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Apesar de ter almejado estar com Charles por tantos anos, eu demorei algumas noites para entender que aquilo se tornava real. Ele não só gostava de estar comigo como também almejava isso assim como eu, por muito tempo. Eu sentia vontade de chorar todas as vezes que ele dizia "eu me preparei para duas coisas durante os últimos anos: Para ser chamado de doutor e para ser chamado de seu". Se isso era uma mentira para me convencer eu nunca saberia, mas gostava do conforto que estar com ele me trazia, então eu não me importava muito com o resto. Na primeira noite, eu não me senti culpada por colocar nossos sentimentos diante dos estudos dele, mas depois de algumas semanas a culpa me corrompeu já que Charlie estava ficando em segundo lugar na turma. Pra mim, se eu estivesse em segundo lugar, seria a pessoa mais feliz do mundo. Pra ele, que é superestimado por ser muito mais novo do que o resto da turma, era o fim do mundo.

" Então faremos o seguinte." Comecei, depois de me certificar de que todas as minhas amigas já haviam saído, e eu me preparava para ir para o ponto de ônibus. " Nós nos veremos apenas nos fins de semana. Não quero atrapalhar você".

"Di, você não me atrapalha, nunquinha." Ele parecia sorrir do outro lado da linha. "E eu não gosto da ideia de esperar cinco dias para te ver."

" Você não vai morrer." Brinquei, sabendo que não seria fácil pra mim também. Já havia um mês e alguns dias que estávamos juntos, mas a forma como aquilo mexia comigo parecia uma eternidade.

" Você não pode afirmar, sou eu quem sabe dessas coisas." Disse. "Aliás, minha mãe quer que você jante com a gente hoje."

Pensei um pouco.

" Isso é uma desculpa sua para que eu durma aí, não é?"

"Talvez." Ele riu. " Mas você sabe que ela gosta quando janta com a gente." E era verdade. Os pais de Charlie ficaram super felizes quando descobriram que estávamos 'juntos', já que sua família era composta por oito gerações de médicos e a minha mãe também era uma. Acreditavam que isso ajudaria a 'perpetuar o legado'.

"Sei que gosta. Mas estou firme na ideia de passarmos menos tempo juntos. Suas provas vão ser na próxima semana e você não pode se distrair."

" Mas eu gosto da minha distração."

" Charles Rider." O repreendi.

" Ok, ok." Ele se deu por vencido. "Falaremos disso depois. Como foi o encontro com as meninas?"

"Ah meu Deus, foi ótimo!" Me empolguei subitamente, olhando para os dois lados antes de atravessar a rua. "Andrea está grávida de três garotas! Três! Dá pra acreditar?"

Ele não respondeu de imediato. Parecia tão surpreso quanto nós.

"É difícil de acreditar." Concordou. "Nossa, isso é raro. Vocês com certeza estão muito felizes que não terão que brigar por um único bebê." riu. "Mas como os dois estão com isso?"

"Assustados." Expliquei. "Claro, deve ser assustador. Mas vamos dar todo o apoio do mundo para que essas meninas venham ao mundo com muito conforto, amor e carinho. Quando passar o susto, eles vão se sentir mais felizes, tenho certeza." Afirmei com convicção.

"Que bom." Charlie bocejou. "Se tiver algo que eu possa fazer, me avise." Pediu.

Antes que eu pudesse responder, uma buzina logo atrás me assustou, me fazendo arfar.

Uma caminhonete azul petróleo estava atrás de mim, e fiz questão de olhar para todos os lados para ter certeza que eu não estava de frente de uma garagem ou uma via que não era para pedestres. Eu não sabia o motivo da buzina, até que o motorista colocou o rosto do lado de fora da janela.

As Órbitas do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora