Capítulo 14

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ANAHÍ

Sinto Alfonso se mexer, abro os olhos, a cabine está em completa escuridão, a não ser pela luz da lua que entra pelas janelas.

Meu Deus! Está de noite!!
Quanto tempo eu dormi?

Levanto a cabeça e Alfonso está dormindo, a mão dele que antes fazia carinho nos meus cabelos, agora está envolvendo possessivamente minha cintura.

- Poncho.. - sussurro passando a mão em seu peito na tentativa de acorda-lo. Ele não se move, subo minha mão para o seu rosto, faço um carinho suave. - Poncho.. - sussurro mais uma vez e nada.

Sua respiração segue tranquila e ritmada. Observo seu rosto na penumbra, ele consegue ser bonito até no escuro. Desço o olhar parando em seus lábios, ele está dormindo tão profundo.. me sinto tentada em roubar um beijo.
Suspiro desistindo da ideia, lentamente e com muito cuidado me mexo tentando sair de seus braços sem acorda-lo, coloco minha mão sobre a dele e levanto com cuidado.

- Onde você pensa que vai? - ele diz em tom de voz normal, e eu quase grudo no teto pelo susto. Sua voz está límpida sem nenhum resquício de sono ou que mostrasse que acabou de acordar.

- Que sustooo!! - dou um tapa nele e encosto minha testa em seu peito tentando me recuperar do taquicardia que ele me causou - Espera aí, você não estava dormindo?? - pergunto olhando pra ele incrédula e sem entender. Ele me lança um sorriso safado apertando mais minha cintura.

- Só queria ver se você ia abusar de mim.. - ele ri e eu abro a boca indignada.

- Aah fala sério, olha pra mim Herrera, eu lá tenho cara que preciso abusar de alguém?? - digo entrando na brincadeira.

- Pois é, uma pena .. - ele diz fazendo um bico - Confesso que estava esperançoso.

- Palhaço..- rio e aperto sua bochecha, forçando-o a fazer um bico pela pressão do aperto. A intenção não era essa, mas não resisto e dou um selinho nele.

Annie, Annie.. Isso ja esta fora de controle! Totalmente fora!!!

Ele abre um sorriso enorme pra mim.

- Viu! Eu sabia! - ele diz convencido.

- Calladito, que te quedas mejor.. - falo rindo e me sento - Que horas são? - olho pra ele - A gente dormiu demais! - ele olha o relógio de pulso.

- 18:49 no Brasil, não faço ideia de onde estamos.. - ele diz e olha pela janela, estávamos voando acima das nuvens, ficando impossível de ver algo. - Com fome?

- Estou, você lembra como olhar o cardápio nisso? - pergunto tocando o pequeno tablet.

Escolhemos nossa refeição, chamamos a aeromoça que vem sorridente nos atender, ela anota nossos pedidos e minutos depois volta com o carrinho trazendo nosso jantar.
A comida é simplesmente maravilhosa, o clima entre Alfonso e eu ao contrário do que pensei está ótimo, considero dizer até, que está melhor do que sempre foi. Estamos desfrutando de uma sensação de intimidade intensa, abraços e carinhos aos montes. Alfonso me roubou dois selinhos enquanto conversávamos e eu procurava algo pra assistir na TV enorme que havia na cabine.
Estou confusa em relação a isso, não consigo chegar a uma conclusão, se ainda estamos no "treino de intimidade" que ele propôs ou se estamos entrando numa espécie de amizade colorida. Tão pouco tenho o mínimo de coragem para perguntar a ele, no momento só estou me permitindo viver isso, sem cobranças ou peso na consciência.

Como diz o amigo Zeca, "Deixa a vida me levar."

Horas depois, estamos deitados novamente lado a lado assistindo um filme qualquer, confesso que não sei nem o nome e muito menos o enredo, estou com os olhos fixos na tela, mas a mente vagando longe. Estou deitada com a cabeça apoiada no braço esquerdo do Alfonso, que me envolve num meio abraço e mexe distraído na minha aliança em meu dedo, minha mão esquerda está repousada sobre a minha barriga. Uma cena bem costumeira se fôssemos um casal, claro que ja deitamos juntos antes para ver um filme, mas cada um no seu canto, o normal de qualquer amizade. Mas estar aqui nesse momento envolvida em seus braços, sentindo seu calor e curtindo essa  repentina intimidade, faz eu me sentir tão estranhamente preenchida. Como se eu estivesse voltado para casa depois de uma longa viagem, uma sensação de conforto e pertencimento.
Me viro me aconchegando em seu peito, sua mão desliza gostosamente pelas minhas costas , sinto ele me olhando e levanto o rosto para vê-lo. Ele aperta meu nariz e sorri travesso.

Casa comigo, Hoje?  AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora