vinte e seis

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Um minuto pode mudar toda a sua vida. Um centésimo de segundo pode definir todo o seu futuro.
Há um estudo chamado "Efeito Borboleta", utilizado pelo meteorologista Edward Lorenz.
Parte da teoria do caos.
O efeito borboleta indica que variações, por mais pequenas que sejam, poderão gerar uma grande mudança ao longo do tempo.

Já a teoria do caos em si, propõe que é impossível ter dados perfeitos de algo, porquê a partir de certo ponto, as previsões se tornam inviáveis.

Quando um sistema é muito sensível às variações, ele se chama sistema caótico. E toda vez que Helô estava em risco, em operação, Stênio se sentia no meio do caos. Contrariando toda e qualquer lei newtoniana.

Os tiros cessaram e Stênio, Drika e Creusa ficam todos próximos à porta, esperando qualquer pessoa que fosse entrar ali. As horas pareciam paradas no tempo e o ouvido de Stênio tinha algum tipo de zumbido permanente e irritante. Ele odiava não saber, odiava esperar.
Odiava ter que lidar com a sensação constante de perda, sendo que não sabia se tinha, de fato, perdido.

A porta abriu de repente e revelou uma Helô visivelmente cansada, e mal dando tempo dela raciocinar, Stênio avançou para cima dela, abraçando-a.

A delegada ainda estava fardada, com o cabelo solto, o distintivo pendurado e havia alguns policiais atrás dela, dentre eles Marcelo. O advogado certamente não ligou. Aproveitou-se na verdade.

Ele sabe que talvez soasse feio ter ciúmes e querer marcar território naquela hora, mas Helô estava viva e bem. E mais do que isso, estava nos braços dele. E constatando tudo isso, ele a apertou mais ainda, não querendo desgrudar os corpos.

Se ele tivesse um superpoder, queria que fosse o de congelar o tempo. Apenas para ficar ali pra sempre, com ela segura e em seus braços.

"Você tá bem?" Ele perguntou em um sussurro, com o rosto enfiado nos cabelos dela.

"To bem." Ela respondeu e se afastou dele o suficiente para olhá-lo. O advogado segurou o rosto dela e a beijou na boca sem se importar com a presença de alguém ali.

Havia algo curioso nos beijos deles dois. Havia o beijo apaixonado, que eles sempre davam quando queriam falar que se amavam. Havia o beijo erótico, que eles se deliciavam sempre quando o tesao estava aflorado. E havia também o beijo com medo. E tantos outros que eles adquiriram e aprenderam a diferenciar ao longo de três décadas juntos.

Diante disso, Stênio não conseguia descrever aquele beijo que estava acontecendo, porque sentiu poucas vezes na vida, mas ainda sim, era diferente de todos os outros, e foram pontuais.
Havia muitos outros beijos, mas o que estava acontecendo ali era irreal.

O advogado conhecia a delegada há mais de 30 anos e ainda era capaz de se surpreender.
Se pudesse descrever o que estava acontecendo com a língua e os sentimentos dele, definiria, certamente, como supernova.

Há uma etapa da estrela em que ela, basicamente, se alastra em uma explosão cósmica poderosa e luminosa. O evento ocorre durante os últimos estágios evolutivos de uma estrela massiva.

Estar beijando Helô era basicamente aquilo. Chegaram em um estágio de amor tão grande que era possível sentir as explosões invisíveis acontecer. É algo tão poderoso que fazer alusão ao cosmo, ao universo, que é a maior coisa que conhecemos, é a única coisa cabível.
Se fosse para ele morrer, morreria feliz em fusão à ela.

"Você ta bem, né? Não se machucou." Ele perguntava afobado, olhando todo o corpo dela de forma gentil.

"Delegada, temos que ir para a delegacia." Marcelo avisou, interrompendo-os, enquanto Helô encarava Stênio.
Mudando a postura, ela virou-se para o colega de profissão.

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