Capítulo XIV

4 2 2
                                    


Quando seus olhos cruzaram o meu, imediatamente meu coração se aqueceu de esperança. Ali estava tudo o que eu podia menos esperar em tão pouco tempo e que tão rápido foi me concedido. Meu sorriso espontâneo foi a melhor boas vindas que eu poderia oferecer além de abrir espaço para ele passar por mim e entrar na minha casa. Edgar deixou seus sapatos na entrada e como já conhecia a casa, se encaminhou para colocar em cima da mesa a pizza e o refrigerante.

- Eu não imaginei que passaria por aqui hoje.

Ele veio até a mim, me deu um leve beijo nos lábios da maneira mais gentil e casual que poderia ser. Seus olhos me encararam de uma maneira suave e amorosa como se eu fosse um objeto raro de encontrar. Arrisco dizer que ninguém nunca me olhou daquela maneira, suas mãos puxaram minha cintura antes de dizer:

- Quis te fazer uma surpresa. Meu dia foi ocupado com o cinema, mas não queria deixar de te lembrar de mim.

Eu sorri.

- Como se eu pudesse esquecer de você, Edgar.

Ele voltou a me beijar e parei para pensar que talvez eu devesse contar algumas coisas da minha vida sobre ele para prepara-lo porque claramente se ele pesquisasse meu nome no Google não leria coisas muito boas. Eu sabia que não havia promessas e compromissos feito entre nós dois, mas tudo aquilo parecia ser muito honesto e eu sentia vontade que ele pudesse saber e escolher minhas falhas e erros também. Mas como eu poderia lhe contar tanta coisa? Não era o momento, mas talvez algumas coisas pudessem ser ditas. No entanto, me permeava os pensamentos, quais coisas?

Tudo era delicado demais.

- Claro que é possível.

Ele me responde com um sorriso que brilha mais do que centenas de fogos de artifício. Será que ele é tão bonito assim ou só estou apaixonada? Sempre me disseram que é como se ficássemos cegos quando nos apaixonamos por alguém, mas eu acho que é difícil ele ser tão extraordinário só por causa dos meus hormônios funcionando, certo? Eu terei que esperar para saber, porque agora só quero abraça-lo e é o que eu faço dizendo que já estava com saudades dele. Ele retribui antes mesmo de eu temer que aquilo ainda não deveria ser dito.

- Me conte sobre seu dia, Dora.

Ele pede enquanto me convida a sentar na minha própria mesa e se servir. Eu pego dois pratos mas ele prefere comer com as mãos a pizza, o que me faz querer acompanha-lo. Na minha família, isso seria impensável, mas eu amo poder fazer isso. Desatino a contar sobre a festa de ontem que eu me arrisquei a ir, não digo o motivo de imediato, mas falo que tinham coisas pessoais me deixando ansiosa e que resolvi ir até a festa para distrair a mente. Eu relato como acordei de ressaca e ele ri de mim como uma pequena criança a qual ouviu uma piada pela primeira vez. Não tem nada que eu não ame nas suas reações. Edgar também tem sua vez de contar sobre seu dia com as mãos engorduradas da pizza, ele descreve alguns problemas administrativos que ocorreram no cinema e que ele teve que resolver ao mesmo tempo que tinha um trabalho da faculdade atrasado que estava o preocupando.

- Quer dizer que o mocinho, ao invés de estar fazendo o trabalho da faculdade está aqui na minha casa comendo pizza?

Eu dou uma bronca em forma de brincadeira nele, que levanta as mãos para o alto se declarando culpado e rindo.

- Eu não conseguiria fazer esse trabalho depois desse estresse todo que passei no trabalho. Precisava de algo que me desse paz.

Eu sorrio porque sei muito bem que isso foi uma declaração. Por mais cansado que estivesse, Edgar escolheu minha casa e a mim para ser seu ponto de refúgio e aquilo me dava uma sensação única de todos momentos que vivi até agora. Faço questão de comentar:

- Te dou paz?

Ele enrubesce. Dá uma leve abaixada na cabeça mas em seguida volta a me olhar.

- Você é minha paz nesse momento.

- Isso não é muito profundo para dizermos um ao outro?

Eu o observo enquanto ele procura palavras para responder.

- Você pode estar certa mas é a verdade.

Me seguro nessas palavras enquanto busco que parte do meu coração não tenha um ataque cardíaco de tão rápido que o sinto pulsar. Observo seus jeitos enquanto me pergunto se esses trejeitos farão parte da minha rotina e tento não pensar o quão eu gostaria que fizesse. O jeito que segura a pizza com as duas mãos, o modo como mexe no cabelo, sua seriedade que as vezes faz parte do momento. Todas essas partes já fazem modo de como o vejo e de como gosto de assistir esses pequenos detalhes. Ele termina de mastigar e continua a dizer o que estava falando:

- Eu sinto que não precisamos de muito tempo para realmente apreciarmos alguém, não da forma como eu te aprecio.

- É completamente reciproco.

Me perco nos seus olhos assim como ele parece estar perdido nos meus por um milhão de segundos mas a mágica acaba assim que a campainha toca e eu posso ver uma carta passando por debaixo da porta. Me levanto atenta e abro a porta o mais rápido que posso mas já não tem mais ninguém ali o que seria impossível. Mas não era, já que havia acabado de acontecer. Me abaixo para pegar a carta e o que está escrito já é um alerta de que eu precisava fugir para o mais longe possível. Meus contos de mágicas passavam de magia para pesadelo em questão de segundos então eu conseguiria sentir o terror só com aquelas duas simples palavras escritas.

- Dora, você está pálida. O que houve?

Me sentei no sofá, ainda assustada.

No envelope da carta em uma caligrafia que eu conhecia tão bem quanto meu próprio corpo, estavam as seguintes palavras:

Para Edgar e Dorinha,

De Ricardo Valentin.

Como ele poderia saber e já estar tomando conta da minha vida como sempre fazia? O que havia dentro daquela carta?

- Edgar, tenho coisas para te contar sobre mim e tenho medo dessa carta.

Seus olhos mudaram, e como eu rezaria para que eles não mudassem no momento em que disse aquelas palavras.

MAIS QUE UM CASO, DORA [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora