Epílogo

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Estou sentada na cadeira de piscina lendo um livro enquanto minha irmã ouve música ao meu lado. Anna está dentro da piscina enquanto o sol quente ainda está vivo, minha cachorra ama piscina. Só de pensar em tirá-la, ela nada para bem longe de mim. Gosto desses momentos dela fugindo, por vezes,  aviso que vou tirá-la muito tempo antes da realidade só pra vê-la fugindo. Essas memórias são realmente agradáveis.

Não foi uma má ideia vir morar com Alicia, eu tinha uma vida muito boa. Sem meus pais e com as necessidades dela, eu sempre estava me sentindo bem naquele lugar. No final das contas, eu me sentia feliz de ter voltado pra capital ainda que por um tempo acreditasse que nunca o faria.

Uma coisa nao exclui a outra: ainda considero que foi de extrema boa escolha ter ido morar longe por certo momento. Me trouxe a certeza da independência e a identidade de volta. A experiência me deu coragem para viver e me realizar de todas maneiras. Agora, eu sabia que apesar de toda contrariedade eu conseguiria sim viver sozinha.

Eu era capaz de fazer o que quisesse.

Eu de verdade nunca havia acreditado que poderia me dar tão bem sozinha.

As circunstâncias não mudaram, e talvez eu pudesse considerar a minha ida uma tragédia se fosse observar o final que eu e Edgar tivemos.

E é verdade.

Nunca me apaixonei de maneira tão intensa quanto o fiz por Edgar: as noites ainda eram difíceis, as músicas tinham que ser trocadas rapidamente dependendo do teor que tivesse para que o sofrimento que eu tinha não aumentasse. Eu vivia a dor pela noite enquanto buscava a felicidade durante o dia.

Desejei pelo resto dos dias que ele aparecesse na minha porta pedindo desculpas, e acho que honestamente, em segredo, ainda o desejo.

Mas a verdade e olhando todo o entorno,  eu só tinha vivido a vida da maioria de mulheres no mundo. Quantas por dia não são enganadas?

Quem nunca achou que teria alguém pra sempre que foi embora?

Acredito em finais felizes mas sei que o meu final triste não foi o primeiro e não  será o último.

Edgar não teve dúvidas de voltar para Isabela.

Eu não tenho dúvidas que o amei.

Todos os dias eu me lembrava dele e quando recebi a última carta de Ricardo, as coisas fizeram mais sentido. Ricardo sempre foi um dos homens mais poderosos do país e assim que soube de Isabela, fez um plano para que ela retornasse. Ele lhe ofereceu por meios intermediários uma proposta irrecusável de emprego e estudo.

Isabela não sabia do porque de ter recebido tal proposta, mas não a recusou. Ricardo me contou em sua carta que precisava provar o valor de Edgar.

Ele sabia que Edgar me deixaria.

Depois de alguns meses pensando, eu não eximi em nenhum segundo a culpa de Edgar: se o amor dele fosse verdadeiro, o mínimo que ele teria feito é me dar algum tipo de satisfação. Mas então, ele decidiu que só ignorar tudo era o melhor.

Talvez para ele tenha sido.

Para mim, as doses de dor diárias ficaram. No entanto. parte de ser livre era isso: assumir que a vida adulta era lidar com outras pessoas e que elas poderiam não ser honestas conosco.

Fecho o livro que estou lendo e olho para Alicia, ela está cochilando ao som de alguma música que eu não conhecia. Sua barriga está recebendo um pouco de sol, mesmo que dormindo suas mãos estão em volta de seu ventre como se o protegesse. Volto meu olhar para Anna que toda hora sai da piscina para pular de novo dentro dela, encaro a beleza daquele lugar tão lindo que vivíamos. Eu  tinha de fato, ainda muitos sonhos e momentos bons.

O que desejo nesse momento é que exista tempo para viver eles e que eu possa deixar o passado de lado. Estou passeando pelos meus pensamentos, quando sou interrompida por Eliza, a secretaria do lar de Alicia com um breve pedido de licença antes de dizer:

– Dona Doralice, sua terapeuta chegou.

Assinto com a cabeça e digo que já estou indo enquanto agradeço o aviso. Aviso Alicia que acordou com Eliza que ficarei no escritório pelo tempo da consulta.

– Tudo bem, até daqui a pouco.

Ela diz, ainda sonolenta mas me olhando. Me levanto e vou até a terapia dessa semana e que enquanto a dor não passe, eu possa cuidar dela.




Fim.











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