Capítulo II.2

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O melhor presente!

Capítulo II.2: Colocando os pingos nos is.

— Argh…! — gemi de dor.

A brisa que vinha sobre meu rosto, embora aliviasse levemente a queimadura, também fazia com que a mesma ardesse. 

Ainda lembro vividamente de estar há poucos minutos face a face com o vilão de "O melhor presente!"... 

Naquele momento, eu senti um esfriamento na barriga e uma alfinetada na garganta. Tentei controlar minha feição o máximo que pude, o que fazer quando um psicopata pergunta sobre sua identidade? Claramente eu chamei atenção dele. Lógico, Ana! Como uma serviçal saberia consertar um instrumento musical quando nem a própria trupe pôde? Que estupidez, Ana! 

Um zilhão de pensamentos passou pela minha mente, e com a mesma rapidez, tive dificuldade em respirar. 

O vi franzir o cenho. 

— Saudações, Segundo Conselheiro, o digníssimo e sábio! — fiz uma reverência tosca e desajeitada. 

— Certamente! — ele acenou modestamente com as mãos, como se aqueles elogios não pertencessem a ele. O que de fato, não pertencem. — Mas, novamente… Quem és tu, senhorita? — o vi fechar o semblante, como se já estivesse impaciente. 

— Sou uma serviçal que trabalha na cozinha, senhor. Meu nome é Annika. — coloquei as mãos para trás a fim de não mostrar o quanto estavam suadas. 

— Compreendo… Todavia, de que modo tu…— O interrompi pois cai no chão, num falso tropeço. 

Eu fingi tremor e pisquei os olhos freneticamente, o que representa desequilíbrio. 

— Senhor, eu… — limpo a garganta, sinal descortês — deixei um alimento no fogo! É meu primeiro dia, e… — deixei um forte sotaque, mostrando ser nova na capital e ignorante. 

Notei um semblante meio de nojo e repúdio. Ele acenou, como se permitisse que eu saísse de sua presença o mais rápido possível. 

Corri desajeitada, representando minha falta de modos. Me escondi num corredor para tentar voltar à estabilidade, tanto mental quanto física. Minhas pernas estavam fraquejando.  

Ainda o ouvi dizendo: 

— Aquela dali não durará 7 luas. Escutem o que digo. — ele foi respondido com respostas guturais da trupe. 

Quis suspirar de alívio, pois aparentemente, tinha feito o interesse dele por mim ser dissipado. Mas, o medo dele ouvir meu suspiro foi maior. Então, eu voltei pra cozinha depressa. 

Cheguei na cozinha hiperventilando e zonza. Notei que a minha panela ainda estava no fogo. Ninguém nem tocou. É certo que era minha responsabilidade, mas nem uma gentileza? Podiam ter desligado o fogo, né? 

Me aproximei ainda desatenta do fogo, estava borbulhando e quase queimando! Quando fui desligar, o caldo espirrou em minha bochecha, queimou a mesma. Ainda mais,  no susto, bati as costas de minha mão esquerda na panela, queimando também. 

Atordoada, desliguei abruptamente e me afastei. Senti a dor e ao mesmo tempo tentei assimilar o que aconteceu. Olhei para fora e vi que o sol estava se pondo. 

— Comida queimada ou não… preciso entregar a canja ao Fausto agora… — murmurei. 

O meu uniforme tinha manga longa, então pude esconder com a mão ferida. 

"O que faço com a bochecha queimada?", pensei enquanto ia aos aposentos de Fausto. 

Mal pude ver a queimadura pela pressa para entregar a canja. Porém, notei por alto que a queimadura na face era como duas bolas médias na bochecha direita, assim que o caldo respingou eu saí antes que viesse mais. 

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