Capítulo XII

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Cinnamon in my teeth
From your kiss, you're touchin' me
All the pills that you take
Violet, blue, green, red to keep me at arm's length don't work

Cinnamon Girl - Lana Del Rey

O carro estacionou de frente para a minha porta enquanto Edgar apertava minha mão com mais força. Anna começou a latir para sair e eu abri a porta para que ela fosse na frente enquanto eu me despedia dele. Não vou mentir que esse momento é estranho, não quero me despedir. Existe uma intensidade que eu simplesmente não consigo colocar em mãos, ela consome todo meu corpo e não gostaria de deixar que ele fosse embora.

- Por que não entra e fica?

Ele sorri e volta a apertar minha mão, eu o beijo e sinto sua mão passar pelo meu cabelo enquanto desce pela minhas costas. Eu poderia ficar repetindo todas as nossas vivencias várias e várias vezes. Não eram tantas, mas eram tão intensas. Edgar se afasta e me dá um leve beijo na testa.

- Hoje eu não posso, mas amanhã nos vemos.

Eu assenti e me despedi dele, vejo o carro dele partir enquanto entro na minha casa e fecho a porta atrás de mim, percebo que tem um sorriso estampando meu rosto quase que inconsciente. Pego meu celular pela primeira vez ao dia e tem umas algumas mensagens da minha irmã sobre a lua de mel. Arrisco-me a mandar algumas mensagens sobre Edgar para ela e ela se empolga, no entanto, tento não fazer alarde. Minha irmã é o tipo de pessoa que poderia criar expectativas enormes sobre coisas simples, mas dentro desse quesito, não quero que ela me forneça expectativas a mais do que estou criando. Gostaria de levar todas essas sensações com leveza apesar de saber que já estou entregue demais, não preciso da minha irmã reforçando a isso.

Tomo um banho demorado enquanto deixo uma comida esquentando no micro-ondas. Quando saio do banho, Anna está dormindo no meu sofá, pego meu celular pois a notificação de minha irmã apita. Coloco um pedaço da minha comida no prato, separo os talheres e aí percebo que não foi minha irmã que me mandou a mensagem e sim um número não salvo. Não dou muita atenção enquanto a mensagem carrega mas assim que chega, meu corpo gela. O talher caí da minha mão junto com o celular da outra.

"Dorinha, sinto sua falta e você sabe o que isso quer dizer, por favor, me diga onde está e eu irei".

Meu coração pausou, eu senti minhas mãos tremerem. A mente sempre para quando percebo que ele sempre volta a me procurar. Antes de mais nada, tem muita coisa que aconteceu que fez eu me mudar de fato da minha cidade. Na minha cidade, sou Doralice Querez, filha dos maiores farmacêuticos de todo o país. Crescida com a melhor educação, irmã da grande influencer Alicia Querez. E ainda assim, sou tudo o que não querem ser.

Nossa família é famosa pelo dinheiro, pelas grandes festas, e minha irmã também tem a parcela de nos deixar famosos. Ela é uma grande socialite, conhecida em todas redes sociais e teve mais um porém na história: Ricardo é casado com uma atriz muito conhecida e querida pelo público, por volta dos meus 22 anos, um paparazzi postou uma foto minha com Ricardo e eu me tornei amante odiada de todas as páginas de fofoca. Eu não me importava com isso. Que se dane qualquer revista, qualquer ódio gratuito na internet. O problema é que ser odiada era o que eu sempre fui todos os dias da minha vida e ter tanta gente afirmando coisas sobre mim me fizeram acreditar. Apesar, do Ricardo ter começado a abusar de mim quando eu era uma menina, eu sinto que nunca fui vítima, sinto que cada coisa fui eu que deixei e mereci. Não fui?

Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto o medo surgia do Ricardo aparecer na minha porta como ele sempre fazia, mas agora eu estava longe, em outra cidade. Ele me acharia mesmo assim? Existem tantas formas de saber onde estou. Eu nunca tive ninguém além dele, e ele montou todo um espaço para fazer eu me sentir especial. Eu nunca me senti vítima mas sempre me senti tão suja. Permaneço sentada mas toda fome deu espaço para um buraco de enjoo no meu estômago e sei que não vou me alimentar mais até que eu esqueça e o medo diminua. Talvez eu devesse me arriscar a chamar Amanda para passar a noite comigo, enquanto disco o número dela, uma memória vem com muita força.

MAIS QUE UM CASO, DORA [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora