Um homem se perde nos olhos de uma mulher

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"Joel?" A voz da mulher soou pelo corredor dos quartos no andar de cima da casa. Ela estava no quarto de Sarah, conferindo se estava tudo bem com a menina e se ela precisava de algo. Cedinho pela manhã, Ana sabia que ela não ia acordar e principalmente naquele feriado. O homem saiu do quarto, sonolento. Passou a mão no rosto, coçando a barba por fazer. "Aconteceu alguma coisa, querida?"
Ana deu um sorriso de canto ao ouvir ele, negou. "Só para dizer que o meu pai vem hoje a noite."

Joel dobrou uma das pernas, escorando as costas na porta atrás dele. "Sebastian vem mesmo?". "Sim, ele me pediu ontem a noite e como eu achei que você não fosse ligar, eu disse que ele podia vir." Explicou, juntando algumas roupas sujas de Sarah num cesto de roupas. "Fiz bem?". Ele acenou, deixando um sorriso iluminar o rosto amassado do sono pesado.

"O que vai fazer agora?" Joel perguntou, quase a vendo descer pelas escadas. Ana parou no degrau em seguida, apoiando o peso do cesto na perna. "Como ontem eu já deixei tudo meio preparado pra hoje, então acho que só vou terminar de assar o peru, acabar as sobremesas e limpar tudo depois." Ele franziu a testa, achando o 'só' dela bastante. "Quer a minha ajuda? Não sei se consigo dormir de novo." "Mas é claro que eu quero. Eu ia acordar a Sarah, mas aí eu pensei que ela iria ficar insuportável a manhã inteira e ia dormir no meio do jantar. Então deixei ela dormir." "Tudo para não despertar a fera que existe dentro da minha linda filha." Os dois sorriram olhando um para o outro.

Num silêncio de se deleitar, Joel viu algo no rosto calmo e nos olhos verdes da mulher que não costumava ver. Ana, percebendo o olhar dele sobre ela, sentiu um leve arrepio percorrer a sua espinha e não pode se preservar da vontade de querer ser encarada assim por ele mais vezes. "Ahn... eu... digo, você vai descer agora ou ainda vai escovar os dentes?" Se saía das suas fantasias majestosamente, jogando para escanteio qualquer perturbação do anjinho maléfico particular, que de um ano para cá a fazia ver coisas indecentes.

"Vou tomar um banho e te ajudo. Certo?" Joel não era cego. Ele percebeu o que tinha provocado nela em seu rápido vislumbre, mas também não gostou do que sentiu. Malditos sentimentos estranhos. "Sim, banho, você vai tomar banho. É isso aí." Ana não sabia disfarçar. Prendia os lábios com força, balançando a cabeça numa infinita concordância com o que ele havia dito. "Tá, eu vou entrar agora e te vejo em alguns minutos."

Admitindo a frustração para ela mesma, bateu a cabeça na parede da escada se castigando, mas o que ela não esperava era que a parede fosse tão dura quanto a sua linda cabecinha, fazendo um barulho que reverberou pelo quarto mais próximo, o de Joel. "Se machucou, Ana?" Ele voltou preocupado. "Não." Disse ela claramente machucada. "Tem certeza?" "Sim."

Parecia algo recente esse interesse de Ana por Joel, mas não era. Sem querer afirmar que estava apaixonada por ele, e talvez não estivesse, ela sabia que o homem quatorze anos mais velho do que ela fazia o seu corpo tremer. Joel tinha um charme e carisma só dele, algo parecido como dominador, alguém forte e capaz de proteger a família dava a impressão para todo mundo que conseguia lidar com qualquer problema. Joel era bem atraente e ela vivia com aquele martírio de viver boa parte do seu tempo ao lado de uma tentação.

"Eu vi que fez três doces. Então fez pra cada um de nós uma sobremesa diferente?" Joel havia tomado seu banho e agora estava na cozinha, tomando um gole do café preto feito por ele. "Da última vez eu só fiz uma. Dessa vez eu quis agradar todo mundo." "Como se você não fizesse isso sempre."

Ana não gostava quando ele achava demais o que ela fazia por eles. Cada coisa era como um ato de carinho e uma forma de dizer obrigada pelos anos que eles foram o seu lar. "Tem algum problema com isso, Joel? Depois de todos esses anos pensei que soubesse que pra mim não é um incômodo." Ela começava a por as roupas na máquina e bateu com força a tampa ao terminar. "Desculpa." Ela pediu subitamente arrependida. "Além de vocês e o meu pai, quem eu quase nunca vejo porque tá sempre ocupado com algo, eu não tenho ninguém." Uma fisgada a fez parar de falar, a dor de cabeça voltou a atormenta-la intensificada pela batida na parede. Ana colocou a mão na cabeça apertando a têmpora. "Me desculpa se eu pareço intrometida sem querer."

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora