Prólogo

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Agosto de 2022

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Agosto de 2022

Entrei no avião apressadamente, praticamente pulando para dentro da aeronave. Eu tinha uma dúvida gritante em meu coração, feliz por estar indo embora e triste pelo mesmo motivo. 

A aeromoça conferiu minha passagem e gentilmente me indicou o assento, o de número 3. Guardei minha bagagem, ajudei uma senhora a guardar a dela também e me sentei, junto à janela, podendo ver o aeroporto.

Por alguns segundos me imaginei em um filme de romance, e se ela surgisse do nada no meio da pista? Gritando meu nome, pulando em seus all-stars, procurando por mim com aqueles olhos castanhos que tanto já mexiam comigo? Iria descer do avião para escutá-la? Iria lhe desculpar pelo segredo que tinha guardado de mim?

Encostei a cabeça na poltrona, respirei fundo algumas vezes, tentando controlar minha ansiedade. Lembranças daqueles últimos dias invadiram meus pensamentos.

Meu coração se agitou, a ansiedade venceu, a taquicardia estava ali. Abri os olhos bem na hora que o piloto anunciou a decolagem, quis chorar e gritar, implorar para que me deixassem sair, precisava descer daquele avião e ir conversar com a garota de olhos castanhos mais uma vez.

Foda-se o que tinha acontecido, eu poderia superar aquilo, a amava!

No entanto, por mais que estivesse disposto a protagonizar a cena de um filme romântico, sabia que as coisas não funcionavam assim. Ninguém me deixaria descer do avião com ele pronto para levantar voo e Any Gabrielly não estava na pista pronta para impedir o piloto e declamar seus sentimentos para mim.

E se ela não tivesse os menos sentimentos? E se eu fosse atrás dela e fizesse papel de idiota?

Fiquei ali, inerte, apenas vendo e ouvindo tudo ao meu redor. Uma criança chorando, dois caras conversando alto sobre negócios, um casal dividindo um pacote de doces, uma adolescente agitada penteando os cabelos sem parar. Todos ali perto, mas para minha mente agitada parecia que estava os observando por um vidro embaçado.

Logo o avião estava no céu, pronto para me levar até New York. Em algumas horas eu estaria no céu familiar da minha cidade natal, longe de Any, longe de Sina, longe dos meus dias em Santa Cruz.

O tempo foi passando, as pessoas foram se tornando mais claras para mim, como se o vidro tivesse sido limpo um pouquinho. Meu coração ainda batia forte, ainda sentia vontade de chorar, mas era menos doloroso conforme os minutos se passavam.

Então, a crise de ansiedade se foi, me deixando para trás com suor escorrendo pela nuca, cansaço e dor de cabeça. Também percebi que precisava me alimentar, dar ao meu estômago algo para se divertir depois de não comer absolutamente nada naquele dia.

Para minha sorte, o comissário de bordo apareceu bem na hora empurrando um carrinho com lanches. Peguei um sanduíche e aceitei a Coca-Cola oferecida, por mais que devesse evitar a cafeína para não piorar meu estado ansioso.

Comecei a comer e beber, dando um sorriso triste para o refrigerante, que só me fez lembrar ainda mais de Any. A única pessoa no mundo que já tinha visto falar gostar de tomar a bebida quando o gás já nem estava mais presente. Ela era única, ela era especial para mim e ainda estava chateado, mas se tivesse um paraquedas teria pulado para fora do avião e corrido todo caminho até a mulher.

Porém, outra vez fui invadido pelo pensamento de que talvez ela não me amasse. Quando descobri a verdade sobre seu segredo não disse nada a respeito dos seus sentimentos por mim, eu poderia ter sido apenas um cara em sua vida, enquanto na minha ela era alguém de significado extremo.

Terminei de comer e decidi que precisava manter a mente ocupada, só voltaria a pensar em Any, ou em qualquer outro dos meus fantasmas, quando pisasse em New York. Peguei o livro da minha mochila, o que ela tinha me emprestado, estava o adorando, era realmente ótimo e me fazia ficar extremamente imerso na vida de alguém que sequer existia.

Entretanto, quando o abri, dando de cara com a foto que tirei de Any no balanço alguns dias antes, foi na minha vida que voltei a pensar. Na foto não conseguia ver o rosto dela, apenas suas costas, cabelos ao vento, pernas, seus tênis fiéis e o céu, parecia que ela estava voando.

Livre, como eu queria ser. Livre, como ela também queria ser.

Devolvi a foto para dentro do livro e o guardei de novo em minha mochila, já sem vontade de ler mais nada. Voltei a encostar a cabeça na poltrona e fechar os olhos.

E eu pensei mais um pouco em Any, nos seus olhos castanhos, seus beijos, sua risada. A mancha de vinho que deixamos em seu tapete, o cobertor com estampa de leopardo feio que ela tinha, as estrelas iluminando o céu noturno em Santa Cruz.

Todos aqueles pensamentos embaralhando minha mente acabaram por me render algo. Tive a ideia certa e sabia o que escrever, depois de todo aquele tempo fugindo do que mais amava fazer. Tirei um caderno de notas e caneta da mochila, bebi o restinho de Coca-Cola e escrevi o nome do meu próximo livro.

Olhos castanhos

Sorri para o papel e comecei a escrever, a história de um homem, uma mulher, um verão e a distância que lhes separava.

Sorri para o papel e comecei a escrever, a história de um homem, uma mulher, um verão e a distância que lhes separava

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𝗦𝗗𝗜 | 𝐒𝐢𝐧𝐝𝐫𝐨𝐦𝐞 𝐃𝐨 𝐈𝐦𝐩𝐨𝐬𝐭𝐨𝐫 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora