quatorze

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NOTAS: Obrigada pelas 1 mil visualizações aqui.
Espero que gostem desse capítulo que é mais focado na Helô, gosto muito de ler a opinião de vocês, conta muito pra mim. Me desculpem se tiver erros, eu revisei mas sempre passa algum. 
Boa leitura.

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Diferente da primeira vez, Helô sabia o que estava fazendo, o que estava querendo, mas ainda sim o receio fala mais alto.

O que a estava mantendo ali?
Ela fez essa pergunta a si mesma mais vezes do que gostaria em uma semana.

Antes, o que a prendia era o trabalho, o remorso de ter dado errado e a vontade de fazer dar certo. Era o ar fresco e novo. A sensação de liberdade e vida nova; a possibilidade de um recomeço.

Agora, no entanto, o que a prendia ali?
Revisou uma, duas, três, dez vezes: nada. Até o que a fez ir não fazia sentido visto agora de longe; ela foi fugida, em um impulso. Foi pra esquecer metade de sua vida, mas como esquecer aquilo que se lembra todo dia?
Como esquecer aquilo que mesmo se esquecer, não esquece? 

Há caminhos extensos o suficiente capazes de nos fazerem esquecer o porquê de estarmos ali, o porquê de termos começado, e esse é um deles. Um impasse não resolvido.
E de que adianta continuar em um caminho, tentando chegar ao fim, se nem o começo é mais tão claro como antes?

A delegada se perdeu.

O que achava ser, finalmente, a sua estrada, se mostrou ser só mais um caminho a levando para o lugar que ela já conhecia. O que a fazia continuar, não era o mesmo motivo que a fez começar.
As circunstâncias mudaram, os motivos mudaram, ela mudou. Mas continuava presa ali, achando que era o melhor pra si, porque é durona demais para admitir que, talvez, as consequências das suas escolhas não a levaram pro caminho que esperava.

Então, mais uma vez ela se perguntou: O que estava mantendo-a ali?
E foi só quando se deu conta de que nada mais a mantinha ali que se desesperou.

A delegada pensou nos fatores que a fizeram ir, tentando fazer valer a sua teimosia.
Mas a escalada é mais curta do que ela imaginou e do outro lado tem seus sonhos, suas projeções, outras perspectivas. Então para que continuar em um caminho calejado?

Helô foi para os Estados Unidos para esquecer e aprender; não conseguiu esquecer e aprendeu o suficiente, era isso.
Tinha coisas que apenas a vida, em toda a sua totalidade, era capaz de ensinar. E muitas vezes é necessário voltar para só então conseguir avançar.

O trem que chega é o mesmo trem da partida.
E compreendendo as razões que a fazia querer voltar, pensar em ficar era retrocesso. Não havia mais espaço para ela ali. Não havia mais um porquê. Cumpriu o que tinha que cumprir e aguentou o que tinha que aguentar.

A delegada sempre foi aberta aos desafios da vida e da profissão, não fazia sentido ir contra toda a sua veracidade por medo. A delegada não sentia medo, sentia impulso.

"Tem certeza?" Yone perguntou.

A investigadora e policial passou na casa da amiga e colega de trabalho antes de ir para o bar que havia marcado, tentar convencer a delegada a ir também. Mas se deparou com uma Helô que viu há três anos atrás: confusa, mas tentando se equilibrar na corda.

"Tenho um cargo na Federal e uma família me aguardando." Ela pontuou. "Acho que tenho certeza."

Família.

Helô não era, nenhum pouco, do tipo que expõe sentimento. Sempre foi muito mais fácil para a delegada acobertar suas emoções, mas, definitivamente, família era um ponto que a deixava exposta. Dilacerada.

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