Capítulo Cinco - One Named Peter

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Todos encaravam Amélia que observava o corpo de Kathryn sobre a mesa de ferro frio, gravando cada detalhe de sua pele pálida. Uma inquietude sobrenatural borbulhava no peito de Claire, enquanto ela sentia um peso enorme desabar sobre sua cabeça. Um enjoo momentâneo atravessou seus estômago. Sentia-se idiota por estar ali, sua consciência voltando à sua superfície brutalmente com as palavras de Amélia. A sensação de que deixará algo passar era esmagadora, fazia seu pulso acelerar e seu corpo ficar anestesiado enquanto olhava o cadáver estendido em sua frente.

- Tem certeza, Amélia? - o primeiro a perguntar foi Wren, buscando seu rosto com cautela. Obviamente, ela era uma figura a ser respeitada por todos ali, confiavam em suas palavras e percepções como os religiosos confiavam no que estava escrito na Bíblia. E, Claire não poderia negar que Amélia sabia o que fazia, apesar de ter pedido sua ajuda, esta não precisava de ninguém para ver detalhes imperceptíveis para alguns.
- É totalmente possível. - Oliver respondeu por Amélia, mexendo nos óculos que repousava encima de seu nariz fino.
- Talvez ele tenha fraturado um dos braços ou a clavícula enquanto invadia - especulou Asher abaixando sua câmera e gesticulando com a mão livre com dificuldades de encarar os fatos.
- Se ele tivesse quebrado ou faturado algo daria para saber - respondeu Wren.
- Não acharam nenhuma digital? - perguntou Amélia e Juliet se aproximou dela, ao lado do corpo de Kathryn.
- Não, nem mesmo por conta da água.
- A pessoa deve ter dado banho nela com luvas, provavelmente, tinha dois pares. E, tinha estudado, pois sabia exatamente o que fazer.
- Não vamos tirar conclusões precipitadas, Amélia - disse Claire do fundo da sala.
- Eu não tenho tempo para conclusões precipitadas, Claire. Eu preciso de certeza. Eu tenho uma coletiva de impressa para fazer, o que eu vou dizer? Vou dizer que foi ele quando tem evidências de que não foi?
- Claramente, nós precisamos examinar as coisas direito. Wren, por favor, recolha o corpo - disse Juliet soando calma, como se tentasse passar tranquilidade para todos na sala, entretanto, não funcionava com Claire, que sentia seu corpo chacoalhar enquanto tremia de frio e tensão. Wren assentiu e com a ajuda de Oliver recolheu Kathryn.
- Como Amélia disse... - continuou - Uma coletiva de impressa está marcada para falar sobre o caso.
- Não consegue adiar isso? - perguntou Claire, cruzando os braços sobre o peito, lutando para se proteger do frio da sala.
- A imprensa é uma desgraça. E, a polícia precisa se pronunciar, mesmo que eu não tenha nada concreto. Estamos falando com os vizinhos, para descobrir algo, mas até agora não tivemos nenhuma informação e, eu não posso adiar até que tivemos. A coletiva influencia as pessoas a ajudarem na investigação, fazendo denúncias. Precisa ser feito.
- A coletiva precisa acontecer. Mas, você não precisa dar muita informação, diga que a polícia está investigando e que não se tem um suspeito definido - disse Juliet.
- Mas, o que ela vai dizer quando perguntarem se esse crime está relacionado aos anteriores? Porque, com certeza, irão perguntar - indagou Asher.
- Repórteres são nojentos - resmungou Amélia.
- Diga que ainda estão investigando. Enquanto isto, como vamos seguir com a investigação? - perguntou Juliet olhando para Amélia.
- Claire descobriu uma coisa. Vamos. - disse seguindo para fora da sala, parando para tirar seu macacão e soltar sua longa camada de cabelos ruivos que voavam pelas suas costas. Claire fez o mesmo e a seguiu para fora do laboratório, enquanto Amélia prensava um cigarro entre os lábios pintados de vermelho e o acendia com o isqueiro de ferro, que ela enfiara dentro do bolso traseiro de seu jeans antes de entrar no carro; tirou o cigarro da boca soltando uma fumaça densa dando partida no carro.
- O que você quer que eu faça, Amélia? - questionou Claire enquanto Amélia passava o cigarro manchado de batom vermelho para ela.
- Mostre a eles sua teoria, vamos focar na fonte do problema, por enquanto. Depois lidamos com o copiador - disse girando as mãos no volante, enquanto Claire dava uma tragada no cigarro, sentindo o gosto de hortelã com batom da boca de Amélia, inalando a fumaça e a expulsando para fora, em seguida.
- Você acha que é um copiador? - indagou.
Amélia permaneceu em silêncio enquanto pegava o cigarro de volta das mãos de Claire e tragava novamente.
- A pessoa, claramente, sabia o que fazer e como ele faz - soprou a fumaça para fora de sua boca deixando o carro ser invadido com o cheiro de tabaco e continuou: - Talvez tinha motivos pessoais com Kathryn e a matou, ou só está querendo seus quinze minutos de fama às custas dele. Entretanto, duvido que seja a primeira opção, tudo que eu consegui arrancar dos vizinhos dela até agora é que não viram nada e que Kathryn era uma ótima pessoa. Acho que esse copiador só quer tirar proveito, usando os mesmo truques que ele para que pensássemos que, de fato, foi ele. O assassino dessa garota deve ter achado que ela é um tipo de porco, definitivamente não foi ele. Eu concordo com sua teoria.
- Minha teoria pode estar errada. Ao contrário do que se mostram em programas de TV, psicólogos forenses ou peritos não são exatamente os fodões, não sabemos absolutamente tudo - respondeu Claire pegando o cigarro de volta das mãos de Amélia, dando outra tragada.
- Certo. Você são uns bostas. Mas, vocês têm percepção e, essa é chave de tudo. É uma ferramenta que aponta para os dois extremos, faz com que você entre na cabeça dele.
- Ele é perturbador - disse Claire vendo a fumaça se dissipar em frente de seus olhos.
Amélia acelerou o carro até voltar a delegacia que estava bombardeada de repórteres esperando por ela. Claire desceu do carro mantendo a cabeça baixa enquanto se esquivava entre gritos e flashes disparados em suas direções. Perguntas como "quem é ela?" e "ela faz parte da investigação?" foram gritadas, entretanto, nenhuma foi respondida por Amélia, que seguiu seu caminho até entrar na delegacia, ignorando-os, seguida por Claire.
Quando sentiu o calor habitual do ambiente, Claire suspirou de alívio por se livrar dos repórteres. E, ela sentia que teria de se acostumar com o aglomerado de repórteres que cercavam Amélia e, que dali um tempo, a cercariam também.
- Mandem esses filhos da puta se afastarem - bufou Amélia para um dos policiais que estavam parados junto às portas de entrada, o mesmo assentiu e se retirou pelo mesmo caminho em que elas acabaram de entrar.
- Eu vou cuidar de todas as outras pendências depois da coletiva de empresa - informou para outro que somente assentiu e ela se voltou para Claire.
- Vamos falar com os outros. Eu quero que você participe da coletiva, como parte da minha equipe e como amiga pessoal da Kathryn, já que os pais dela não estão bem o suficiente para isto ainda - disse e as duas seguiram para a sala onde continua todos os materiais da investigação.
Quinze minutos depois a sala estava amarrotada com Wren, Oliver, Juliet e Asher. Então, ela se posicionou em frente a todos, com os arquivos empilhados sob a mesa. Enquanto Claire observava os olhos ansiosos de todos, sentia como se estivesse de volta na escola, apresentando um trabalho em frente à classe e, toda a apreensão que sentia nesses momentos voltou com tudo, num grau mais avançado da coisa, fazendo suas mãos suarem e sua garganta travar, enquanto viaAmélia com seu olhar de "não faça merda" em sua direção.
- Bom... Eu venho tentado analisar tudo que está nessa sala... - começou ela gaguejando um pouco, fazendo Amélia revirar os olhos com impaciência e Claire pigarrou e continuou com a voz mais firme: - Aqui está a mente dele. Não há dúvidas disso. A pessoa que fez isso é meticulosa, organizada e extremamente inteligente. Não pensem que ele age com impulso, isso não se trata de crimes de ímpeto. São crimes com uma perversidade especial, exige planejamento. E, ele é inteligente e rápido. Ele as conhece, sabe o que elas gostam, onde trabalham, quando estão em casas sozinhas... Ele é um ótimo perseguidor e, é rápido. Os intervalos entre os crimes não são grandes, são de semanas. Tenho certeza que estes não são os primeiros crimes, ele já matou antes, tem prática. Tudo é muito organizado, não existem rastros, ele as escolhe com cuidado. Eu tentei achar características que as liguem, além da aparência, mas, a verdade é que apesar dos cabelos castanhos, elas são muito diferentes, não existe um padrão perfeito de vítima para ele. Exceto em algumas coisas...
- O que? - Asher a interrompeu ansioso pela informação.
- Profissão - respondeu Claire e todos a encararam como se o que ela havia dito fosse a coisa mais ridícula que poderia ser dito.
- Elas não têm a mesma profissão - Wren comentou.
- Sim. Mas, todas são bem sucedidas dentro de cada área, olhem - disse ela levantando a pasta de uma das vítimas. - Rachel Northern, advogada. Quem não a viu na TV falando do caso dos Boltons? E, Scarlet Ness, corretora de imóveis - pegou outra pasta.
- Uma casa que ela vende é o salário do ano inteiro de todos nós juntos... - comentou Amélia bufando.
- Vendia - corrigiu Claire.
- Mas, o que isso tem a ver com os assassinatos? - perguntou Oliver.
- Ele é um sádico, pelo jeito que mata dá para perceber. Ele gosta que elas estejam submissas a ele, do jeito que ele gosta. - explicou Claire - Mas, elas são mulheres bem sucedidas, a independência financeira dá as mulheres uma liberdade muito maior, faz com que nós não sejamos tão dependentes dos homens. Isso o incomoda.
- Incomoda o suficiente para que ele as mate - completou Amélia.
- Faz sentido - Oliver comentou baixo.
- Todos os crimes aconteceram em bairros de classe A, onde há muitas casas de luxo. Não são locais afastados, aumentando a possibilidade dele ser visto - continuou Claire apontando para o quadro que mostrava o mata de Chicago com as locações de cada crime marcadas com um círculo vermelho sangue. - Eu realmente duvido que ele vá continuar a matar em suas casas. Por mais discreto que ele possa ser, é muito arriscado. Ele vai matar de novo, mas vai ser diferente.
- Então ele as mata para se vingar? - perguntou Asher deixando um riso nasalado escapar, transparecendo seu incomodo.
- Ele não quer se vingar ou destruí-las, quer possui-las. - Claire continuou: - Ele quer saber que tem toda a situação em controle, que a tem completamente submissa, com isso ele se sente forte. Não tem nada mais poderoso que tirar a vida de alguém, estar no controle disto, sabendo que pode aumentar ou acabar com o sofrimento dela, saber que tem este poder e vê a vida fugindo do corpo dela faz com que ele se sinta Deus.

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