E os meses passam

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... Junho de 2000.

O ar quente do dia era perfeito para quem gostava dos presentes do verão. Eu atravessava o campus verde e lotado de estudantes, acenando para alguns colegas que compartilhavam aulas comigo. Quando o semestre iniciou há quase um mês atrás, tive certo medo em estar num curso onde boa parte dos meus colegas eram homens, o que me deixou surpresa no começo.

Pode parecer machista, mas estávamos na porra do Texas! O estereótipo masculino aqui com certeza não é aquele onde os homens cozinham para as suas mulheres, convenhamos... Então, ao mesmo tempo que tinha certo receio no ambiente cheio de músculos e cabelos penteados com muito gel, eu ficava contente e me divertia em ver os caras tomando cuidado para não acabar fodendo tudo ao estilhaçar os ossos de um ganso.

"Pode só... tirar isso aqui?" Harry King, uma das pessoas que tive o prazer de conhecer na festa do campus também fazia comigo uma disciplina do curso de Culinária. "Honestamente, não sei porque ainda estou aqui." Ele dizia, rindo de si mesmo ao notar o que fazia com as mãos dentro do ganso. Imagine uma forma constrangedora de fazer aquilo.

"Harry, não é assim que se recheia." Eu tentava ajudar, puxando a ave com força para baixo e libertando as mãos dele. "Que tal me falar o motivo de ter entrado, só pra começarmos?"

"Sabe a Carol?" Ele perguntou, lavando as mãos na pia do guichê ao meu lado. "A minha amiga, Carol?" Retruquei o óbvio, arrumando os legumes cortados para o prato que devíamos fazer como a tarefa pedida pela Professora Suárez. "O que tem ela?"

"Ouvi dizer que ela gosta de homens que cozinham." Harry respondeu com um sorriso discreto, mas extremamente malicioso nos lábios.

Mas é claro. Por que diabos um estudante de ciências contábeis estaria se desafiando ao enfiar as mãos nas entranhas de uma ave, mesmo odiando o fazer?

"Como diria Oscar Wilde... Tudo gira em torno do sexo, exceto o sexo. O sexo gira em torno do poder." Eu voltava a pegar o ganso, abrindo espaço entre as pernas do animal morto. "E a senhorita tem buscado muito poder esses últimos dias?" A pergunta saiu quase indecente da boca do cara, que se não tivéssemos algumas semanas de amizade, ficaria surpresa pelo inglês não ser tão cavaleiro como deveria ser.

Eu me contentei em o responder com uma longa revirada de olhos e um balançar de cabeça. "Isso não foi um não. Na verdade, me deu a visão de quando está praticando o ato. Revira muito os olhos, querida?" Harry provocou-me novamente, rindo quando notou minhas bochechas em chamas. "O cara tem sorte."

E gostava de acreditar que Joel pensava o mesmo. Ele era experiente, conseguia me fazer chegar nos limites no tempo que quisesse e fazia o calor queimar em mim sem nem tocar direito no meu corpo. Loucura se render a um homem como eu fazia, mas nunca fui uma mulher de controle, não seria agora com alguém que me dava orgasmos apenas usando os dedos.

"E sabe por que eu sei que ele tem sorte?" Harry aproximou-se de mim, que estava curvada, recheando o ganso enquanto tentava ver se tinha marinado a ave da forma certa. "Por que puta que pariu! Olha só como você pega na porra desse ganso." Os finos lábios daquele inglês falso se espremeram numa linha, prendendo uma risada forte e chamativa. "Seu idiota." Xinguei ao perceber alguns olhares críticos em nós, mas sem parar de pensar na conotação sexual do que fazíamos. "Idiota."

"Vai a escola com essa roupa?" Joel estava sério, comendo uma torrada e bebendo suco de laranja enquanto lia o obituário do jornal.

Sarah estava em mais um dos seus dias. Emburrada e fechada a todos, desceu as escadas até a cozinha e bateu a porta da geladeira, pegando leite e, em seguida, o cereal. Respirou fundo e soltou o ar, vendo o pai e parecendo pensar se ele estava mesmo perguntando aquilo. "Sim?!" Ela respondeu com certo desdenho.

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora