Capítulo XIII

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Dor de cabeça instalada com grande sucesso ao acordar mas finalmente o medo de Ricardo estar ali ao acordar havia passado. Ele estava na sua cidade, esperando que eu lhe desse corda como sempre fiz para que invadisse meu mundo, só que isso não aconteceria. A noite passada foi interessante, cheia de jogos alcoólicos que me fazem pagar com dor e enjoo matinal. Sempre prometo que não vou beber mais depois dessas noites, o que é óbvio que não acontece. Anna está esperando para fazer suas necessidades então simplesmente abro a porta e ela saí calmamente não se afastando do quintal.

Percebo ao abrir o armário que o café acabou então sei que logo mais vou sair para buscar, mas não agora. Tomo um banho quente que me renova a alma e penso em Edgar, acho que ele não me mandou mensagem hoje ainda. Mas ele deveria? Ou eu deveria enviar? Não faço ideia de como funciona inícios de relacionamento mas consigo sentir a ansiedade igual as famosas borboletas no estômago. Eu gosto da forma como me sinto, feliz e livre para andar por aí mas um leve resquício da noite passada surge no meio desse bom sentimento: ouvi falar sobre a Isabela.

Edgar citou o nome dela quando falou sobre o último relacionamento mas ontem falaram um pouco sobre a história deles: famílias próximas, amigos de infância inseparáveis, relacionamento saudável e invejado por metade da cidade, aparentemente um relacionamento que finalizou com a ida dela para a Inglaterra da melhor forma possível. Todos queriam viver o que Edgar e Isabela tinham juntos então quase que se torna um pesadelo ouvir aquelas palavras: será que eu seria a terceira pessoa de novo? A água caí enquanto eu me perco em pensamentos que não deveriam existir. Ou pelo menos, eu queria que não existissem.

Saio do banho e Anna já entrou em casa, está deitada na cama observando enquanto seco meu cabelo. Pauso o cuidado comigo para por ração e água para ela, o que a deixa feliz. Os momentos com Edgar rodam minha cabeça de um lado para o outro, e eu me sinto feliz mas ao mesmo tempo ansiosa. Acho que estou um pouco nervosa depois do que ouvi sobre Isabela, isso me ascende gatilhos específicos. Lembranças muito específicas que tento desviar mas não consigo me controlar ou controlar minha própria mente então apenas desisto e aceito que elas estão ali.

 Lembranças muito específicas que tento desviar mas não consigo me controlar ou controlar minha própria mente então apenas desisto e aceito que elas estão ali

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17 anos.

Passo pela portaria do Hotel, o qual Ricardo é dono, com muita facilidade. Aqui todos me conhecem e não citam uma palavra sequer sobre sua esposa na nossa frente. Os murmúrios são óbvios, todo mundo sabe que eu sou amante de Ricardo. Neste local, me tratam como se eu fosse a oficial. A esposa dele não vem aqui, e ele só aparece por aqui quando quer me encontrar com tudo isso me sinto estranha. Entro no elevador e vou até a suíte master separada para nós sempre, ela nunca é alugada. Estou faltando aula para estar aqui hoje, o que não é incomum.

Desço no último andar, estou de vestido preto e uma bolsa do lado. Destranco a porta e Ricardo já está sentado na escrivaninha que ele pediu que colocasse ali. Ele sequer se vira para trás, mas estou acostumada com o jeito dele. Ele continua escrevendo o que julgo ser um email da distância que estou, tiro minhas sandálias ainda em silêncio e sento na cama.

- Acho que cheguei.

Digo em um tom de voz casual. Ele me olha pela primeira vez de cima a baixo como se eu fosse um objeto:

- Não gosto quando usa esse tipo de vestido. Sensual demais.

Suspiro me sentindo um pouco envergonhada. Escolhi esse vestido pensamento especialmente no que ele acharia, não queria que o incomodasse. O olhar dele não ficou muito tempo em cima de mim, mas ele continuou falando:

- Estou terminando um email importante mas já lhe dou atenção, Dorinha. Trouxe algo para você, está em cima da mesa de cabeceira.

É chocolate, reconheço pela embalagem. Gosto de chocolate, fico feliz por ele ter lembrado de mim e trago algo, isso me deixa verdadeiramente contente. Pego um dos bombons enquanto agradeço, mordo e espero que a atenção dele venha para mim. Em algum momento, ele virá.

A certeza não falha, assim que ele termina de escrever o que quer que seja, casualmente, ele se vira para mim:

- Gostou do presente?

Eu assinto com um sorriso.

- Que bom, estou cansado. - Ele diz vindo em minha direção e dando leves beijinhos no meu pescoço. - As crianças lá em casa estão agitadas, isso deixa Luiza estressada e é um inferno porque ela desconta em mim.

Luiza é sua esposa.

- Ela não tem babás, empregadas o suficiente para quatro famílias? Você não lhe dá tudo isso?

Digo com um pouco de desdém, porque eu só recebo chocolates. Verdadeira tristeza. Não vou pensar nisso agora considerando que ele tirou o dia para ficar comigo e não quero nenhum tipo de briga.

- Quem tem e recebe tudo é ingrato, Dorinha.

Ele diz isso já me puxando para um beijo que leva para o caminho do que ele realmente quer de mim. Na época, aquilo parecia melhor do que é lembrar hoje e quase me perco num sentimento irreconhecível. Ele me tocava com anseio, me arranhava quase que com ódio e passava sua boca tendo a certeza que aquele corpo era só dele e que só ele dominava. Em algum momento, enquanto ainda estava seca, ele estocava dentro de mim com raiva enquanto eu era proibida de me mexer.

Ele dizia que queria que eu ficasse o mais imóvel possível até gozar dentro de mim e quando o fazia, se jogava para o lado. Não sabia direito que eu precisava sentir algo a não ser orgulho de o satisfazer então eu apenas ficava ali nua esperando alguma demonstração de afeto que não viria pois em noventa por cento das vezes, ele se levantaria, tomaria um banho e iria embora enquanto eu ficaria deitada por mais horas encarando o teto e sentindo algo que definitivamente não é bom.

 Não sabia direito que eu precisava sentir algo a não ser orgulho de o satisfazer então eu apenas ficava ali nua esperando alguma demonstração de afeto que não viria pois em noventa por cento das vezes, ele se levantaria, tomaria um banho e iria e...

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O dia passa rápido e eu não crio coragem para fazer nenhuma das coisas que queria: mandar mensagem para o Edgar e comprar café. Me arrumo e fico deitada como se não tivesse nenhuma costura pendente. Tenho um problema com ser minha própria chefe que é o fato de eu não ser muito exigente, então as vezes enrolo um pouco nas atividades obrigatórias. Costura é um prazer mas as vezes quando tem aquela obrigação fixa, eu me estresso.

Anna balança o rabo ao anoitecer antes mesmo de eu perceber qualquer alteração, mas logo ouço batidas na porta e ela se põe a latir loucamente. Não penso muito antes de abrir a porta e ver Edgar do outro lado dela com uma caixa de pizza e um refrigerante numa sacola. Ele sorri e esqueço todos os erros que eu cometi na vida por um segundo:

- Trouxe comida para nós.


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