Vivendo o momento presente

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Quinta-feira,
01 de Agosto de 2002.

Meia noite. Havia conferido o relógio no pulso de Joel. Ele estava largado no sofá, um dos seus braços ao redor do meu pescoço, enquanto seus olhos descasavam e ele começava a roncar. Do outro lado da sala, Sarah tirava da mochila os cadernos e o estojo, dando lugar para suas roupas. Ela estava longe, metaforicamente falando. Seu semblante leve e sua mente deviam fantasiar ou ansiar pela praia do condado de Kerr. Eu suspirei, completamente preenchida pelo sentimento de pertencimento.

"Ana?" Sarah levantou a cabeça em minha direção, me assustando. "Desculpa, achei que estivesse acordada." Pediu. "Eu estou. Só estava pensando de olhos fechados" Eu sorri e ela retribuiu o gesto, querendo continuar o que ia dizer. "Noite passada te vi no banheiro, você estava vomitando..." ela falou, fazendo uma pausa que me embrulhou o estômago. "Tá tudo bem?"
Continuou.

Divaguei, me distanciando do confronto que só eu sabia que era. Sorri mais uma vez, sabendo que ela não acreditaria no que eu diria em seguida. "Sim." Sarah mordeu o lábio inferior e levantou a sobrancelha direita. "Então por que começou a balançar os pés quando perguntei? Ficou nervosa?"

Rá! Eu baixei o olhar e encarei o fato que ela tomou atenção, coisa que nem eu tinha percebido antes. "Eu não estou grávida, se acha que é isso." Respondi automaticamente sem pensar no que estava dizendo, ou se Joel estava escutando. Ele mexeu a boca e coçou o nariz, roncando mais alto do que antes. Estava dormindo.

Sarah riu do meu desespero e brincou. "Não me importaria de ser a filha mais velha. Até gosto do título." Deu de ombros, voltando sua atenção para mochila. E eu gostava da ideia também. Receosa, passei minhas mãos pela minha barriga e neguei, lembrando da minha total impotência. "Hun, querida, eu não estou grávida, se é o que pensou. Sinto muito por te decepcionar agora."

Ela não pareceu se abalar na verdade, seu rosto abriu um sorriso ainda mais largo dessa vez. "Então se cuide. Não quero que minha mãe tenha uma disenteria antes de me dar um irmão de aniversário." Gargalhei dessa vez, a observando falar tal besteira com tanta sinceridade. Sarah Miller não estava brincando, mas era engraçada e me colocava em uma situação arriscada.

Eu não queria pensar em ter filhos agora. Mesmo amando Joel e amando aquela garota, eu não sabia como minha saúde estava e aquele sangue no vômito me fez repensar a forma como eu estava tratando a mim mesma. Tinha que ir ao médico, querendo ou não. Eu tinha uma família e se eu quisesse permanecer ao lado deles como eu fazia naquele momento, eu precisaria cuidar melhor do meu corpo e entender o que estava acontecendo dentro de mim.

"Ela te chamou de mãe." Uma e meia da madrugada. Sarah tinha pegado no sono e Joel estava pronto para levá-la até a cama. "Oi?" Perguntei sem entender. "Quando vocês estavam conversando na sala, eu achei que estava sonhando ou algo do tipo, mas tenho certeza de ter escutado Sarah te chamando de mãe." Joel subia as escadas e eu o seguia, certificando que não tropeçasse com a menina nos braços.

"Pensei que estivesse dormindo, seu fingido!" O acusei, cutucando suas costas sem machucar.

"Estava, mas era uma daquelas sonecas que a gente escuta o que acontece do lado de fora do sono." Ele esperou que eu abrisse a porta e passou por ela, apressando o passo até a cama. Cansado, suspirou quando finalmente conseguiu deita-la, puxando o cobertor para cobri-la.
"Eu não quis fazer um alvoroço. Achei que se eu chamasse atenção dela por ter me chamado assim, Sarah ficaria com vergonha. Preferi ignorar para que ela continue e se acostume assim, me chamando de mãe ou, melhor ainda, mamãe." Eu fiz questão de mostrar a ele o quanto era importante saber que ela confiava o bastante em mim para me tratar como sua mãe. Eu sorria boba pelo acontecido.

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⏰ Última atualização: Mar 17 ⏰

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