Gargalhei, Any resmungou, mas não fez menção de sair do meu abraço. Estávamos enroscados sobre a cama dela, cobertos por um feio lençol com estampa de leopardo que ela tinha, e estava lhe provocando justamente sobre aquilo, enquanto tinha as costas dela coladas em meu peito, meus braços a rodeando e meu rosto repousado na curva de seu pescoço.
Já era noite em Santa Cruz, tínhamos feito um pequeno tour pelo apartamento dela, começando pelo tapete, depois a poltrona rosa, uma parada na cozinha para comer, outra no banheiro para tentar tirar a mancha de seu tapete e quando desistimos fomos para a cama. Eu iria passar a noite lá com ela, isso estava decidido e reuníamos forças para um banho e pedir comida mexicana, afinal precisávamos jantar.
Any acabou indo para o banheiro primeiro, mandando eu pedir logo a comida, pois eles poderiam demorar a entregar.
- Qual o nome do lugar para procurar no Ifood? - Perguntei da cama, enquanto ela estava no chuveiro, a porta estava fechada, entretanto Bella me escutou.
Any: Eles não estão no Ifood, aparentemente são contra a modernidade. Pode ligar do meu celular, o nome é La Família, estão salvos nos contatos. Minha senha é 0303.
Alcancei o celular dela na mesinha perto da cama o abajur de lua estava ligado e a luz era rosa —, desbloquei e ele abriu direto no Instagram. Quase apertei para fechar o aplicativo e procurar pelo de contatos, no entanto travei quando percebi algo.
Era o perfil de Penny e não como se Any estivesse o visitando, nada disso. O perfil estava sendo acessado por aquele aparelho, era dela, Penny e Any eram a mesma pessoa.
Com as mãos trêmulas eu deslizei o dedo pela tela, só para ver se aquilo não poderia ser algum erro do Instagram, mas não era. Any era Penny, por isso ela ficou estranha a partir do momento que conversamos sobre meu livro.
Bloqueei o celular e o devolvi para a mesinha, fiquei sentado na cama encarando a porta do banheiro, sem saber o que fazer. Quando Any saiu de lá estava sorridente e perguntando porque eu não tinha ligado ainda, mas ao olhar minha expressão de pavor, deve ter percebido.
Any: Merda, porra, meu celular!
- Você é a Penny.
Any: Sinto muito, juro que sinto. - Falou, apertando com mais força a toalha ao redor de si. - Não era para você descobrir.
- Você não ia me contar?
Aquilo só tornava tudo pior.
Any: Eu ia apagar a conta, estava decidindo fazer isso quando você chegou, juro.
- Isso não muda nada, você escondeu a verdade de mim. - Engoli em seco, me levantei da cama e fui me vestir, ela estava me seguindo, pedindo para eu parar e escutá-la.
Any: Não quis te magoar com a minha crítica do livro, Josh. - Falou enquanto eu vestia minha camiseta.
- Você chamou o livro de superficial — Falei, lágrimas tomando conta dos meus olhos. - Sinto muito se fiz você perder seu tempo lendo aquela merda.
Any: Josh...
- É O o que sou, tá? — Falei mais alto do que gostaria, mas estava triste e nervoso com toda a situação. - Sou a merda de um riquinho superficial, não consigo sair das garras da minha mãe, deixei minha irmã se virar sozinha no pior momento da vida dela e nem estava lá quando meu pai morreu. Sou um péssimo bailarino, um terrível irmão e um escritor de merda. - As lágrimas cruzaram meu rosto. — Eu não faço nada excepcional, sou a porra de uma fraude, o que restou quando Sina saiu de cena e a única coisa que tentei fazer por conta própria fracassou.
Any: Seu livro não fracassou, muita gente gostou. - Ela tentou tocar em mim, mas me afastei. - É sério, você não pode deixar uma crítica de merda como a minha te afastar dos seus sonhos, Josh.
- Não estou mais com raiva da sua crítica, Any, ela foi um golpe em mim, mas a autocrítica foi pior. Estou puto porque você não teve coragem de contar, sabia que era a primeira pessoa para quem contava sobre o livro, me abri completamente para você e não teve coragem de ser honesta comigo. E se isso fosse além? - Apontei para sua cama. - Porra, e se um dia a gente se casasse? Ia esconder essa merda de mim pra sempre?
Any: Casar? Você vai embora amanhã e eu vou ficar presa aqui! - Foi a vez dela de começar a chorar. - Se acha um fracasso? E eu? Sou mil vezes mais fracassada, minha vida é cuidar da minha família, ter o mesmo trabalho desde os quinze anos, fazer velas estúpidas e sonhar que poderia ser alguém no mundo literário por trás de uma conta no Instagram. Eu não sou ninguém, Josh, nunca vou ser. Me desculpa pela crítica, não gostei do livro, deveria ter sido mais gentil com minhas palavras ao expor o que achei. Não é justificativa, mas tinha tido uma semana terrível no hotel, fiz a resenha de cabeça quente. E me desculpa por não ter contado, mas sabia que no momento que você descobrisse ficaria puto comigo.
- Está certa, eu vou embora amanhã e irei arrancar o amor que sinto por você do meu coração. - Foi tudo que falei antes de partir do apartamento dela.
Eu estava magoado e tudo que me restou naquele momento foi ceder à autossabotagem. Não ficaria ali e teria uma conversa mais calma para tentar me entender com ela, só queria fugir.
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𝗦𝗗𝗜 | 𝐒𝐢𝐧𝐝𝐫𝐨𝐦𝐞 𝐃𝐨 𝐈𝐦𝐩𝐨𝐬𝐭𝐨𝐫 ✓
Fanfiction𝗖𝗼𝗻𝗰𝗹𝘂𝗶́𝗱𝗮| ✦ Josh não se considera bom em nada, nem como filho, irmão, bailarino e muito menos escritor. A síndrome do Impostor lhe assombra, assim como seu passado, ele deseja ter forças para lutar contra seus fantasmas, mas e se for muit...