Claire expulsou todo o oxigênio que habitava seus pulmões, não se permitindo respirar por alguns segundos, nos quais ela sentiu o choque envolver suas terminações nervosas como já havia acontecido repetidamente nos últimos dias. Entretanto, a sensação de desespero desta vez era mais aguçada. Nunca em seus piores pesadelos – que aconteciam com frequência – ela imaginou que estaria naquela situação em que se encontrava.
Ela se limitou a ficar ali sentada, encarando as mãos trêmulas e com as palmas molhadas de um suor frio, o sentimento de impotência e medo do desconhecido massacrava sua consciência já constantemente abalada, enquanto ouvia grunhidos raivosos de Amélia, que pareciam distantes devido ao sangue que agora pulsava em seus ouvidos.
- Um corpo não some assim do nada. O que aconteceu?! – perguntou Amélia exasperada encarando os dois rapazes posicionados em frente à sua porta em posturas desconfortáveis e preocupadas.
Por alguns instantes, Claire sentiu vontade de acompanhar Amélia e praguejá-los, e exigir respostas como ela já estava fazendo, porém, se conteve. Aquele não era seu papel, apesar de ansiar por respostas assim como Amélia fazia.
- A pessoa conseguiu passar despercebida pelo segurança. Só descobrimos agora pela manhã – explicou Oliver curvando os seus ombros largos em um movimento intimidado.
- Que tipo de segurança de merda é esse? – questionou.
- Ele disse que não viu nada – disse Oliver com um ar de desconfiança.
- Não viu? O que ele estava fazendo? Dormindo ou batendo uma punheta nojenta no banheiro? Um corpo daquele tamanho não desaparece sem ninguém ver!
- Eu sei. O prédio tem câmeras de vigilância que vão ser olhadas para que se possa ver o que de fato aconteceu – tranquilizou Wren.
- Eu quero essas imagens agora!
- Não dá, primeiro a equipe de segurança do laboratório vai analisar as câmeras para saber se o segurança teve algum envolvimento, só então irão liberar as imagens para a polícia.
- Eles podem fazer isso? – perguntou Claire se pronunciando pela primeira vez depois de seu longo momento de silencio.
- Podem.
- Filhos da puta! - praguejou.
Claire esfregou suas unhas em seu couro cabeludo, arranhando-o e sentindo uma leve ardência tomar de conta do topo de sua cabeça. O nervosismo fazia sua boca ficar seca e suas pálpebras se contraírem enquanto ela encarava a figura de Amélia, que mantinha seus olhos fixados nos dois de modo perturbador.
- O que fazemos, Amélia? - perguntou encarando a mulher que tinha suas bochechas rosadas e testa franzida abaixo de seu cabelo laranja.
- As pessoas não podem saber disso. Vamos tentar pegar essa pessoa primeiro, ver as imagens nas câmeras, tentar definir quem é e não deixar isso vazar para a imprensa, muito menos, para os pais dela - disse esfregando o lábio inferior com seu dedo indicador.
- Não podemos esconder isso - protestou Claire.
- A mídia está caindo encima de mim, Claire - rosnou.
- Então, você vai esconder isso para se proteger? - questionou no mesmo tom.
- Não, eu estou escondendo isto para salvar esta investigação. A imprensa já atrapalhou demais, agora isto está em outro patamar, dois assassinos, um corpo desaparecido... Não posso permitir que eles arruínem tudo. Agora você vai fechar essa sua boca e fazer como eu mandar... Todos vocês - o dedo de Amélia que antes jazia sobre seu lábio, agora, apontava em direção aos três e sua voz ecoava raivosa pelos quatro cantos da sala. - Primeiro, eu vou mandar uma equipe para descobrir que porra foi que aconteceu e, eu espero descrição dos outros funcionários, Wren - disse ela e ele confirmou balançando a cabeça - Segundo, não contem isso para mais ninguém, além dos policiais e funcionários do laboratório, sigilo absoluto. Eu não quero que mais pessoas fiquem sabendo, até descobrirmos o que as câmeras gravaram. Terceiro, você vai ter que ficar fora da área dos repórteres, Claire. No mínimo, por quarenta e oito horas. Eles me cercam, mas pelo menos, posso fazer com que os policiais se livrem deles, você não.
- Eu não posso sumir assim. Kathryn está sumida e você quer que eu não faça nada! - disparou irritada.
- Eu não quero, eu estou mandado. Não há nada que você possa fazer, vá para casa e se tranque no quarto pelos próximos dois dias, será que você consegue fazer isso? - perguntou.
- Não! - sua negação pareceu causar efeitos drásticos no ego de Amélia que bufou atiçando, automaticamente, sua ira.
- Mas, vai ter que conseguir.
- Isso não é justo, Amélia. Eu quero ajudar - declarou.
- Você vai ajudar ficando longe, a última coisa que eu preciso é de repórteres, Claire. Eu vou encontrar a Kathryn, mas eu preciso que você me ajude dessa maneira.
Claire encarou Amélia e a sua expressão era de urgência, assim como a que estava estampada em seu rosto na noite que ela viera até seu escritório lhe pedir ajuda com os casos e, ela sabia que Amélia nunca iria lhe pedir nada se realmente não precisasse, então, ela não poderia fazer nada além de concordar com tudo que ela estava propondo.
- Eu acho que ficar em casa não vai adiantar. Andrew encontrou meu escritório, ele pode encontrar meu apartamento facilmente... Eu acho que vou para a casa do meu pai - respondeu ela.
- Não precisa tomar medidas tão drástica - respondeu Amélia, assustando-se.
Claire havia contado para Amélia toda a história com seu pai em um dia de inverno severo que passaram juntas na faculdade, trancadas no quarto, bebericando o resto de uma garrafa de uísque barato que Amélia havia comprado em uma loja de posto de gasolina, em meio aos sussurros de Claire, que contava tudo sobre o relacionamento com seu pai como se fosse um segredo sujo que só ela poderia escutar. Depois de ouvir tudo com uma atenção exagerada e uma testa franzida,Amélia tomou outro gole da bebida e soltou um: "Ele é um merda". E, dentro de sua cabeça, Claire concordou:
Sim, ele é um merda.
- Não é uma medida drástica. Recebi um telefonema de que ele está doente, de qualquer modo, preciso ver como ele está - explicou.
- Sim, não deixe que você perca o espetáculo de vê-lo morrer - respondeu amargurada e Claire assentiu, como se ela merecesse presenciar aquele acontecimento, de fato.
[...]
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Strangler
Mystery / ThrillerSINOPSE: Claire Williams é uma jovem psicóloga, apaixonada por Criminologia, que impulsionada pela morte de sua mãe, sempre quis trabalhar com o conhecimento direcionado ao crime e com o quadro psicológico dos delinquentes, porém, ela opta por segui...