Capitulo Um - Insolence & Wine

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Nota da autora (05/01/2016): Oi pessoal! Voltei! Eu decidi tentar rescrever Strangler, mas, esses primeiros capítulos só vão ser revisados para acabar com uns erros que tinham e etc, o rumo da historia não vai mudar, eu já tenho um enredo pronto e vou continuar com ele, mas, vou tentar dar uma repaginada nos últimos capítulos e é isso. Votem nos capítulos e me digam o que estão achando da historia nos comentários :)

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Claire passou os olhos sobre a primeira página do jornal local lendo rapidamente a manchete ali escrita em letras gritantes, que dizia:

CRESCE O NÚMERO DE MULHERES ASSASSINADAS EM APENAS TRÊS MESES.


Um incomodo no estômago cresceu dentro dela ao ler a palavra "assassinadas", uma simples palavra, mas carregada de significados horripilantes; remexia em algo mais profundo nela do que sua preocupação de cidadã para com as moças que haviam sido mortas. Remexia em algo muito pessoal dela. Algo que ela não se permitia compartilhar com ninguém, além de consigo mesma.
Claire soltou o jornal, sentindo que fosse vomitar se continuasse encarando aquela manchete por mais tempo, assustando-se com o barulho que o mesmo fez ao cair em sua mesa sob uma pilha de relatórios sobre seus clientes que ela continuava a ler e reler diversas vezes com intuito de conhecer cada ponto da personalidade de cada um, suas fraquezas, seus medos e tudo que compunha cada fibra do estado emocional e psicológico deles. Era o trabalho dela, como terapeuta, ajudá-los a lidar com suas questões pessoais e tentar deixá-los estáveis o suficiente para viver em sociedade. Seus pacientes iam desde de casais com problemas conjugais até pessoas com transtornos mentais de nível médio, e Claire conhecia cada caso com maestria, sabia exatamente como lidar com um casal com problemas de fidelidade ou com uma pessoa bipolar.
Formada em Psicologia Forense há cinco anos, aquela não era exatamente a carreira que esperava ter quando entrou na faculdade, muito pelo contrário. Entrara com o intuito de aprender o que se passava em mentes criminosas de assassinos perversos e frios, motivada pelo assassinato de sua mãe quando ela tinha doze anos, do qual o responsável nunca fora pego. Compartilhava a mesma angústia sentida pelas famílias das vítimas, conhecia esse sentimento como ninguém, pois ela mesma era uma família de uma vítima.
Entretanto, aquilo era algo que lhe dera motivação, um propósito de vida e uma carreira. Quando chegou sua vez de entrar na faculdade, ela sabia exatamente o que queria fazer e o que queria ser, não existiam dúvidas contra isso. Impulsionada pela vontade de justiça, não só por sua mãe, mas sim por todas as famílias de vítimas que sofriam pela falta de sanção para o culpado de atrocidades cometidas a estas. Ela queria conhecer e estudar cada um desses assassinos com o intuito de entendê-los, saber o que se passava em suas cabeças e cada pensamento sórdido que os levavam a acabar com vidas de pessoas inocentes, que muitas das vezes não os conheciam ou não tinha nenhuma influência no desenvolvimento de qualquer distúrbio ou maldade vindo desses delinquentes.
Prova disso fora os cinco anos de dedicação extrema a faculdade, onde Claire aprendeu o que seria dali pra frente. Entretanto, sua vida tomara outros rumos e a vida de operadora da justiça passou a ser um sonho distante quando abriu seu próprio escritório no centro da cidade, após perceber que a vida no âmbito policial ajudando a resolver casos não era para ela. Dali então optou pelo caminho que mais a deixava em sua zona de segurança, onde ela poderia atuar em sua profissão para ajudar as pessoas, da forma que lhe era capaz.
Claire encarou o cômodo ao seu redor, observando as paredes de cores neutras, com móveis de madeira espalhados por todo o lugar. Havia um divã de couro branco junto a uma lareira de tijolos de tons marrons e alaranjados, na qual existia restos de madeiras pequenas e finas, que não era o suficiente para deixar o ambiente quente, mas que ainda queimavam desde a noite anterior.
Aquela sala parecia tranquila, mas era carregada de sentimentos pesados, deixados por seus pacientes e por ela mesma. Ali Claire vivenciava situações de descontroles emocionais e exposições de problemas profundos, que muitas vezes ela não conseguiria resolver. Mas fazia tudo que lhe cabia para tentar convencer seus clientes em tratamento que eles precisavam entender e resolver seus traumas emocionais e psíquicos, só assim poderiam ficar bem novamente, apesar de que alguns deles a faziam se questionar se já estiveram bem ou normal.
- Bom dia, eu trouxe café - Kathryn disse entrando na sala com dois copos de café para viagem nas mãos enquanto seus sapatos de salto batiam contra o chão de madeira, fazendo um barulho alto.
Claire observou sua figura alta e magra atravessando a sala, em um vestido violeta que terminava pouco acima de seus joelhos, enquanto balançava a cabeça para tirar um pedaço de seu cabelo marrom longo da testa. Claire riu internamente da produção que Kathryn havia feito em si mesma para ir trabalhar. Já tinha lhe dito que não precisava ir trabalhar nas suas roupas caras e joias de luxo, mas Kathryn insistia em ir vestida como uma perfeita Audrey Hepburn, em Bonequinha de Luxo.
- Bom dia e obrigada, mas como minha secretária eu espero que você esteja aqui antes de mim ou chegue junto comigo - respondeu Claire sorrindo para ela enquanto pegava o café que ela estendia.
- Você é a pior chefe do mundo - resmungou Kathryn.
- E você é a pior secretária do mundo - rebateu rindo para ela.
Claire e Kathryn haviam se tornado amigas desde o dia em que se esbarraram por um bar da cidade e Kathryn a livrou de um cara inconveniente que estava incomodando-a com suas cantadas baratas e suas tentativas infames de beijá-la, há três anos atrás. Desde então, estavam sempre juntas compartilhando histórias de ex-namorados canalhas ou o mesmo gosto para bolsas e quando sua anterior secretária havia se aposentado e Kathryn pediu demissão de seu antigo emprego, resolveu contratá-la, apesar de não ser a especialidade dela, já que Kathryn fazia mais o estilo de secretária de uma editora de moda do que de alguém que cuidava de pessoas com problemas mentais e emocionais. Mas o que valia era a intenção, já que Claire tinha que admitir que Kathryn era um pouco incompetente e, na maior parte das vezes, desorganizada, mas ela gostava de ter a amiga por perto, sem contar que Claire estava ajudando-a dando-lhe um emprego de salário fixo.
- Você sabe que eu não consigo abrir o olho sem tomar um litro de café antes e eu até trouxe para você, como uma boa funcionária que eu sou.
- Tudo bem, mas como uma boa funcionária que você é, qual a primeira consulta de hoje? - Claire perguntou antes de dar o primeiro gole de seu café.
- Não sei, deixe-me olhar na agenda – Kathryn disse abrindo sua bolsa de couro e buscando a agenda de consultas na mesma.
- Vou sentar aqui e esperar você encontrar – comentou Claire sentando-se em sua cadeira.
- Pare de ser uma vaca! – Kathryn resmungou para Claire que riu vendo ela mexer em sua bolsa até encontrar o que procurava.
- Bom, a primeira consulta é com o louco do Steven – Kathryn disse lendo a agenda.
- Não chame ele de louco que ele fica com raiva – comentou Claire rindo.
- O que posso fazer se ele é louco? Você bem que podia diminuir as consultas desse cara na semana, parece que ele é o paciente que mais vem aqui e só porque eu tenho medo dele. – disse Kathryn sentando-se, colocando a agenda aberta sobre as pernas.
- Ele não faz nada a não ser que você transe com a ex mulher dele no chuveiro, dai ele pode quebrar seus dois braços – disse Claire rindo da cara de horror que Kathryn fez quando ela disse isso.
- Que horas ele vem? – Claire perguntou controlando-se.
- Às nove, logo depois vem a Sra. Robinson e às três vem aquela menina da bulimia com os pais dela.
- Menina da bulimia? Você quer dizer a Meredith Mc. Garvey? – Claire indagou.
- Essa mesmo, depois dela tem mais um paciente e acaba as consultas de hoje – Kathryn concluiu fechando a agenda e a colocando de volta na bolsa.
- Tudo bem, obrigada. Se chegar alguém me chamando você me avisa, okay? – pediu Claire.
- Certo – disse Kathryn levantando-se e saindo da sala e indo para sua mesa.
Claire buscou em meio aos relatórios de pacientes o arquivo de Steven Dawson, seu próximo paciente, até que Kathryn aparece novamente na porta de sua sala e fala:
- Paul está aqui de novo! - Claire solta um suspiro pesado de impaciência ao ouvir isso e levanta-se de sua cadeira, se direcionando à outra sala para encontrar um Paul com olheiras e roupas amaçadas.
- O que está fazendo aqui de novo, Paul? – pergunta ela vendo a surpresa tomar proporções maiores nele, fazendo-o corar e tentar arrumar seu cabelo, agora comprido.
- Eu queria te ver – ele respondeu.
- Bom, estou aqui. – disse Claire notando sua barba já grande, assim como seu cabelo, e sua cara cansada, como se já não dormisse a dias.
Nas outras vezes que ele estivera lá não parecia estar tão abatido. Claro que a ruptura deles ainda era recente e, que apesar de não parecer, ela também estava sofrendo e queria esquecê-lo, mas sua mania de perseguí-la constantemente não ajudava, ainda mais quando ele aparecia sujo ou tão bêbado e sem condições de dizer uma frase que tivesse coerência. Doía-lhe em vê-lo assim, tão diferente do que ele era quando estavam juntos.
Ela sentia falta de como seus cabelos castanhos eram bem cortados, realçando seus olhos verdes sobre sua pele branca e lisa, que a deixava entorpecida quando ela sentia seu perfume, um cheiro característico que era só dele.
- Eu não achava que você ia me receber, não fez isso nas outras vezes – disse ele, olhando-a como se não soubesse o que dizer de tão surpreso em vê-la na sua frente.
- Porque eu já pedi para você não aparecer aqui, esse é meu local de trabalho, Paul.
- Tudo bem, desculpa – Paul disse parecendo mais controlado.
- Por que você não vai para casa, toma um banho e dorme um pouco? A Kathryn pode te levar até lá, depois a gente conversa, eu tenho pacientes agora – Claire sugeriu.
- Eu vou, mas eu vou te ligar depois – ele disse.
- E eu vou atender, mas agora você precisa ir. Leva ele, por favor – Claire pediu dirigindo-se a Kathryn, que lhe sorriu com compaixão e levantou para ajudar Paul a sair do escritório enquanto Claire voltava para sua sala e se preparava para sua consulta.
Depois que a consulta com seu primeiro paciente, Claire não se conteve em ir perguntar a Kathryn como estava Paul. Era inevitável para ela não se preocupar com ele, ela ainda era estupidamente apaixonada por ele, apesar de todas suas tentativas de esquecê-lo. Ela havia cogitado até em sair do país por um período, na tentativa de manter-se longe das tentativas perseverantes de Paul de reatar, já que era incrivelmente difícil não se afetar com a presença dele ou com os bilhetes e flores que ele mandava.
- Como ele estava? – perguntou Claire a Kathryn baixinho e encarando o chão.
- Agora ele acredita que vocês vão conversar – respondeu.
Claire soltou o ar dos seus pulmões exageradamente, sabendo que Paul iria perseguí-la ainda mais agora que ela deu a entender que eles conversariam, mas ela não queria conversar com ele, porque sabia que acabaria cedendo.
- Por que você não diz logo a ele? – Kathryn indagou – Se ele te ama tanto assim como ele diz, vai te perdoar...
- Eu não posso, Kath – interrompeu Claire.
- Fingir que não gosta mais dele só para terminar o relacionamento não é a resposta, só vai machucar ainda mais ele e a você também.
- Está tão na cara assim que eu gosto daquele babaca? – perguntou Claire suspirando e encarando a amiga pela primeira vez na conversa.
- Está tatuado na sua cara "eu amo o idiota do Paul" – disse Kathryn, fazendo-as rirem.
- Ele é um idiota mesmo – resmungou Claire lembrando, por um segundo, de todas as brigas que eles tiveram.
- Mas você precisa dar um ponto final nisso para poder continuar com a sua, seja com ele ou sem ele, porque não dá mais pro cara ficar te perseguindo assim, imagine o quanto de horas ele fica dentro daquele carro pensando em você pelada – Kathryn fez cara de nojo ao terminar a frase e Claire ficou rubra.
- Volte a trabalhar, Kath – disse Claire virando-se para entrar de volta para sua sala antes que Kathryn percebesse sua vergonha.
Eram por volta das oito da noite quando Claire ouviu uma batida apressada na porta do escritório e largou todos os arquivos para caminhar até a porta gritando um "já vou" para a pessoa que batia, imaginando ser Kathryn que havia esquecido a chave de casa ao sair do escritório poucos minutos atrás. Claire seguiu até a porta passando a mão sobre o cabelo bagunçado antes de girar a chave e, em seguida, a maçaneta para abrir a porta encontrando uma jovem ruiva de rosto familiar a encará-la.
- Boa noite, Claire - disse a mulher sorrindo para ela como se a conhecesse há muito tempo e ela a conhecia.
- Lembra-se de mim? – indagou a ruiva.
- Claro, Amélia Parker, certo? Você foi minha colega de quarto na faculdade, entre, por favor. – Claire afirmou e sorriu-lhe de volta dando passagem para que ela entrasse.
- Faz muito tempo desde a faculdade – afirmou Amélia entrando no cômodo enquanto Claire fechava a porta com a chave novamente.
- Fechando a porta com a chave – observou Amélia.
- Sim, a cidade está meio perigosa. Falando nisso, você trabalha para a polícia, certo? – perguntou Claire.
- Sim, trabalho. E não precisa se preocupar enquanto eu estiver aqui, eu ando armada – disse Amélia, afastando um pouco seu casaco para mostrar sua pistola presa a altura de seus quadris.
Claire olhou-a surpresa com um misto de admiração pela mulher que visualmente ela havia se tornado, já que deixou de ser uma menina magricela de grandes cabelos ruivos para virar uma mulher robusta, alta e com um ar levemente perigoso. Mas ela sabia que essa mudança em Amélia foi necessária devido ao seu cargo na polícia e com todos os tipos de criminosos que ela tinha que lidar. Amélia precisava parecer forte e fria para lidar com criminosos e assassinos sem se intimidar, isso exigia coragem que Claire sabia que ela tinha depois de todos os anos que elas passaram dividindo um quarto na faculdade.
- Eu nunca ia imaginar você atirando em alguém, pelo menos naquela época, mas acho que agora você precisa atirar – Claire comentou.
- Na verdade, eu mostro mais a arma do que a uso – Amélia confessou rindo e Claire a guiou até a outra sala onde elas se sentaram.
- Então esse é seu escritório? – Amélia perguntou olhando ao redor.
- Sim – respondeu Claire.
- Que tipo de pacientes você cuida aqui? – Amélia perguntou encarando Claire dessa vez.
- Diferentes tipos, alguns com dificuldades no casamento, com depressão moderada, com dificuldade de lidar com o luto...
- Algum criminoso? – Amélia pergunta levantando a sobrancelha.
- Por que a pergunta? Quer dizer, por que veio aqui? – Claire perguntou, sentindo um tremor dentro de si. Ela sabia que Amélia não estava ali para fazer uma visita para relembrar os velhos tempos, tinha algo mais ali.
- Porque quero que você me ajude a pegar um assassino. – Amélia disse de forma direta, sem rodeios.
Claire encarou-a, incrédula com o que ela havia acabado de dizer. Por um segundo ela quis acreditar que esta estava fazendo algum tipo de brincadeira de mau gosto referente a época de graduação delas, entretanto o olhar firme de Amélia sobre Claire mostrava que aquilo estava longe de ser uma brincadeira. Ela falava sério, mas Claire não sabia como ela poderia falar sério sobre aquilo com ela, logo com ela.
- O que quer dizer com isso? - perguntou Claire séria.
- Tem lido o jornal? - Amélia perguntou abaixando o rosto para olhar dentro de sua bolsa, depositada em seu colo, antes de pegar um jornal amaçado de dentro dela e colocar em cima da mesa, deixando visível a mesma manchete que Claire havia lido naquela manhã.
- Sim, eu tenho lido - Claire afirmou desviando o olhar do jornal ao sentir de novo a angustia ao ler sobre as moças assassinadas.
- Então, você sabe o que eu quero dizer - Amélia disse recolhendo o jornal e guardando-o novamente dentro de sua bolsa.
- Na verdade, eu não sei - respondeu Claire encarando-a novamente, perguntando-se onde ela queria chegar com aquela conversa, já que não fazia sentido. Ela não era uma espiã ou uma policial capacitada para investigar e prender os assassinos daquelas mulheres, era somente uma psicóloga. Não tinha nada para oferecer a Amélia em termos de investigação criminal.
- Eu estou aqui porque quero sua ajuda para resolver isso - Amélia pediu.
- Eu não sou investigadora, Amélia, sinto muito mas não sei como posso te ajudar com isso. - disse Claire sem entender o motivo daquele pedido.
- Claro que sabe, uma vez você disse que a cena de um crime diz quem é o assassino, você estudou sobre mentes perigosas e eu tenho certeza que vai saber como me ajudar.
- Sim, eu estudei a teoria, não sei a prática - argumentou Claire.
- Eu vim aqui porque sei que você pode. Eu já não sei mais em que direção eu devo ir em relação a esses casos. Todos esses assassinatos estão começando a chamar a atenção do governador e o prefeito está colocando pressão em mim para pegar o culpado e se eu não conseguir pegar esse cara, posso perder meu emprego. Eu estudei e me dediquei muito para isso, você sabe, só peço que me ajude, me dê algumas dicas do que eu tenho que me prender mais ou no que pode ter levado ele a matar essas mulheres - Claire encarou a expressão desesperada de Amélia. Ela sabia que esta não pediria ajuda a ela se não estivesse realmente precisando, mas Claire não sentia que seu conhecimento era o suficiente para aquilo e não poderia ajudá-la.
- Com certeza foi um cara – Claire disse.
- Não subestime as mulheres, nem a si mesma, Claire. – Amélia disse olhando para Claire com uma expressão dura.
- De qualquer forma, talvez não seja a mesma pessoa que matou todas elas - disparou Claire.
- Eu acho que é, as cenas dos crimes são muito similares... - disse Amélia recorrendo novamente a sua bolsa e tirando um grande envelope laranja de dentro da mesma e despejando o conteúdo encima da mesa de Claire.
Ao ver do que se tratava, Claire se levantou de sua cadeira em um pulo e deu passo para trás assustada. Eram fotos de mulheres jovens, na casa dos vinte cinco aos trinta e cinco anos, deitadas em posições estratégicas, nuas e mortas.
- Eu não quero ver isso - disparou Claire se afastando da mesa e indo para o outro lado da sala.
- Você precisa ver isso, Claire. Agora são mulheres desconhecidas, mas se a gente não parar esse cara, daqui a pouco pode ser nossas vizinhas, amigas ou até nós mesmas - Amélia disse levantando e virando-se para ela.
Claire respirou fundo tentando acalmar seu corpo do baque que foi ver aquelas imagens e se forçou a procurar um jeito de recusar ajuda a Amélia. Agora ela tinha certeza que não iria conseguir ajuda-la, não quando iria precisar ver as vitimas no estado em que foram deixadas enquanto procura pela pessoa que fez tal crueldade, ela não saberia como agir.
- Não posso te ajudar, Amélia. Sinto muito, mas eu tenho trabalho a fazer aqui no escritório e não tenho tempo para te ajudar na investigação - Claire encarou Amélia novamente, mas dessa vez com uma expressão mais equilibrada.
- Tem certeza? Você vai receber pela ajuda...
- Tenho certeza e agora preciso ir para casa, foi legal te rever, mas eu preciso ir - Claire interrompeu Amélia no meio da sua frase. Oras, como se ela fosse aceitar fazer aquilo por causa de dinheiro. Amélia realmente havia esquecido de quem ela era com o passar dos anos.
- Eu vou indo, foi bom te ver de novo e aqui esta meu cartão com meu número se mudar de ideia - Amélia disse, colocando um pequeno pedaço de papel cinza em cima de sua mesa antes de pegar sua bolsa e a colocar em seu ombro direito, indo em direção a porta, parando ao lado de Claire para dizer suas últimas palavras antes de sair:
- Se eu fosse você, pintaria o cabelo. Aparentemente, ele gosta das morenas - Amélia disse e saiu, deixando Claire sozinha no escritório.
Claire encarou o chão embaixo de si, absorvendo as palavras de Amélia. Ela estava certa. Poderia ser qualquer uma se, de fato, fosse a mesma pessoa cometendo todos esses crimes. E, provavelmente, era. Amélia não era somente uma policial, ela era a delegada de polícia da cidade e se ela suspeitava que era a mesma pessoa, deveria ser. Durante toda sua vida, Amélia havia se preparado para aquilo e Claire confiava na sua capacidade e, sabia que ela só havia ido ali pedir ajuda porque ela precisava da análise de Claire para com esse caso delicado.
Claire sentiu um súbito de culpa por ter negado ajuda a Amélia. Ela tinha conhecimentos suficiente para analisar as cenas de crime e deduzir as características do assassino, tinha estudado para aquilo a vida inteira, mas ela não conseguiria lidar com o que a outra havia pedido. Ver fotos e vítimas sem vida era demais para ela; claro que ela já havia visto cenas de assassinatos antes, mas na TV. Ela não tinha estruturas para lidar com aquilo ao vivo, ver a crueldade de alguém refletida no corpo da vítima, fazia crescer uma angustia sem igual nela.
Claire despertou-se de seu devaneio com o barulho que o carro de Amélia fez ao sair de frente do escritório. Percebendo que estava sozinha, Claire caminhou rápido até sua bolsa, procurando algo para prender seu cabelo para, logo em seguida, juntar todos seus relatórios e colocar sem cuidado nenhum dentro da bolsa. Direcionando-se para a porta, parando ao sentir seu telefone vibrar no bolsa traseiro de sua calça, Claire o puxou para ver uma ligação de Paul, a qual ela ignorou, desligando o telefone. Ela não poderia lidar com ele agora.
Com sua bolsa sobre o ombro, Claire fechou as portas do escritório e caminhou até seu carro em passos largos enquanto empurrava algumas mechas de seu cabelo no rosto, entrando em seu carro logo em seguida, respirando o ar quente do veículo, livrando-se daquele que ela nomeava como "frio maldito" que fazia lá fora. Relaxou sobre o banco de couro e seguiu para casa pela rua escura.
Depois de estacionar seu carro perfeitamente em sua garagem do prédio, Claire seguiu até o elevador que a levaria para seu apartamento, onde ela encontraria Paul sentado em frente a sua porta, esperando-a.
- O que está fazendo aqui, Paul? – perguntou Claire, passando a mão pelos cabelos, buscando a calma para lidar novamente com Paul. A situação estava cada vez pior e ela temia ter que contar para ele algo que ela havia escondido, algo que ela não queria que ele soubesse.
- Você disse que ia atender quando eu ligasse – exclamou ele ainda sentado no chão com seu colo coberto por um buquê de flores vermelhas como sangue e na sua mão esquerda uma garrafa de vinho tinto pendia-se, apoiada pelo chão.
- Minha bateria acabou – mentiu.
- Porque você fica me evitando? - perguntou Paul levantando do chão trazendo consigo as flores e o vinho.
- Nós já tivemos essa conversa, Paul – Claire afirmou abaixando o olhar e seguindo até a porta, destrancando-a e entrando dentro de seu apartamento.
- Não, nós não conversamos – Paul disse entrando atrás de Claire.
- Eu não te convidei para entrar – Claire rebatou sem paciência e se perguntou como havia conseguido lidar com a insistência de Paul por todo período em que namoraram.
- Sorte sua que eu esperei você chegar, porque eu poderia simplesmente entrar, já que eu ainda tenho a chave – Paul sorriu vitorioso vendo a impaciência refletida no rosto de Claire.
- Se eu descobrir que você entrou aqui, eu chamo a policia, vai ser invasão de propriedade privada. – Claire ameaçou entrando no apartamento e fechando a porta atrás de si.
- Eu trouxe isso para você – disse Paul estendendo o buque de flores para ela, ignorando sua ameaça.
- Obrigada, eu ainda tenho as da semana passada – disse Claire tirando o casaco e pegando o buquê logo em seguida.
- Eu achei que você gostasse de flores – rebateu Paul.
- Eu gosto, mas não gosto de recebê-las do meu ex – mentiu Claire, virando de costas para ele. É claro que ela gostava, só não gostava de admitir.
- Eu ainda poderia ser seu atual – murmurou Paul, aproximando-se dela.
- Eu tive um dia cheio, Paul. Quero só tomar um banho e dormir, então, você poderia, por favor, dar o fora daqui? – perguntou ela se virando para ele novamente.
- Mas a gente nem abriu o vinho ainda – disse ele levantando o vinho em sua mão e indo até a cozinha, voltando logo em seguida com duas taças, entregando uma para Claire e despejando o vinho dentro desta. Claire aceitou de bom grado, tomando um primeiro e longo gole do vinho, sentindo que iria precisar de bastante álcool aquela noite.
Uma hora depois a garrafa de vinho estava no seu final, enquanto Paul e Claire riam e comentavam de um filme de comédia do Adam Sandler, jogados no sofá da sala dela. Claire encarou Paul que ria de uma piada que definitivamente não era engraçada, observando seus dentes brancos à mostra em seu sorriso frouxo e seu peito nu que se movimentava de acordo com sua risada. Ele estava ridiculamente lindo aos olhos bêbados dela.
É desnecessário alguém ser bonito desse jeito, pensou ela. Então ele virou o rosto ao perceber que ela o observava e passou a mão sobre o cabelo de Claire, sorrindo para ela de um jeito genuíno e único. Sem pensar duas vezes, ela puxou o rosto dele para perto do seu e o beijou com fervor, um fervor que ela sentia há tempos.

[...]

Claire acordou com uma claridade estranha que incomodava seus olhos, sentindo todo seu corpo dolorido e cansado. E, em uma tentativa de se livrar da luz do sol, ela puxou um travesseiro colocando em cima de seu rosto, conseguindo abrir assim os olhos, uma vez que agora estava escuro, enquanto tentava se lembrar do que havia acontecido. As cenas da noite anterior lhe vieram rapidamente assim que sentiu algo se mexer ao seu lado na cama e seu estômago rodou ao lembrar de tudo. Vinho. Paul. Sexo. E, sexo novamente.
Por um segundo Claire sentiu que ia desmaiar, mas tentou se controlar. Precisava tirar Paul dali agora, ela não iria conseguir lidar com todo drama de uma DR matinal com Paul, não quando a cabeça dela doía daquele jeito.
Claire tirou o travesseiro do rosto bruscamente, forçando seus olhos a ficarem abertos e encararem Paul deitado ao seu lado, caído em um sono profundo e toda a bagunça que vinha com aquilo. Ela sentou-se na cama, sentindo o quarto girar em sua frente, mas assim que se recuperou da leve tontura, não pensou duas vezes e a acertou Paul com o travesseiro. Entretanto ele só resmungou algo que ela não compreendeu e virou o rosto para o lado contrário e continuou a dormir.
- Acorda, Paul – disse ela sacudindo-o até ele acordar.
-O que foi? – ele perguntou desnorteado, levantando a cabeça para olhá-la.
- Você precisa ir embora – disse ela.
- Claire, relaxa, eu... – ele começou a dizer, mas ela o interrompeu.
- Agora, Paul! – disse ela.
- Bom dia para você também, Claire – disse ele enquanto se levantava e lhe sorria malicioso percebendo que ela estava sentada nua na cama.
Quando se deu conta do que ele observava, Claire levou um susto e puxou o lençol para se cobrir antes que ele tentasse outra coisa com ela.
- Eu já vi antes – comentou ele malicioso.
- Vai embora, Paul – ela disse sem olhá-lo.
- Eu posso tomar um banho antes, pelo menos? – pediu ele e ainda sim ela não o encarou.
- Só sai da minha frente – Claire ouviu uma risadinha vindo dele e virou-se para olhá-lo de costas nu a caminho do banheiro. Claire sentiu sua pele queimar de vergonha e se jogou de volta na cama pensando no que ela havia feito com ele na noite anterior, mas assim que ouviu a aguá do chuveiro decidiu que não deveria pensar naquilo, havia sido um erro. Um erro grave que não iria se repetir. Com esse pensamento Claire se enrolou no lençol e foi até a cozinha em busca de aguá para engolir um pequeno remédio de dor de cabeça.
Enquanto tomava o remédio, Claire pensou em como iria atender seus pacientes aquele dia com tamanha dor de cabeça e que horas já seriam. Quando terminou de beber sua água, colocou o copo sobre a pia e foi em direção a sala em busca de seu celular para checar a hora. Ao encontrar o aparelho, Claire franziu o cenho ao se deparar com quinze ligações perdidas de Kathryn e cinco mensagens de voz da mesma. Um sentimento de angustia pairou sobre Claire que não perdeu tempo e logo ligou para Kathryn.
"Oi, você ligou para a Kathryn, no momento eu não posso atender ou não quero te atender, então deixe um recado que talvez eu te retorne."
A voz de Kathryn soou animada e a ligação de Claire logo caiu na caixa postal, mas ela não se deu ao trabalho de deixar uma mensagem de voz, Kathryn ainda devia estar dormindo. Então resolveu ouvir as mensagens que ela havia deixado para saber do que se tratava.
"Oi, Claire. Você ainda está no escritório? Se estiver, venha me buscar, por favor, Paul O Stalker me deixou paranoica e acho que estou com medo de dormir sozinha. Me liga!"
Claire engoliu seco ao ouvir o nome de Paul e pressionou o botão para ouvir a mensagem seguinte:
"Eu acho que estou paranoica de verdade, venha me buscar, já estou começando a ouvir coisas."
A voz de Kathryn ainda soava alegre, num tom de brincadeira e isso tranquilizava Claire, que seguiu para mensagem seguinte:
"Não é hora de bancar a difícil, senhorita Claire. Me ligue, sua vaca... Por favor!"
Claire soltou uma risada fraca ao ser chamada de "vaca" por Kathryn e então seguiu para a próxima mensagem:
"Claire, é serio, eu estou saindo de casa e indo para ir..." A voz de Kathryn parecia tensa e Claire sentiu um súbito tremor ao escutá-la. "... Acho que tem alguém aqui e eu estou ficando realmente apavorada..." ouviu-se um estrondo e um grito alto de Kathryn e o coração de Claire martelou dentro de seu peito e suas mãos começaram a tremer quando a mensagem acabou rapidamente, seguindo para a próxima onde ela só conseguiu ouvir barulhos desconexos e gritos de Kathryn.
Gritos e pedidos de ajuda.  



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