O suplente e o carnaval

10 2 15
                                    

Amadeu era um jovem bacharel recém formado, que um dia recebeu um pedido de seu pai. O velho Agenor, preocupado com o futuro do filho, desejava que ele entrasse na vida política. "Político eu?!" Amadeu nunca tinha cogitado essa possibilidade. Ele estava contente em ser um office boy de luxo na empresa do pai. Com muito custo tinha terminado a faculdade de direito, não tinha passado nem na porta da OAB. Ele nem queria ser advogado, sonhava ser músico, porém o velho foi contundente. O pai queria o retorno de todo investimento para formar o filho bacharel. Pressionado, Amadeu se lançou como candidato à Câmara de vereadores da metrópole, pelo partido moralista.

"Não custa nada atender esse desejo de meu velho, não tenho chance de ganhar mesmo". Assim pensava Amadeu, porém, nesse pleito o partido moralista contou com o eloquente comendador Tarcísio. Com um discurso pela moral e dos bons costumes, Tarcísio puxou muitos votos para a legenda do partido e Amadeu acabou entrando como seu suplente.

"O comendador é um homem forte e saudável, nunca irei assumir o cargo". Assim, pensava Amadeu. Porém, em sua posse o comendador Tarcísio fez um discurso eufórico contra o Carnaval, em nome dos bons costumes e pelo moralismo, se emocionou tanto que caiu no chão, morto por um enfarte fulminante.

Assim, Amadeu como suplente teve que assumir o legado do comendador. Ele não se julgava pronto, não sabia nem que era o partido moralista. Porém o Jairo Salvador, presidente do partido, logo encarregou Amadeu de dar continuidade aos projetos do comendador.

"O comendador tinha tudo planejado, entregaria projetos de lei, para ir restringindo os bailes e desfiles de carnaval, para ir minando aos poucos essa festa profana", falou Jairo.

Amadeu não entendia porque de tanta indignação do seu partido contra uma festa popular, mas afinal era um partido moralista. Ele então começou a trabalhar com os projetos do comendador e fez uma minuta para entregar na Câmara Municipal.

Amadeu começou a mostrar a minuta para as pessoas, a fim de receber críticas e sugestões. Apresentou ao presidente do partido, que fez velados elogios.Em seguida mostrou aos demais membros, aos seus amigos e enfim ao Valdomiro, motorista de sua família. O homem, profissional impecável durante o dia e boêmio, durante a noite, examinou o projeto e meio receoso foi falando para Amadeu.

"O senhor não me leva a mal, mas isso aqui é verdade, sério que pretende apresentar um projeto contra o carnaval na Câmara Municipal?"

Era a primeira pessoa a questionar a relevância do projeto, todas as outras tinham apoiado sem restrições. Amadeu surpreso e meio indagando retrucou:

"Sim, muito sério, esse projeto é para garantir a paz e o sossego para os moradores da metrópole".

"Mas porque o senhor não gosta do Carnaval? Essa é a festa mais bonita e alegre do calendário."

"Na verdade, estou apenas seguindo a orientação do partido. Eu mesmo nunca fui em um baile nem desfile de carnaval, conheço apenas pela televisão."

"Então, o senhor gosta um pouquinho..."

"Bem, até parece divertido, mas assim, a ideologia do meu partido é contra."

"Desculpa eu te falar, mas não me parece ético, propor uma lei contra algo que o senhor conhece apenas superficialmente."

Valdomiro, fez um muxoxo como se arrependesse de falar daquela forma ao filho do patrão, mas já tinha falado. Percebendo o constrangimento do motorista, Amadeu tocou em seu ombro e agradeceu sua opinião.

"Você tem razão Valdomiro, talvez eu esteja sendo precipitado, acho que não sou mesmo um bom político, mas você poderia me falar mais sobre o que pensa do carnaval?"

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 03, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Contos para se alegrar: Porque do Carnaval ninguém escapaOnde histórias criam vida. Descubra agora