Nós dois não poderíamos viver de manchetes pagas, eu sei. Mas desde o episódio da primeira manchete, todas às vezes que Arthur e eu tomávamos a iniciativa de contar sobre o nosso relacionamento para pessoas mais próximas, algo acontecia. Recentemente, uma série de coisas terríveis aconteceram: Beatrice viajou para outro estado, participou de um exaustivo concurso de beleza, em seguida a avó dos dois faleceu e quando achamos que as coisas ficariam bem, o pai de Arthur revelou uma doença inesperada e perigosa para a família, o que não deixou o clima nada bom.
Quinta-feira, 8 de Fevereiro. Eu estava em uma semana de folga da companhia, e tudo que se comentava no atual momento era a festa surpresa de dezessete anos que faríamos para Beatrice. A ideia veio inteiramente de Arthur, que conseguiu que a banda favorita de Bea tocasse na festa. Seria um espetáculo, e nosso maior desafio no momento era conseguir esconder isso dela, já que todos estavam envolvidos.
Como Bea não sabia que eu estava de folga, fui a única do grupo de amigas que conseguiu vir para a sede da fazenda da família, a Pejari, para ajudar com a organização do ambiente próximo ao palco. Agora, já era tarde da noite e eu procurava por Arthur para saber se ele me levaria para casa ou se dormiríamos ali.
A casa da sede da Pejari era gigante. Eu me perdia constantemente entre os rústicos corredores de madeiras e os vastos quartos da propriedade. Como a maioria dos trabalhadores, naquele horário, já estavam abrigados nos chalés em torno da propriedade, não me preocupei em abrir uma porta ou outra em busca dele.
一 Arthur?一 O chamei baixinho, ao ver dentro de um dos cômodos alguém mexendo no computador apenas com uma luz fraca de um abajur.
一 A versão mais velha dele. 一 Uma voz respondeu, e então senti de imediato minhas bochechas queimarem. Reconheci então a silhueta de Peter Coleman quando ele se levantou.
一 Sr.Coleman.一 Coloquei uma das mãos trêmulas na maçaneta branca.一 Me perdoe. Pensei que já tivesse voltado para a cidade.
一 Eu deveria.一 Ele riu e acendeu a luz, iluminando o ambiente. 一 Mas a transição de poder da empresa é um pouco mais complicada do que eu esperava.
Me senti mal por ele. Peter dedicou toda uma vida pada construir a Pejari e fazer dela o que era hoje, mas agora precisava pensar em um futuro onde talvez ele não existisse, e deixaria tudo para a filha. Estava treinando ela para assumir em um cenário pior.
一 Não tive oportunidade de estar sozinha com o senhor para dizer que sinto muito, Sr.Coleman.一 Fui verdadeira. 一 Não deve estar sendo fácil, com o tratamento as...as medicações e...e tudo mais. 一 Nenhuma palavra parecia certa o bastante para alguém que poderia infartar a qualquer momento. Eu não entendia direito o que acontecia com ele, porque o homem estava realmente muito bem. Mas eu não era médica.
一 O tratamento na verdade é a parte mais fácil.一 Ele desligava os aparelhos do escritório.一 Difícil mesmo é abrir mão de ser o protetor para ser o protegido. Isso está me matando.
Nós dois rimos.
一 Beatrice tem sido dura com sua dieta nova e os exercícios, não é?
Ele fez que sim.
一 Arthur também. Mas isso você já deve saber.一 Peter Coleman finalmente me olhou, e então senti o peso de seu olhar. 一 Gostaria de agradecê-la, Briella, por cuidar tão bem dos meus filhos. Nada no mundo fez tão bem à Beatrice do que essas novas amizades, e Arthur nunca pertenceu tanto ao mundo como agora. 一 Ele riu. 一 Eu me preocupava se um dia ele sairia do quarto, assim como me preocupava se um dia eu conseguiria mantê-la dentro de um. Você me ajudou a equilibrar as coisas.
一 Ah, eu...一 Cocei a cabeça.一 De nada?一 Bufei.一 Me perdoe não saber como responder, Sr.Coleman, eu não sabia que Arthur havia te contado.
一 Ele não contou.一 Ele vestiu seu blazer e ajustou a gravata.一 Sei reconhecer quando qualquer um dos dois está apaixonado. Na verdade, sei reconhecer até mesmo antes que eles se deem conta disso.一 Nós concordamos com o olhar, sabendo que falávamos do curioso caso "Joe e Beatrice". 一 Mas Arthur me contou sobre uma coisa que é de interesse tanto seu quanto meu.
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As Órbitas do Sol
Non-Fiction- Beatrice é como o sol. Quente, central e atrativa. Nós somos as estrelas que habitam o seu sistema, mas assim como ele, contamos histórias através do tempo. ________________________________________________ Este livro é derivado da duologia "Onde...