O Cemitério

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POV: Narrador

O garoto se encontrava jogado na cama pensando na proposta dada pelo Fritz mais cedo. Era certo que ele não conseguiria só ignorar o fato de que foi trocado pelos amigos tão facilmente e viver normalmente com eles, porém ele ainda sim gostava da amizade que eles tinham, então não queria só deleta-los de sua vida por algo tão bobo, ainda mais por que o problema que ele tinha era exclusivamente com o Jouki. E César entendia que a culpa não era só do japonês, ele também errou, mas era tão mais fácil apontar os erros alheios do que encarar seus próprios, por mais que em uma escala de erro, ele errou bem menos que o outro. De qualquer maneira, estava na hora de parar de ignorar aquilo, ele não poderia só fingir que aquele dia não aconteceu, teria que encarar aquele problema, mesmo que só uma parte dele...

Cohen levanta de sua cama e pega seu celular, era quase três horas da manhã e o garoto não tinha se quer um pingo de sono. O mesmo caminhou em direção da porta, colocando o ouvido para checar se havia alguém no corredor, mas ouviu apenas o silencio daquela noite, "Que contraditório, o silencio faz som...", pensou. Foi em direção da janela e a abriu com cuidado para fazer o mínimo de barulho possível, colocou as pernas para fora e pulou, caindo e sujando um pouco de sua roupa com a terra do chão. Caminhou lentamente pela rua, não poderia mentir que estava com medo de caminhar sozinho naquela rua vazia, ainda mais naquele horário, sentia até que estava sendo vigiado, mas não passava de paranoia sua, pois não tinha onde alguém lhe observar naquela rua sem que o cabeludo o visse, ou pelo menos era isso que o mesmo tentava se convencer durante o trajeto. 

Após alguns minutos de caminhada, o garoto parou em frente a um cemitério e viu que o mesmo estava trancando, ele realmente esperava que o cemitério estivesse aberto a essa hora, mas logo pensou: "Que idiota vai em um cemitério a noite?" e logo riu baixo do próprio pensamento. Sem muita opção, o garoto caminhou na direção das grades que ficam envolta de todo o cemitério e tentou arranjar uma maneira de escalar as mesma, era bem difícil por ter poucos detalhes aonde seu pé poderia se apoiar e ser mais barras lisas e escorregadia, mas viu um pequeno muro de pedra em baixado de um pilar. O pior que poderia acontecer se o cabeludo escalasse aquela barra, era o mesmo cair na hora de tentar pular, mas que mal isso faria? Apenas um mal estar e dores no corpo no dia seguinte, mas isso pouco importava para o Cohen. Começou a escalar a barra com uma grande dificuldade, mas o garoto conseguiu pular rapidamente para o outro lado, sentiu uma calafrio passando por seu corpo, mas apenas tentou ignorar aqueles pensamentos e começou a caminhar pelo local. Fazia um tempo que não visitava o cemitério, já não lembrava exatamente onde ficava o tumulo que caçava dentre aquelas milhares de lapides e cruzes, então se sentia andando em um labirinto. Lia todas as lapides, era cada nome estranho e frase genérica nelas, que por mais que o moreno soubesse que simbolizavam a morte de uma pessoa, ele revirava os olhos lendo alguns desses túmulos. Depois de um tempo caminhando o mesmo encontrou o tumulo que tanto procurava naquele local, parando para ler com um certo aperto no coração:

"Cláudia Oliveira
1985 - 2023"

Na frente da lapide se encontrava alguns arranjados de violetas, maioria já murchadas e sem vidas, com algumas pequenas teias de aranhas que se prendiam nas flores, que aparentavam estar ali um bom tempo. O moreno se abaixou e se sentou na frente do tumulo, sentindo a grama um pouco fofa em baixo de si, muito provavelmente úmida e manchando sua camisa, mas isso não importava para o garoto agora, pois já sentia os olhos ficarem mais úmidos e o rosto esquentando. Seu coração acelerava e sentia que a qualquer momento poderia desabar, apenas por ler aquele nome. Ele estava finalmente no local que havia fugido nos últimos meses...

- Eae, mãe. - Falou baixo, sentindo um medo de acordar o possível coveiro do cemitério. - Como você está? Faz tempo que eu não venho aqui, né..? - Algumas lágrimas já escorriam do rosto do garoto, que agora encarava as flores murchas sobre a pedra. - Pois é, os tempos andam difíceis sem você. - O garoto estica seu braço e pega uma das flores, a analisando um pouco. Algumas pétalas caem no caminho e as poucas que restam na flor parecem estar comidas nas pontas e se fechando. - Elas ficam feias depois de uns meses, né? Preciso trazer algumas tulipas novas para a senhora. - Mais lagrimas desciam, mas o garoto ainda conseguia controla-las. - Recentemente as coisas mudaram muito, meus amigos... eu sinto que eu não importo para eles... Mas eu estou voltando a ficar próximo do Samuel, você ia gostar dele. - O garoto desviou o olhar para a lua, que agora brilhava e iluminava o garoto, tão bela no céu que chegava a fascina-lo. - Eu estive evitando vir aqui, não por culpa da senhora, mas sim porque eu só queria esquecer do que aconteceu... Sabe, eu ainda culpo o Joui pela sua morte, mas eu só estou sendo imaturo novamente, não estou? - Sentindo as lagrimas descendo sem conseguir para-las, o garoto apenas abaixa a cabeça e a coloca entre suas mãos. - Porque é tão difícil superar ele? Porque eu só não consigo esquecer tudo aquilo? Parece tão fácil para todo mundo ser feliz e normal, porque eu teria que ser diferente, mãe? - Disse em sussurros, sentindo seu peito começar a doer, sua voz já começava a falhar e não obedece-lo, sentindo soluços vindo a todo instante. -Eu só queria poder parar esse sofrimento diário, mas sabe... O pai ficaria mal se eu o abandonasse... Eu sou tão idiota com ele, não? Não é culpa dele, não é culpa de ninguém... Porque é tão... - O garoto mal conseguia terminar suas próprias frases. Deitou a cabeça sobre a pedra fria e dura do tumulo, desabando em choro. Seu coração parecia abrir um buraco de dentro para fora, sentia que a qualquer momento o mesmo pararia de bater em um ataque cardíaco, no fundo o moreno queria muito que aquilo acontecesse, mas sabia que não iria realmente acontecer. - O ódio se encaixa tão bem como uma maneira de escapar da realidade, ele age por si só e fala por mim, tão mais simples do que deixar os outros sentimentos me dominarem... Isso faz sentido para você, mãe? Talvez seja algo muito idiota... Pensar neles é algo extremamente idiota... Mas talvez seja a hora de aceitar esses pensamentos.

O garoto passou mais alguns minutos deitado sobre o tumulo, logo se recompondo um pouco e se levantando. Caminhou para fora do cemitério, seguindo o mesmo caminho que fez para entrar. Pulou a cerca e caminhou de volta para sua casa. A rua silenciosa fazia os pensamentos do moreno aflorar, sentindo mais lagrimas desceram, mais calmas do que as outras. A luz da lua iluminava o trajeto do moreno, que já não estava mais prestando atenção ao seu redor, sua mente estava ocupada de mais no momento. 

Cohen abriu a porta de sua casa, que por algum motivo seu pai havia esquecido de trancar, talvez ele estivesse ocupado de mais naquela noite. César pegou a chave e trancou a porta, logo em seguida subiu para segundo andar, caminhou em direção da porta de um quarto que mal frequentava, abrindo-a devagar para fazer o mínimo de barulho. Cohen olhou lá dentro, vendo seu pai dormindo calmamente sobre a cama de casal. O garoto deu sorriso ao ver aquela cena, ele se preocupava com o pai, mas era tão complicado essa relação deles que parecia que o Cohen nem ligava para a existência do mesmo, o que era a maior mentira, mas o garoto tentava demonstrar afeto ao seu pai, mas era do seu jeitinho, porém não era fácil identificar esse afeto diferenciado do mesmo. Fechou a porta e caminhou em direção de seu quarto, pulando em sua cama e dormindo rapidamente, com o coração e seus pensamentos a mil, porque no fim a vida do moreno realmente não era algo fácil...

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1427 palavras, sim, o capitulo tá curto mas não vou ficar enchendo linguiça não.
Espero que tenham gostado da depressão que o menino Cohen vive, mas é isso, boa noite a todos <3

Sim... Eu te amo // JoesarOnde histórias criam vida. Descubra agora