CONTO VII - CA

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NOTA DA AUTORA:

Olá, pessoal!

Eu agradeço de coração a todos que compreenderam o momento pelo qual eu estava passando - e ainda estou, para ser honesta. O luto não some da noite pro dia, meu coração ainda dói e por vezes ainda choro de saudade e, num ato de egoísmo, pela "injustiça" dessa separação forçada. Minha prima não foi a única  da minha família a ser levada pelo câncer, mas foi a que mais mexeu comigo pela proximidade.

Ver a solidariedade de vocês só me ajudou a continuar, a arranjar forças para caminhar para frente. Obrigada MESMO! E por isso, aqui vem mais um conto! Eu estava até ansiosa para postar esse, porque faz parte de uma cena do livro que muitos estavam aguardando para ver a resolução kkkk e quero ver a reação de vocês.

Infelizmente eu ainda não posso confirmar um dia exato ou período de postagens, mas saibam que faltam poucos para acabar em definitivo. E o último - que virá em abril - será ainda mais especial! Agora, curtam mais essa aventura! Um beijão!

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CONTO VII


Não adianta, a sensação de impotência é uma bigorna sobre cada maldito músculo meu, mas principalmente sobre meu tórax. É assim que minha mãe se sente, ao me observar desmantelar pouco a pouco? Do mesmo jeito que a mãe da Elis está se sentindo agora?, pensei, quando a melancolia encontrou uma brecha e se esgueirou por ali.

Aquela pressão ao redor do meu peito, a que impele um choro descomunal, está aqui, nas lágrimas que não vêm nunca, e isso só me deixa mais irritada comigo mesma. Meu pai, nosso infiltrado na Polícia Civil, têm tentado me manter atualizada, mas não é uma tarefa nada fácil considerando que ele não trabalha na Delegacia de Descoberta de Paradeiros, nem conhece ninguém de lá.

— Ei.

O tom manso de Zaph estoura minha bolha como uma faca afiada mais que bem-vinda. Abro os olhos, voltando a realidade. A claridade fere por instantes minha visão, estoura a saturação, mas logo normaliza. Ele está a um passo de distância, mas o fato de eu estar deitada na espreguiçadeira da piscina e ele ao pé dela, me dá a impressão de que está mais longe. Envio-lhe um sorriso tristonho.

— Ei.

Zaph, em toda a sua gloriosa compleição física, contorna a espreguiçadeira de metal e deposita um copo de suco de caju sobre o tampo de vidro da mesa arredondada ao lado. A água condensada escorre pela superfície do copo e o gelo tilinta. Eu observo os movimentos de Zaph como se estudasse minuciosamente um objeto num laboratório: a forma com que a iluminação citrina do fim de tarde incide sobre os sulcos de seu abdome, e ressalta as pequenas cicatrizes repuxadas aqui e ali em seus ombros largos; o oblíquo misterioso que desaparece através do cós de sua bermuda; as sombras que definem ainda mais a impetuosidade de suas sobrancelhas e a amenidade em seus olhos; a junção de ambos aspectos no delinear de seus lábios; a decisão em seu queixo angular; as veias em seu pescoço ao redor do pomo de Adão...

Na maior parte do tempo, saber que meu cérebro analisa cada átomo das pessoas em suas diferentes perspectivas não me incomoda. Já está incrustrado em mim, e me faz sentir que estou um pouco mais próxima do meu pai. Mas, em vezes como essa, me aborrece. Pela simples razão de eu não conseguir desligar essa reação. Sempre em busca de algum sinal de alerta, de fuga.

Jogo o pensamento para escanteio por breves segundos quando Zaph se abaixa e engatinha. Meu coração acelera à medida que ele se apropinqua de mim, escondendo-me em sua sombra. Meu fôlego torna-se escasso quando me vejo presa nesse entremeio indecifrável e imprevisível que sempre me excita. Seus braços estão esticados ao meu lado, os veios saltados na parte interna, os longos dedos firmados no ferro da beirada, e os joelhos de cada lado das minhas coxas não me tocam, mas deixam um questionamento no ar. Eu poderia escapar de sua prisão, poderia recusar, poderia... mas não quero.

As Aventuras (Eróticas) de Alice e ZaphOnde histórias criam vida. Descubra agora