nove 🔞

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Helô nunca foi do tipo que foge, no entanto, era o que ela mais fazia ultimamente. Fugia dos seus sonhos, fugia da família que tinha, fugia do amor que sentia. Só fugia, como uma ladra que usurpou algo que não é seu. Como uma impostora que, do nada, se apossou de uma vida que não é sua.

Ela não sabe exatamente onde errou, mas sabe que errou, e tentar corrigir esse erro, agora, parece ainda mais errado e doloroso.

Helô voltou para o Brasil para acertar as coisas, tentar recuperar sua vida, mas, ao dar de cara com a vida de todo mundo já feita, ela se deu conta que perdeu tempo demais.

Pensou que voltando encontraria Stênio na mesmice, pronto para recebê-la, e o que encontrou foi a vida dele muito melhor do que era com ela. Ela não se sentia no direito de interferir naquilo.

Não existia mais uma vida pra ela ali, porque tudo o que ela queria, lhe fora roubado.

A delegada se sentiu ainda pior quando soube do término de Stênio e Bianca. Era confuso e enfurecedor, mas ela sentiu como se tivesse acabado com a vida dele pela segunda vez. Ela pode ver o estrago que fez quando decidiu partir, porquê ela também ficou um caco, então de que adiantaria voltar agora para reabrir a ferida? Fugir era mais simples.

Helô sempre se deu bem com a solidão, sempre se deu melhor sozinha, só não entendia porque agora estava doendo tanto.

"Quando você vai?" Ele perguntou sentado na cama, observando ela colocar a mala já fechada no chão.

"Depois de amanhã." Ela respondeu tentando não olhá-lo.

Olhar para ele sempre tornava tudo mais difícil, era perturbador o modo como ela enxergava sua vida inteira no fundo daqueles olhos.

"Será que você pode sentar aqui, olhar pra mim e conversar comigo?" Ele a intimou cansado demais daquele jogo.

"Não, não posso. Tenho muita coisa pra fazer, não tá vendo? Você é espaçoso, né, Stênio?" Ela disse indo pro banheiro revirar alguma coisa apenas para se distrair.

Seus dias, desde que chegou no Brasil, eram feitos disso: distração. Ela precisava se distrair a todo momento para não pensar em Stênio ou no que estava abdicando por ser covarde.

Helô se perguntava constantemente quando se tornou alguém que ela nunca imaginou ser. Quando foi que passou a ser conformada com a vida mediana, com amores rasos e uma vida sem desafio. Aquela não era ela, e foi difícil admitir que ela só conseguia ser ela, de fato, quando estava perto de Stênio. Era clichê, mas com ele, ela ficava mais radiante, mais alegre, mais esperta. E não entendia sua própria relutância em se entregar à isso.

Quis chorar quando se deu conta que estava fadada e acostumada ao marasmo.

"Helô, por favor." Ele insistiu, repassando o que havia escrito em seus exercícios matinais quando Helô começou a namorar. Ela estava partindo de novo.

A mulher que eu amei se calou na sombra que a podava toda vez que eu estava com ela, a minha escuridão engoliu tudo o que aquela mulher brilhante era.

A mulher que eu amei me deixou. E só vendo ela iluminar outra vida foi que eu me dei conta de que a felicidade que faltava em mim todos esses anos, era ela quem me proporcionava.

A mulher que eu amei foi o meu início e o meu fim. E agora, depois de construir toda a minha história, não sei o que sou sem ela, porque a mulher que eu amei já não é mais a mulher que me amou.

"Desculpa. Eu preciso ir." Ela disse indo até ele, tentando se manter indiferente.

"Por que, Helô?"

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