quinze

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NOTAS: Apenas preparando o terreninho para a volta da digníssima que vai ser intensa em todos os sentidos.

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O clima no Rio de Janeiro estava ameno e Stênio tinha mais alguns casos para resolver e outros para passar pra frente, antes de finalizar o turno.
Graças a algum Deus, Stênio tinha Laís como sócia e amiga.
Stênio julgava Laís como alguém muito mais competente que ele, mas também, muito mais paciente, o que fazia com que ela sempre o salvasse.

Stênio tinha a impressão que os anos que foi casada com uma delegada, o calejaram. Não tinha mais saco para a maioria dos clientes.

Ele era um advogado criminalista, um dos melhores do Brasil, junto com sua parceira, ele sabia disso. Mas sabia também que já eram velhos demais para se aventurarem em casos extensos e que, com certeza, lhe trariam dor de cabeça, e eles tinham o privilégio de poder selecionar os casos que queriam. Então sempre escolhiam a dedo quais pessoas defenderiam. Essa era a vantagem de ter renome.
Essa era a vantagem de ter sido casado com uma delegada: ele sabia quais casos teriam sucesso ou não.

"Stênio." Lais chamou a atenção do amigo e sócio, entrando na sala do advogado. "Lá no bar do Joel hoje, em? Show da Marrom."

Laís o lembrou do show. Stênio era, especialmente fã da Alcione, e era uma vez em um milhão poder ir em um show dela, visto que era difícil pro advogado apreciar momentos assim, pela demanda da sua profissão e pela falta de companhia.

Desde que começou o namoro com Bianca, Stênio abriu mão de algumas coisas e gostos para se encaixar no dela. Bianca era elétrica, do rock, enquanto Stênio era da calmaria, gostava de samba agarradinho.
Se divertiu muito com a mulher, não podia negar, mas se privou de algumas coisas em alguns anos também.
E agora, que terminou com ela, resolveu retornar aos velhos hábitos. Experimentar de novo a bonança das noites quentes e de muito samba do Rio de Janeiro.

"Estarei lá. Não posso perder a marrom." Ele disse sorrindo, acompanhando com o olhar Lais sentar em frente a sua mesa.

"Tem falado com a Helô?" A advogada perguntou.
Stênio estranhou a pergunta, mas não se opôs.

"Sim." Ele falou não querendo prolongar muito a conversa.
Falava com Helô quase todos os dias desde que ela voltou para NY e depois que resolveram o caso de Hernandez, passou a ser todos os dias, às vezes até mais de uma vez no dia, o que o advogado achava estranho, mas não estava em posição de reclamar, pelo contrário: estava amando.
Mas falar sobre isso implicaria em uma Laís curiosa e cuidadosa, e Stênio não estava afim de ouvir o que já sabia: que não deveria criar expectativas.
O problema é: ele já havia criado.

"Entendi." Laís olhou pro advogado que permanecia com uma cara amena, tentando soar casual, mas a advogada sabia o que aquilo significava, porque ela conhecia Helô, mas conhecia muito mais o Stênio. "Vou ir encontrar com o Leandro, aquele cliente que foi pego levando drogas pro litoral, depois disso vou pra casa. Te encontro no Joel."

"Obrigada por pegar esse caso, estava sem saco." Ele agradeceu. "Te encontro no Joel."

Laís sorriu e deu um breve tchau para o sócio antes de fechar a porta da sala de Stênio.

Stênio ultimamente estava atolado em trabalho para tentar destoar seus pensamentos frequentes que insistiam em lembrar de Helô.
Era especialmente difícil para ele se concentrar em qualquer outra coisa que não os gemidos dela ecoando na sua cabeça e o cheiro dela ainda presente em sua pele.

Era irreal. Ela estava em NY há um mês e ele ainda conseguia ouvi-la implorar por mais.

Procurando alguns documentos a fim de abafar seus próprios pensamentos, Stênio olhou sua gaveta e notou algo. Na verdade notou a falta de algo.

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