"Nós somos família"

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Meu coração palpitou e de repente tudo o que eu via era um grande borrão. Eu não podia passar mal agora, não me permitiria acabar com a noite que eu havia planejado.

"Está tudo bem. Vamos, respire."

Mas lá estava ele com as mãos nas minhas e me guiando até o jardim. Seu sorriso no rosto me transmitia tranquilidade enquanto as mãos frias relaxavam a tensão crescente nos meus ombros. Eu sorri quando seus dedos arrumaram os fios de cabelo atrás da minha orelha e soltei um longo suspiro de alívio.

"Estou um pouco nervosa." Eu disse o óbvio, baixando as mãos até o colarinho da camisa branca dele.

"É, eu sei." Senti os lábios de Joel tocarem o topo da minha cabeça, ele abraçando os meus braços e apertando o meu corpo no dele.

Havia deixado Sarah no banho e Tommy ainda não tinha chegado do turno duplo na empreiteira, então estávamos tento a liberdade em estar juntos num lugar onde qualquer um poderia nos ver. No entanto, minha mente não estava no abraço como eu gostaria.

Aquele receio nunca esteve tão presente na minha cabeça todavia, não era, exatamente, um medo. Nunca fui alguém de me importar com a opinião dos outros, mas tudo ficava diferente quando começava a me jogar no mar inexplorado de relacionamentos da família Miller. Não lembrava de um dia ter conversado sobre o assunto com Sarah, se ela estaria aberta ao fato do pai namorando e, principalmente, namorando a garota que foi babá dela por tanto tempo.

"Não vai abandonar o navio agora, não é?" Escutei a voz de Joel no meu ouvido e levantei a cabeça sem entender.

"O quê?"

"Está muito pensativa." Ele relatou, tomando meu rosto nas mãos e acariciando minhas bochechas. "Só quero que esteja comigo e confie em mim, okay?"

A pergunta soou mais como uma afirmação, o que me fez concordar e arquear a coluna o suficiente para o roubar um beijo, contornando o pescoço de Joel com os braços e aprofundando o contato esmagador das nossas línguas no sabor um do outro.

"Okay." Meu sorriso foi visto por ele após a perda do fôlego, consequência rotineira das nossas trocas nunca suaves de carícias. "Eu te amo, Joel."

A frase saiu de mim de uma vez. Despejei a ansiedade nas palavras e nem esperei correspondência. Eu o amava desde o momento que compreendi que não era só paixão e nem desejo adolescente. Todos os últimos anos ao seu lado me moldaram como ser humano e me fizeram ser uma mulher melhor, não para ele, mas me surpreendi quando entendi que ele era o cara que eu mais queria ao meu lado. Joel não era único, tanto ele quanto eu sabíamos disso, Joel era alguém mais velho, com traumas, um homem com uma filha pra cuidar e um irmão mais novo que ele tentava guiar. E apesar disso, eu o queria segurando a minha mão, sendo o bom ouvinte que ele era e me dando suporte tanto quanto eu daria em suas fases ruins, porque amar para mim era isso.

"Eu também te amo." Joel fungou antes de mostrar os dentes novamente. Aquele sorriso que me lembrava maresia, a sensação gostosa e acentuada que o vento causava ao bater nos ombros, dando arrepios. Joel era o meu mar nunca antes visto, ele era minha praia, era sinônimo de paraíso.

Os minutos foram passando e Sarah estava conosco, tagarelando e não dando bola as perguntas que o pai fazia sobre a escola. Ela parecia feliz ainda que as investidas de Joel a calassem por alguns curtos minutos, e intercalava bem entre falar do intercâmbio no Canadá e o último final de semana na casa do amigo George, que eu, particularmente, acreditava na possibilidade de Sarah estar se apaixonando.

"E o que fizeram a noite toda?" Perguntei, vendo a morena pedir um copo de limonada para Joel.

"A gente comeu cheesecake que a mãe do George fez, eu vi a coleção de bonecos dele de Street Fighter... Hm, depois a gente assistiu Família Dinossauro e aí dormimos." Sarah pensava e dizia, contando nos dedos as coisas que havia feito na sexta. A forma como falava e se expressava era fofa, estava tão feliz por tão pouco.

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora