que escrever um...