Malu saiu da água e andou pela areia até encontrar um dos poucos chuveiros livres da praia. Os meses de janeiro e fevereiro são os que mais recebem turistas e encontrar qualquer coisa vaga – seja um chuveiro, uma mesa de quiosque ou um quarto de hotel – é difícil. Ainda mais em Copacabana.
Jogando os cabelos cacheados num dos ombros, ela abriu o registro e inclinou a cabeça para trás, recebendo uma ducha de água fresca. Um sorriso escapou por entre seus lábios carnudos. Em poucos minutos, o sal da água do mar escorreu por seu corpo e sua pele negra, cor bombom, pareceu ganhar um novo frescor após o mergulho.
A garota desfilou pelas areias, de vez em quando ouvindo um elogio, ao que ela respondia com um sorriso silencioso. Alta, com curvas definidas e bem valorizadas pelo biquini vermelho, nenhum homem ficava indiferente à sua beleza. Mas Malu sabia muito bem diferenciar um elogio do que era assédio, e não admitia que a desrespeitassem.
Ela andava pela areia segurando o par de chinelos contra o peito, até que uma voz a chamou:
— Malu! Malu!
Era uma voz de mulher.
A moça viu Ângela acenando, e abrindo um sorriso, foi até o guarda sol sob o qual ela estava sentada com o noivo. Ambos tinham latas de cerveja nas mãos.
— Oi, Ângela — Malu sorriu, cumprimentando a amiga com um beijinho no rosto assim que esta se levantou. Quanto a Pedro, cumprimentou-o acenando com os dedos.
— Você está com uma cor linda — Ângela reparou na jovem.
— Obrigada — a moça negra enrubesceu. Por mais que já estivesse acostumada a ouvir que sua cor era linda, elogios sempre a deixavam encabulada, embora gostasse.
— Faz tempo que não te vejo — a mulher acompanhada do noivo observou. Pediu a este uma lata de cerveja do cooler e a ofereceu a jovem, que aceitou de bom grado. — Nem parece que nós duas moramos na mesma rua da Tijuca.
Malu meneou a cabeça em concordância.
— Tô dando aula de Inglês durante o dia. À tarde faço academia e à noite vou para os ensaios da escola com o Pedro — um brilho de felicidade surgiu nos olhos da moça. — Carnaval já tá aí, né? — pôs uma das mãos na cintura enquanto tomava um gole de cerveja.
Malu sempre gostou de Carnaval. Desde criança, ia com os pais aos bailes da comunidade, participava dos blocos e vivia essa época mágica com intensidade. Já se fantasiara de bailarina, de Mulher Maravilha, de Arlequina e já incorporara todo tipo de personagem. Mas nada se comparava a participar dos desfiles das escolas de samba. Quando ia para o sambódromo, Malu se soltava e se transformava numa mulher livre, viva, sem culpa, receptiva aos flashes das câmeras que iluminavam seu rosto e seu corpo seminu coberto de glitter. Ela nascera para sambar.
Seu sonho era um dia ser Rainha de Bateria da Unidos da Moça Caprichosa, sua escola de coração. Mesmo a escola tendo há anos Nalanda Venturini como rainha, a garota acreditava que seu dia chegaria. Enquanto seu sonho não se realizava, vivia cada instante como se fôsse o último.
Ângela revirou os olhos.
— Minha mãe tem vontade de assistir ao ensaio. Assistir, não. Participar. Pode uma coisa dessa, Malu?
— Ora, leva ela para a quadra. Tenho certeza que todo mundo vai gostar de vê-la.
— Malu, dona Augusta tem sessenta anos.
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Contos para se alegrar: Porque do Carnaval ninguém escapa
Historia CortaA grande folia que os brasileiros amam chegou nos contos. O projeto flor de Lótus reune contos diferentes de diversos autores para falar sobre essa festa que simplesmente não sai da boca do povo. Tem muita diversão, alegria, fantasia e sentimentos i...