Nunca fale sobre isso e aquilo. A gente vive coisas nas quais não podemos falar com as outras pessoas. Quem já passou por algo assim? Seja uma situação traumática que vivenciamos ou seja um estado psicológico não muito legal. As vezes não vão nos entender, ou se contarmos, não vão reagir bem. Com problemas mentais e psicológico é sempre assim. Com traumas e vícios também. Não podemos falar sobre isso porque vamos ser julgados, categorizados e marginalizados.
Mas eu que não sou normal, não poderia escrever uma história em primeira pessoa, uma história pessoal, que não tivesse problemas psicológicos, traumas, e situações que geralmente não podemos falar. Não poderia escrever um diário normal cheio de situações corriqueiras. Eu tinha que falar sobre isso, sobre as coisas que me atormentam e atormentam outras pessoas desde que somos muito jovens. Ou pelo menos que atormentam pessoas como eu.
Nunca fale sobre Unicórnios - O título veio de uma ida à livraria de um shopping. Eu tinha o costume de ir para o shopping de ônibus, tomar uma casquinha e ir para a livraria ler livros a tarde toda sentada nas poucas cadeiras e poltronas que eles deixavam no lugar. Era tão bom! Acho que já li obras inteiras lá, e me aventurei em livros que não compraria normalmente.
Eu já tinha começado a organizar e escrever A garota e o alienígena, mas queria tentar algo mais simples. Algo que não necessitasse de narrador e planejamento. Eu já estava fazendo contos para treinar minha escrita, mas queria algo novo. Um diário - ficcional, claro. E então quando sai da livraria eu tinha pelo menos o título na minha cabeça: Nunca fale sobre unicórnios.
A inspiração desse título veio de um livro que li do início ao fim sentada naquela Saraiva. Era um livro vermelho e pequeno chamado: O segredo do best seller. Tudo que você precisa saber para escrever um livro sucesso de vendas.
Esse livro foi muito interessante porque contava sobre um algoritmo, um programa que analisava livros best seller e informava os pontos em comuns entre eles. As características que fazia um livro ser um sucesso, as escolhas de verbos, os temas, aos detalhes que todos eles tinham em comum. E o software era bom, poderia até prever se um livro novo tinha as características necessárias para se tornar um best seller.
Me lembro que o livro mostrou as curvas narrativas que faziam mais sucesso, falou sobre as escolhas dos verbos das ações do personagem principal e contou sobre temas que faziam sucesso. Uma frase em especial chamou minha atenção e ficou gravada em mim de uma forma específica. Quando se tratava sobre temas a escrever, o livro dá um conselho: Nunca fale sobre Unicórnios.
Bem, eu queria falar sobre eles. Não os de verdade, mas aqueles Unicórnios que moram na gente e que se falarmos sobre eles, dirão que ele não existe. Que é coisa da nossa cabeça. Que o que pensamos e sentimos não existe de verdade e que para sermos felizes e plenos, bastasse a gente querer. Bem, as coisas não são assim. Eu acreditar ou não em depressão não me fará me livrar dela. Eu ignorar meu trauma não o fará doer menos. Eu não falar sobre situações que me mudaram, não me fará retornar ao meu antigo eu.
E então comecei um diário. Assim como esse. Um diário ficcional mas cheio de coisas minhas.
Minha personagem principal, Unicórnio, não fala seu nome em nenhum momento e se apresenta como seu personagem ficcional favorito de todos os tempo: esse ser que se parece um cavalo branco mas possui um chifre e asas. Algo bonito e estranho ao mesmo tempo, inexistente porém conhecido por todos.
Talvez o maior erro desse livro tenha sido abordar situações complicadas que serviram como gatilho a outras pessoas e eu não as avisei de nada. Mas mesmo assim tentei ser suave e não deixar tudo pesado. Tentei ate romance nesse livro! Sim, tem casal romântico viu! Tive um bom retorno, vários leitores falaram comigo. Foi o livro em que mais tive participação de leitores e na qual me rendeu muitos seguidores. Foi um sucesso - pra mim que não tinha nada. E eu tive esperança de que fosse apenas meu inicio. Mas nenhum livro depois desse teve engajamento.
Tive um comentário negativo que me fez querer melhorar uma passagem na edição do livro, tirei algo relacionado a uma personagem, a Julia. No fim eu gostei, ficou melhor assim, mais leve. Mais positiva. Posso dizer que só fiz a continuação ( Nunca fale sobre monstros) por causa de uma leitora específico, nem sei se ela chegou a ler o livro. Mas eu gostei de Nunca fale sobre monstros, vi um progresso na minha escrita.
continua...
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DIÁRIO DE UMA ESCRITORA
HumorSer escritor é para guerreiros mentais que precisam diariamente lutar em mundos inventados e vencer batalhas indescritíveis para que uma história possa nascer. Isso requer muita disciplina, afinal, há projeto mais longo e imersivo do que escrever um...