St. Edward's University

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"Não acha curto demais?" Perguntou Ana se olhando no espelho. "Acho que ficou bonito em você." Sebastian parava de ler o livro nas mãos para opinar no vestido preto e justo. Ela gostava da peça no corpo, mas sentia receio ao usar em público. Ana o puxava para baixo, tentando cobrir mais as pernas com o tecido. "Se não se sente bem usando ele, então tire."

Ana negou para ele. Ela se sentia bem, mas estava aflita. "É só que tenho medo de alguém tentar algo." Parou de mexer na roupa lembrando-se das vezes que fora assediada na época da escola por pessoas que provavelmente estariam naquela faculdade. Wilson colocou o livro no colo, baixando os óculos até a ponta do nariz. "Vestindo essa roupa ou não, ninguém tem o direito de encostar em você. E se alguém tentar, bem..." Sebastian falava de forma agradável, com tranquilidade na voz. "Dê um soco na cara do desgraçado e me ligue que eu vou correndo espancar o filho da puta."

Ela agradeceu o pai por a ter deixado um pouco mais tranquila. "E pare de esticar o vestido. Vai acabar ficando feio." Indicou o homem por último.

No caminho para a festa, Ana pensava em como a noite de ano novo prometia nada além de encontros desagradáveis e conversas rasas sobre como todo mundo no campus estava transando feito louco e fumando pra um caralho.

"Oiee!?" Carol a encontrou meio perdida na garagem da faculdade. "Faz muito tempo que chegou?" "Hm, não. Eu só não sabia onde estacionar." Ela explicou saindo do carro e colocando a pequena bolsa no ombro. "Você... tá uma... gata." A colega parecia chapada, falava lentamente quase tudo. "Ui!" Ela soluçou, logo se agarrando a cintura de Ana para não cambalear e cair. "Você tá bem?" Ana perguntou preocupada.

Carol vestia um short e a parte de cima de um biquíni cor de rosa que ao tocar na pele de Ana, dava pra notar que estava molhado. "É só soluço, fofa. Eu já bebi demais hoje." Eram 19:00 horas ainda. "Olha lá." Carol apontou para alguns caras bebendo ao lado de um Porsche.

De braços dados, as duas foram na direção deles, que sorriram ao ver a novata. "Eu te conheço. Você não é a Ana Wilson do colégio?" O mais baixo entre eles perguntou. "Eu sou o Ben Geller." Ana o olhou confusa, vendo se aquele baixinho de regata parecia familiar. "Ohh! O Ben baixinho!? Da aula de química que fez a bomba fedido?" "Isso mesmo!" Concordou com uma expressão genuína de felicidade ao lembrar do último ato palhaço no ensino médio. "Você ficou pra história depois desse dia." A morena comentou.

"Não vai apresentar a sua amiga?" O loiro de uns 1,80 ao lado de Ben o cutucou, dando alguns passos na direção das mulheres. Ele tomou o braço esquerdo de Ana e beijou as costas da mão dela. "Meu nome é Alex, gracinha." Alex fixou os olhos azuis nos dela, a deixando incomodada. "Olá Alex." Ana puxou a mão para si, o rejeitando. "Olá pra todos." Ben e os outros riram do amigo, que fechou a cara parecendo irritado.

As garotas conversaram por um bom tempo com os amigos de Carol. E apesar de Alex ter sido uma pedra no sapato, vez ou outra jogando desaforos para Ana sobre como era linda e como ele era azarado em não ter uma chance com ela, a mulher gostou de passar parte da noite com os outros. Além de Ben super carismático e engraçado, também tinha o estudante inglês Harry King e o nova-iorquino Oliver Armstrong. Os dois junto a Ben se mostraram adoráveis trapalhões, do tipo que brincam por tudo e fazem piada por qualquer coisa.

"Então Ana? Você não faz faculdade?" Harry perguntou recebendo um não em meio a um sorriso. "Você não quis entrar?" Ela pensou na pergunta. "É complicado. Acho que eu só não sabia direito o que eu queria fazer quando saí do colegial e acabei não entrando."

Ela era inteligente, era boa em matemática e contabilidade. Gostava de números, mas nunca foi seu objetivo trabalhar na área. Os orientadores educacionais quase a forçaram a escrever cartas para as faculdades e ela havia conseguido entrar em duas das cinco aplicadas, mas quando chegou a hora de começar a faculdade duas coisas a atrapalharam: Falta de dinheiro e falta de vontade de fazer algo que não queria pro resto da vida. Então resolveu se aconchegar naquilo que adorava e não precisava de dinheiro para fazer, cuidar de Sarah.

"Eu sinto muito. Quer dizer... muita gente vê a faculdade como um lugar pra fazer festa e bagunça longe dos pais, é só olhar a nossa volta." Harry dizia enquanto passava os olhos pelo campus lotado de jovens correndo e dançando com bebidas nas mãos. "E não tô falando que sou diferente, mas não dá pra negar que um diploma ajuda em muita coisa." Finalizou, dando um gole no líquido dentro do copo de plástico vermelho. "Aí que conversinha chata. Vamos pra piscina, Aninha!" Carol reclamou, puxando a cintura da garota. "Acho que se eu fosse entrar hoje, talvez eu tentaria outra coisa." Ana ignorou a relutância da colega bêbada e continuou a conversar.

"Meu pai tem influência aqui dentro." Oliver se manifestou. "Posso pedir pra ele te arrumar uma bolsa. Só vai precisar fazer uma prova." Ele estava sentado no capô do carro fumando um baseado. "Isso seria muito legal." Harry disse para o amigo. "É sério?" Ana perguntou a Oliver, duvidando do porquê o cara que nunca a tinha visto antes estaria ofertando algo assim. "Você parece uma pessoa boa. E também é amiga do Ben." Oliver respondeu, jogando a erva no chão e soltando pelo nariz o que estava no pulmão. "Vai recusar a caridade?".

A última palavra poderia ter surtido um efeito negativo nela, principalmente por odiar ter qualquer coisa de mão beijada. Mas de algum jeito, Oliver pareceu convencê-la com a forma calma e agradável de falar - provável influência das drogas. "E não seria tudo de graça. Se você passar na prova, teria que trabalhar como assistente de algum professor durante o curso." Parecia convincente o suficiente para Ben incentivar Ana a aceitar. "Vamos Ana! Conheço o Oliver há bastante tempo pra saber que é verdade. Você vai poder escolher de novo o que quer fazer."

Era uma proposta difícil de recusar. A mulher voltaria a estudar e poderia ter uma carreira consolidada dependendo do que escolhesse. Ana ficou incrédula, foi a faculdade com a ideia de ter uma noite terrível e agora via o quanto estava enganada. "Eu duvido que ela vá deixar de trabalhar pros Miller." Lembrou Carol com a cabeça deitada no ombro de Ana. Ela estava quase esquecendo do compromisso com Sarah e pela primeira vez ficou triste por ser babá.

Aquele dia estava sendo oficialmente O Dia Das Primeiras Vezes. Joel se sentindo envergonhado e agora Ana ficava triste por fazer o que mais gostava. Se culpou mentalmente por achar que estava pensando em trocar Sarah pela faculdade. "Você ainda é babá?" Ben perguntou. "Sim, eu não sei se consigo deixar aquela menina." Todos pareceram pensar no que ela havia dito. Existia um conflito de interesses notório na mente de Ana.

"Meu pai vai viajar semana que vem e depois disso o semestre vai começar e não vai dar pra você fazer a prova." Oliver voltou a falar, deixando óbvio para Ana que ela deveria se decidir logo. "Até lá você me avisa. Vou te dar o meu número." E assim fez. Pegou uma caneta de dentro do carro e anotou na mão dela o celular. "Obrigada." Ana disse agradecida. "Prometo que respondo em alguns dias."

A noite passou ligeira. Ana não bebeu nada, ficou responsável de Carol que em poucas horas precisou da ajuda da amiga para segurar o cabelo antes que jogasse todo o conteúdo do estômago para fora. "Feliz Ano Novo." A colega dizia deitada com a cabeça no vaso sanitário. "E que bom ano novo." Ana riu da situação, jamais imaginando que a virada do ano fosse ser tão cômica e nojenta. Ela iria usar aquilo contra Carol em algum momento da vida dela, porque se fossem se tornar amigas de faculdade, Deus! Ela não perderia por esperar.

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora