"Eu sou como um girassol"

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P.O.V
Ana Wilson

Girassóis são flores com significado. Simbolizam calor e a felicidade. Eu era um girassol, brilhante e positivo, que fazia todos rirem e acharem belo. Alguém dá buquês de girassóis? Por que são sempre rosas vermelhas, tulipas amarelas e violetas roxas? Será que eu, diante de todas as outras, não era bonita ou charmosa o suficiente?

E por que eu estava me comparando com girassóis enquanto o que eu realmente queria falar era sobre Joel? Talvez eu tenha tentado uma metáfora para mascarar os meus sentimentos por aquele homem que me despedaçou o coração por algo tão simples e que, agora, virava o motivo de me culpar veementemente por ter me permitido sentir.

Estar ao seu lado durante o jantar teria sido a tarefa mais fácil caso não tivesse o escutado falar que eu ainda era jovem demais para ele. E sem querer, durante aquela conversa que estava mais para um monólogo de Joel, me perguntava quando eu finalmente seria velha o suficiente para poder beija-lo. Eu não conseguia o odiar como odiei os primeiros caras por quem estive apaixonada, porque antes eu era sim jovem demais e podia ser infantil e reclamar por não ter o amor correspondido.

O ver silencioso sem nem conseguir trocar uma palavra comigo foi a pior coisa que podia ter me acontecido. Não me importava se ele sentia aquela palpitação e as malditas borboletas no estômago clichês quando me via. Sim, eu me importava com ele não conseguir se sentir mais confortável ao meu lado. Joel era o meu chefe, era pai de Sarah, o cara dono das melhores risadas, mas acima de tudo, um confidente.

Estava doendo não ter dado um sorriso na noite anterior. Eu queria o ter dado um beijo na bochecha assim como fazíamos todos os dias, mas não consegui ter o coração tão frio e fingir algo tão importante para mim, as minhas emoções.

Flashback On
P.O.V
Narradora

Joel se segurou para não tomá-la ali mesmo. As mãos dele presas no corpo dela, na cintura e nos seus lábios. Ele ousou dar mais um passo e encostou a testa na dela, a vendo reagir a cada espaço ocupado por ele. 'Não! Não! Volte atrás e saia daí.' Ele tomou percepção de onde já estava e elevou o rosto sob ela. "Não, me desculpe." Falou, caminhando para trás. Passou a mão no rosto pensando no que quase tinha feito e bagunçou o cabelo, atordoado. Ana nada disse, ela o observou se sentar no sofá de novo. Seu coração acelerado quase pulava pela boca.

"Eu não posso. É isso que eu tinha que te falar. Nós não podemos." Ana não entendeu. O que ele estava falando do nada? Era Joel quem tinha se levantado contra ela há poucos minutos. "Isso é errado e você só tem dezenove anos." Disse o óbvio. Ana continuou muda, ela não mexeu um músculo querendo acordar daquele pesadelo. "Me desculpe. Foi minha culpa, eu sei o que sente por mim e me aproveitei disso agora. Passei de todos os limites ao te tocar dessa forma."

Joel, que olhava para os pés sem paradeiro no chão, resolveu voltar a olhar em seus olhos sendo correspondido no mesmo instante. As íris verdes que emanavam carinho e até desejo antes, tornavam-se acinzentadas, sem vida. Ele tinha feito merda. Sabia que bagunçava os sentimentos da garota e se arrependeu por isso. "Se sente algo por mim, me desculpe, mas eu nunca vou poder sentir o mesmo. Eu jamais conseguiria retribuir qualquer coisa."

Resolveu acabar com tudo de uma vez e sem mais, era clara a tristeza no rosto de Ana. Talvez não por saber que não teriam algo, mas pela forma como tudo aconteceu até ser dito. "Eu olho para você e, apesar de já ser uma mulher, me sinto estranho ao perceber que posso te ter de uma forma tão..." Procurou a palavra certa para dizer, fixado em Ana. "Tão íntima."

Ele falava de forma tão certa do futuro, Joel virava vidente de repente. "Tudo bem." Ana respondeu. Piscou uma, duas e três vezes até cortar a solitária lágrima que se formara no tempo daquela conversa angustiante. "Vou subir agora." E se foi, degrau por degrau, Joel não a vendo mais.

"Hijo de Puta." Xingou, batendo os punhos com toda força na almofada fofa.

Flashback Off
P.O.V
Joel Miller

Tinha ideia do que havia feito. Pra mim era o certo, pra ela talvez não fosse. Eu a vi crescer dentro da minha casa e, ela tendo maioridade ou não, ainda via aquela garotinha que ela tinha sido. A merda real era que eu começava a pensava nela de outra forma do nada. Aquela tarde eu cedi muito, muito mais do que eu deveria. Quase a beijei e se eu tivesse a beijado mesmo eu não teria falado o que falei.

Admiti pra mim que Ana fazia o meu coração palpitar e o nosso curto momento junto provou isso. Não existia ritmo nas batidas, meu peito tocava apenas uma melodia: a contínua vontade de querer fazer ela ser minha. Eu precisava do seu sorriso calmante, dos seus olhos quentes e brilhantes. Consegui entender que a queria, mas não poderia de jeito nenhum tê-la nos meus braços como minha imaginação sonhava.

Foi o melhor para ela, não para mim. Eu estava ficando velho e tinha uma filha. Uma linda garota que amava Ana, mas se um dia eu pensasse em ter a mulher do meu lado, significaria dar uma responsabilidade não necessária para ela. Ana era babá, mas não deveria ter os trabalhos de uma mãe tão cedo por minha culpa.

Então, no final das contas eu tinha feito o necessário para me preservar dos sentimentos que eu poderia ter por ela. Nada mudaria, só o fato de que eu não poderia mais ter conversas tão importantes e pessoais com a babá da minha filha. Ana era isso, e só isso, a babá de Sarah.

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora