𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐_ 𝐌𝐢𝐚

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— Vamos, Aphodite! Estamos prestes a nos atrasar — alertei, minha voz calma, mas com um toque de urgência. Observava minha irmã gêmea, completamente absorta em sua maquiagem, na frente do espelho do banheiro. A luz suave refletia no seu rosto, deixando-a ainda mais concentrada nos detalhes.

— Calma, desgraça, tô indo. Só falta o rímel — respondeu Aphodite, sem tirar os olhos do espelho, com os cílios batendo suavemente enquanto passava o rímel.

— Tudo bem, mana. Só não vai demorar mais, ok? — falei, com um sorriso.

Kai estava lá embaixo, e se não saíssemos logo, ele ia explodir.

Aphodite não respondeu. Eu podia ver seu reflexo no espelho, absorvida na tarefa. Suspeitei que ela estava tentando se controlar para não gritar por mais tempo, como sempre fazia quando a pressa a incomodava.

— Aliás, ei, Mia — Aphodite finalmente falou, sua voz estava mais grave, como se estivesse prestes a dizer algo sério. Ela virou a cabeça para me encarar com um olhar penetrante.

— O que foi? — perguntei, sem entender.

— Não me chame assim no colégio — ela disse com firmeza. Seus olhos se encontraram com os meus através do espelho, e por um segundo eu senti um calafrio.

— Como assim? — Franzi a testa, tentando entender o que ela queria dizer. O que estava acontecendo de tão errado para ela ter esse tipo de reação? Eu nunca a tinha chamado de "mana" em público, pelo menos não com outros seres perto.

— Não se faça de sonsa, garota — respondeu ela, o tom de irritação evidente agora. Passou mais uma camada de rímel, ignorando o quanto suas palavras me atingiam. — Não me chame de maninha, nem mana, nem irmã. Entendeu?

Fiquei parada por um momento, tentando processar suas palavras. A mágoa apertou no peito. Eu sabia que ela queria manter uma imagem, mas as atitudes dela sempre eram frias.

— Sim — murmurei, tentando esconder a dor. Eu sabia o que ela queria dizer. Aquela distância entre nós, aquela necessidade de não ser associada a mim, a irmã gêmea, ou seja ela sentia vergonha de mim.

Aphodite voltou a se concentrar na maquiagem, mas o silêncio entre nós era pesado. Eu olhei para ela, tentando conter a magoa, mas minhas palavras estavam presas na garganta.

Depois de mais alguns minutos, ele estava ficando irritado. Se ela não descesse logo, ele faria um escândalo.

— Aphodite, se não descer imediatamente, vou buscar você pelos cabelos — a voz de Kai ecoou pelo corredor, carregada de impaciência. Ele estava sentado no sofá lá embaixo, e eu podia ver que ele estava visivelmente desconfortável com a espera.

— Ah, relaxa, Kai — Aphodite respondeu — Só mais uns minutos, ok?

— 'Ah, Kai'? — respondeu ele, agora mais irritado, e pude ouvir o som dos seus pés subindo as escadas. — Veremos o que acontece com esse 'ah, Kai'! Já estou indo aí! — Ele parecia decidido a dar um fim àquele atraso. Os passos ficaram mais fortes e rápidos. — Vou contar até três, Aphodite.

— Você não vai... — Aphodite tentou protestar, mas Kai já estava na porta do quarto.

— Sai do meu quarto! — Aphodite gritou, completamente furiosa, e empurrou a cadeira para trás com força, como se quisesse impedir a invasão de Kai.

— Anda logo, senão vou arrastar você escada abaixo! — Kai respondeu com autoridade, dando um passo à frente, como se estivesse pronto para arrastá-la. Ele estava completamente impaciente.

Ela bufou, como se estivesse resistindo, mas começou a descer as escadas, murmurando palavras baixas e incompreensíveis entre dentes. Fiquei ali, observando a cena, e senti que a tensão no ar aumentava ainda mais.

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