Parte um: III

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O caminho no carro poderia ter sido pior. Minho sabia disso porque na semana passada ele e Chan tiveram um momento no carro muito pior.

Naquele dia, Minho ainda não sabia que a causa de sua infelicidade era seu aniversário. Ele estava tentando empurrar a data tão longe em seu cérebro que aquilo estava o matando lentamente, como um veneno silencioso. Então, ele não tinha absolutamente nenhuma explicação para dar a Chan quando aquele colapso aconteceu.

Minho ansiava profundamente por milkshakes, mesmo com a noite fria de outubro. O problema era que seus dedos do pé se curvavam ao sequer pensar em sair de casa e ver pessoas. Chan pensou em pegar sorvete e fazer a bebida ele mesmo no apartamento. No entanto, ele sabia que tipo de milkshake Minho estava desejando. Era o de uma sorveteria que Jisung havia recomendado alguns meses atrás.

Minho foi à loja uma vez com Jisung depois do trabalho e se viu voltando todos os dias daquela semana. Chan achou a obsessão de Minho por aquele sorvete específico muito cativante. Partia seu coração pensar que Minho provavelmente estava tão desesperado por milkshakes porque não conseguiu nem sair de casa adequadamente naquela semana. Ele não conseguia nem encontrar forças em si mesmo para simplesmente pegar um sorvete. Sua única trajetória foi o trabalho e depois para casa, o mais rápido que pôde e em completo estado de sobrevivência.

Inicialmente, Chan se ofereceu para ir lá por conta própria e voltar com o milkshake, mas até Minho percebeu que essa ideia era estúpida. Derreteria rápido e ficaria com um gosto estranho. Com isso, Chan sugeriu que Minho fosse junto, ficasse no carro enquanto Chan pegava seu milkshake e então ele poderia beber sentado lá. Dessa forma, ele estaria são e salvo de pessoas e situações sobrecarregantes.

Minho estava um pouco hesitante, mas, pela primeira vez naquele fim de semana, trocou o pijama por uma roupa confortável de inverno. A própria sensação de estar na garagem do prédio era agridoce. No entanto, Chan estava lá, segurando sua mão e dizendo que estava orgulhoso dele. Nada no mundo poderia aquecer Minho mais do que a sensação de saber que ele deixou Chan orgulhoso, então ele tentou afastar a dor. Logo, ele estaria bebendo seu milkshake e Chan ainda estaria lá com ele, como sempre esteve.

E o primeiro minuto do passeio de carro foi normal. Chan estava cantarolando uma música que vinha muito baixinho do rádio e Minho só podia ouvi-lo, só podia vê-lo. Por um segundo naquela semana, sua cabeça estava vazia. A única coisa que não estava embaçada em sua visão era seu namorado, dirigindo calmamente como se não tivesse preocupações no mundo. Era noite e Chan estava dirigindo para uma sorveteria só porque Minho queria um milkshake. Porque ele faria qualquer coisa para ver Minho satisfeito e feliz.

O coração do Minho estava cheio. Ele tinha tudo o que queria, mas também não tinha. O amor de Chan o fazia se sentir tão completo, mas era tão pressionante. Quem levaria Minho para tomar um milkshake estúpido? Ninguém, ninguém na porra do mundo inteiro fazia essas pequenas coisas estúpidas para ele. Não desse jeito. E aquilo era perigoso. Por que Chan faria essas coisas por ele? A resposta deveria ser simples, mas estava fazendo os membros de Minho tremerem como um cervo nos faróis.

Logo, seus olhos se perderam nas luzes da rua, brilhando tanto, mas ainda tão mortas. Luzes que faziam seu trabalho de iluminar, mas pareciam cansadas. Excesso de trabalho, excesso de uso. E então, seu olhar estava nas pessoas. As que caminhavam em silêncio, as acompanhadas, as que corriam para algum lugar, as que estavam sentadas em restaurantes rindo tanto que seus olhos lacrimejavam. E era como se Minho estivesse ali com eles, vendo cada partícula de cada rosto, ouvindo cada voz.

E, por uma fração de segundo, Minho podia jurar que quando voltasse os olhos para o volante, veria sua mãe. Por um segundo, é como se ele pudesse sentir o perfume de chocolate excessivamente doce dela e o cheiro de seus cigarros. Por um segundo, ele ouviu a voz dela reclamando e reclamando e reclamando um pouco mais. Pior, Minho sabia que estar no carro com a mãe significava que eles estavam indo para casa. Minho não podia voltar para aquela casa. Ele não podia. Ele partiu há tantos anos e sabia que morreria se pisasse lá novamente ou se seus olhos se atrevessem a olhar para a porta da frente até de longe.

Complex - minchanOnde histórias criam vida. Descubra agora