CONTO III - SEI

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— Você está quieta. — A voz de Zaph chega até meus ouvidos e volto à realidade. Torno meu rosto para o vampiro, que está ao volante. Com um movimento rápido, seus olhos se desviam da estrada para me vigiar de soslaio. — Não me parece alguém que está de férias.

— Ah. Viajar de carro sempre me deixa reflexiva.

Como exemplo, um silêncio se sobrep...
— Já usou um teto solar? — lança Zaph.

— O quê? — Minha voz treme na repressão de uma risada.

O painel de vidro na cobertura arqueada do carro emite um ruído ao deslizar para trás, e permite que um vento turbulento e frio entre.

— Vou aceitar isso como um não. Aproveite.

Mantenho os olhos na direção de Zaph, encaixado no banco do motorista e o vampiro perpetua com o foco na estrada, embora haja um sorriso diminuto ali. Quero perguntar "é sério?", mas eu já sei a resposta, então inspiro fundo.

— Co-como... — Procuro um meio de me apoiar e ficar de pé. Espera, eu nem tirei o cinto ainda. Ai minha Gaia, e se eu cair? — Me segura? — indago, meus dedos apertando a borda retangular metálica acima da minha cabeça. Enxergo Zaph abrir um sorriso, ainda mirando adiante, mas estende um braço para envolver minhas panturrilhas. — Pensando bem, não me segura, coloca as duas mãos no volante. Coloca as duas mãos no volante!

O sorriso se mantém estampado em seu rosto.

— Eu consigo te segurar e dirigir ao mesmo tempo.

Inspiro e expiro rapidamente pela boca, então emerjo pela abertura. O vento forte e fresco me atinge de imediato, chacoalhando meu cabelo. O perfume de terra molhada e a essência acética de asfalto queimado se esgueiram para dentro das minhas narinas. O sol ascende cada vez mais alto através das rochas intercaladas com as árvores nas margens da via expressa serpenteando pela Serra das Araras, e elas passam como vultos, que misturam tons de verde com o preto e o cróceo fugaz quando o sol brilha por entre elas. Os automóveis voam pela pista e eu deixo a sensação me inundar, fecho os olhos e levanto os braços, voando também.

Ao voltar para dentro, aos risos — e com o cabelo mais embaraçado do que um ninho de cobra, com certeza —, os sons externos se abafam no quando Zaph aciona o botão para fechar o painel.

— Obrigada. — Me inclino para despejar um beijo em sua bo... era para ter sido na bochecha, mas o filho da mãe virou na hora e sua boca se chocou com a minha. Ele logo volta para frente.

— Esse carro originalmente não vinha com teto solar.

— Own, você mandou instalar só por mim? — Bato os cílios algumas vezes.

— Não. — Faço um bico.

— Babaca.

— Essa vai ser a viagem mais torturante que eu já fiz. — Zaph anuncia após um suspiro. Franzo o cenho e retorço os lábios de leve.

— Por que? — pergunto, recolocando o cinto de segurança — Eu nem pus minha playlist de desenhos animados ainda.

— Porque meu pau já está duro e nem estamos na metade do caminho. — Mordo o lábio inferior e meu foco é atraído para seu colo, onde um volume considerável se projeta contra sua calça jeans. — Continue me olhando desse jeito e eu paro esse carro no acostamento pra te foder.

Não quer que eu te chupe? Foi a primeira coisa em que pensei. Imagino minha boca cobrindo seu pau enquanto o vampiro dirige, as mãos de veias saltadas apertando o volante... Mas não quero correr o risco de causar um acidente. Além do mais, nem tenho certeza se sei fazer isso. Meu Eros, só de pensar na possibilidade do Zaph, em pouco tempo, me pedir um boquete... Quer dizer, nós estamos numa relação um tanto colorida, não é? E se eu acabar mordendo-o, ou...? O carro começa a diminuir de velocidade, e ouço o característico tic-tac da seta. Volto minha atenção para o vampiro.

As Aventuras (Eróticas) de Alice e ZaphOnde histórias criam vida. Descubra agora