-Sério que você vai ficar em casa estudando esses sete dias? – Minha amiga Angela me questionou de forma incrédula.
-Se você pudesse ficar um pouco mais chocada, talvez as pessoas ao redor comecem a se perguntar se estou traficando em casa. –Revirei os olhos.
Era sempre assim.
Todos os anos eram mais do mesmo. Eu nunca saia no carnaval por não ter sido criada dessa forma. É um pouco lógico. Meus pais nunca tiveram costume de viajar ou sair em blocos de carnaval, nem nada do tipo, então como cresci assim e embora tivesse vontade de saber como era o outro lado da história, segui os mesmos passos que eles.
Apesar da ideia me atrair, sou covarde demais para de fato fazer algo assim.
Além de ouvir as tragédias que ocorrem todos os anos em momentos como esse.
Confesso também que parte desse medo se deve a minha mãe que me lembrava constantemente disso então acabava por desistir de qualquer ideia de sair.
-Mas, Maya são sete dias que podemos ficar em casa. Você não vai trabalhar.
Eu não vou trabalhar. –Minha amiga insistiu.
-Você não tem que fazer uma prova assim que terminar a faculdade. Eu tenho.
–A lembrei pela centésima vez.
-Por que você escolheu o direito mesmo?
-Estou me fazendo esse questionamento desde que a prova da OAB ficou cada vez mais próxima.
-É mais uma razão para você distrair a sua mente. –Ela sacudiu os ombros simulando uma dancinha enquanto agradecia o garçom por nossos pãezinhos de queijo. – Só uma noite é o que estou pedindo .
Angela fez um biquinho e aqueles olhos de cachorrinho perdido fazendo com que eu revirasse os olhos de tal forma que poderia facilmente ficar com eles presos atrás da órbita, se é que isso é de fato possível.
-Um dia. Eu escolho qual. –Ela abriu a boca para se opor, mas logo a calei. –E você escolhe meu figurino e faz minha maquiagem como quiser.
Depois ponderar por alguns segundos, ela soltou um gritinho atraindo a atenção de todos ao redor.
-Você vai ser uma excelente advogada. Eu aceito o acordo.
-Se eu passar na OAB... –Resmunguei baixinho para que ela não ouvisse e isso fizesse com que me desse um sermão sobre o que eu estava pensando era bobagem.
***
Os dias passaram e simplesmente chegou o dia o qual eu não poderia fugir. O dia que escolhi para irmos.
Sexta-feira.
Por que ai poderia ficar de ressaca no sábado sem me sentir culpada por não estar estudando.
Ela foi para minha casa e começou a me arrumar.
Todas as vezes que saímos ela sempre adorava me maquiar, me sentia como uma boneca onde ela poderia simplesmente escolher as roupas e os penteados. Tudo. Seu olhar crítico para isso dizia o que ficaria bom e o que não o faria.
Brincávamos que quando ela tivesse uma filha, ela seria sua mini modelo.
É necessário dizer que ela era estudante de moda?
-Me diga mesmo por que eu não posso usar aquele delineador que fica mais lindo em mim.
-Por que ele não é a prova d'água. Esse é. E fica quieta para não atrapalhar minha obra de arte,
Vou ressaltar que a obra de arte dela, é o meu rosto. Que nasceu comigo, tá.
Estávamos vestidas de forma parecida, ambas com um short preto curto e um tutu com cores do arco-íris. O que nos diferenciava eram os tops que usávamos. O meu tinha a marca de um beijo e o dela de olhos piscando.
Ambas estávamos solteiras, então iríamos usar o que quiséssemos sem que
tivesse alguém para reclamar ou ficar de cara feia.
E claro estaríamos levando um spray de pimenta na bolsa só por garantia,
Ambas estávamos de cabelo preso em rabo de cavalo por conta do calor e seria um porre ter que estragar o penteado no meio do rolê.
-Pronto, agora sim estamos prontas.
Após nos olharmos no espelho. Pude ver que não era somente nossos looks e penteados que estavam um arraso, mas nossa maquiagem também não ficava atrás. Cheia de glitter, de cores, estava bem chamativo, e ainda assim não parecia demais.
Depois de tirarmos várias fotos para eternizar esse momento e de guardar bem nosso dinheiro e as chaves, saímos em direção a mais essa aventura.
Não vou mentir, estava lotado.
Várias pessoas. Vários looks.
E apesar de preferir estar em casa, a experiência que estava vivendo estava servindo para me relaxar.
E eu iria aproveitar ao máximo.
E foi o que fiz.
Dancei bastante ao som de músicas que eu só me permitiria fazer em casa. Beijei algumas bocas também. Conheci novas pessoas. Pessoas que ficariam na minha memória por muito tempo. Foi uma oportunidade para me fazer relaxar e ver que existia mais na vida do que apenas estudar.
Minha amiga estava com um sorriso radiante em seu rosto por me ver tão feliz ali com ela. Vivendo aquele momento.
E eu não vou mentir, é algo que eu gostaria de fazer ao menos um dia por ano daqui para frente.
-
Escrito por: Aline Maria.
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Contos para se alegrar: Porque do Carnaval ninguém escapa
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