Além do ciúmes

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"O que está fazendo?" Joel riu, esticando-se no ouvido da mulher.

A manhã azulada misturada a sensação gostosa de estar ao lado de Ana, aliviava a tensão dos ombros de Joel. Ele tinha a percepção que muito faltava na vida, uma serenidade no olhar expressada pelas linhas contornando as pálpebras e marcando as bochechas num sorriso preso aos lábios. "Joel, alguém pode nos ver."

Sem parecer incomodar-se, ele continuou com os braços laçados na cintura dela. Ana repreendeu, sem querer que ele parasse, porém, não achava o momento certo para contar a respeito deles para alguém. "Cedo demais." Concordaram juntos no último dia.

"Tudo bem. Sarah e Tommy ainda não acordaram. Posso me aproveitar de você mais um pouquinho, querida." Justificou. A voz calma arrepiou levemente a mulher a sua frente, virada de costas em completa rendição ao que ele lhe propusesse. Joel arriscou um beijo no pescoço de Ana, sentindo a pele macia contra o seu nariz. "Eu acho..." Ela disse, deixando as mãos grandes dele afastarem o cabelo das suas costas. "Você acha?" Joel perguntou, subindo as mãos dele até os seios dela cobertos pela camiseta rosa.

Ana murmurou ao senti-lo estimular a região sobre o sutiã - que ela odiava, agora, ter vestido. "Acho que preciso da sua boca na minha."

"Aí que excelente dia, hermano!" Tommy cantarolou ao volante. Ele tinha um promíscuo sorriso no rosto. Imaginando que o irmão pensava no que tinha acontecido entre Ana e ele, Joel preferiu não alardear.

Apesar da dificuldade de se manter pacato, estilo Joel de ser, o homem não estava conseguindo guardar por completo a felicidade em ter passado as últimas horas agarrado ao corpo pequeno e precioso de Ana. Deu um pequeno sorriso de canto, fingindo estar distraído com a paisagem pelo vidro do carro. "Ah qual é? Não me diz que você não aproveitou a carteirada que a Sarah te deu?"

Tommy tirou uma das mãos do volante e alcançou um tapa no ombro de Joel, tendo o que queria, atenção. "Porra! Sarah foi genial. Ela vai ficar frustrada se souber que não deu certo."

"Deu certo." Joel disse de forma breve. "O quê? E você me diz assim? Não tá feliz? Espera! Você beijou ela!?" Joel negou. "Só conversamos e resolvemos que é melhor que essa tensão entre a gente acabe de uma vez. Ana e eu concordamos que esses olhares e discussões não vão levar a gente a lugar algum." Tommy esperou ele continuar, mas em vão. "Então vocês são só amigos? De novo? De volta a estaca zero?"

Sua feição caiu decepcionado e Joel apreciou a visão do irmão chateado. Era forte a vontade de falar para ele e Sarah a verdade sobre o recém casal, mas tanto Ana quanto Joel entendiam a necessidade de esperar para fazerem uma análise mais completa do que eles realmente eram. Fato que estavam apaixonados, mas e se não dessem certo? Também era uma dúvida que deveria permanecer até testarem o tempo juntos.

"Que merda. Então quer dizer que ela ainda vais sair com o Meyers." Joel encarou o irmão, lembrando da conversa entre Daniel e Ana. Teria ela aceitado? Ele não sabia, pelo menos não até Tommy confirmar. "Ela vai?" O moreno perguntou sem perceber a voz ficando dois tons mais grave. Sentiu uma pontada no estômago e um ar quente tomar o pulmão.

"É. Eu posso ter escutado a conversa deles pelo telefone. Por quê? Ficou com ciúmes?" Joel bufou, esfregando a barba e apertando o queixo. "Por que não cuida da sua vida? E por que ainda não chegamos na empresa? Faz cinco minutos que estamos presos nessa merda de farol..."

Tommy conhecia bem o irmão para saber quando ele fugia de um assunto e também quando ele se estressava falando de algo que não gostaria de admitir. Podia não saber o que tinha rolado na conversa entre a amiga e o irmão, mas não tinha sido apenas um acerto de contas. Ele riu, passando a marcha do carro e acelerando escutando Joel se calar impaciente. Sendo um bom agente do caos, Tommy estava torcendo para Ana ir aquele jantar.

P.O.V.
Ana Wilson

Se eu me sentia suja? Não. E se eu me sentisse, Deus! Seria a suja mais satisfeita - para não dizer outra palavra - que andou por essa terra. Não parava de pensar em Joel e na noite fantástica que ele me dera depois de todos os dias que passei tentando alimentar uma raiva por mim mesma, me sentindo culpada por gostar dele. Olhando daqui, não foi igual as minhas fantasias, admito... foi bem melhor. E ainda teve o pós amor, quando eu soube que não tinha sido só sexo.

Tenho dezenove anos porra! Estou aficionada nessa ideia fofa de um relacionamento romântico com o cara que gosto. Pensei que já tivesse passado dessa fase.

"Achei que eles ainda iam ter hoje de folga." Sarah arrumava os cachos no meu cabelo e separava mais algumas mechas para enrolar. "Eu também. Mas você conhece o seu pai." A menina pareceu concordar. Ela soltou o cabelo e deixou a babyliss sobre a penteadeira, pegando alguns grampos na gaveta próxima.

Eu fiquei meio surpresa quando a vi pela manhã e não fui automaticamente bombardeada por perguntas do tipo "Você e o meu pai...? Hein hein?". Consigo até imaginar as sobrancelhas dela arqueadas, dançando nas melodias trêmulas que seriam minhas respostas, porque eu certamente gaguejaria perto dela, nunca soube mentir para ela.

Mas eu não precisei e fiquei com medo disso. A garota com a idade que tinha era mais inteligente do que o Tommy e era graças a ela que Joel e eu finalmente tínhamos nos "entendido". Sarah não fez perguntas, ela contentou-se em falar do filme visto no cinema e, quando voltou da escola, me ajudou com a roupa do encontro.

"Ana?" Sarah se virou para mim. "Você podia me levar junto, né?" Seu rostinho angelical me fez derreter. Estava jogando o truque dos olhos e biquinho que usávamos com Joel, só que dessa vez contra mim. "Vem cá." Eu apertei os lábios e colei dois beijos, um em cada lado do seu rosto. "Eu não posso te levar junto, cariño." Sarah não desviou o rosto do meu, acrescentando uma dose de fofura a feição. "Por favorzinho?" "Aí que menina chata. Ugh!" Brinquei, apertando a nos braços e tirando algumas risadas eufóricas de Sarah.

"Só estou indo para comer o ravioli do Enrico's, garota. Prometo que de lá eu venho direto para casa." Eu explicava como se ela tivesse autoridade na minha vida e, de certa forma, ela tinha. Se eu não a tranquilizasse, Sarah ficaria remoendo a situação, com ciúmes não por mim e pelo pai dela, mas por ela mesmo.

Porque quando uma criança tem um laço tão grande com alguém, ao ponto de sentir medo de perder a aliança com essa pessoa ao ser trocada por outro de fora, significa muito além do ciúmes. Toda criança tem um adulto preferido, é um fato, e mais fato ainda é o pavor que elas sentem ao pensarem não ser a criança preferida daquele adulto.

"E eu te trago aquele doce que você gosta, hmm... como é mesmo o nome?" "Tiramisù!"

E aqueles olhinhos brilhantes tomaram os meus, cativantes e amendoados. Eu sempre gostei da ideia de que ela era o meu lar, o meu destino.

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora