The Proposal | Wenclair

A viagem

Enid POV

Assim que cheguei no meu apartamento, arrumei minhas coisas. Não iria precisar de muito, mas foquei em roupas de frio. (Alasca, né)

No dia seguinte logo pela manhã, recebi uma mensagem de Wednesday pedindo, aliás, mandando eu chamar um Uber. Passei no prédio em que ela morava para buscá-la e irmos em direção ao aeroporto.

Entramos no avião e já podia escutar ela reclamando.

— Eu disse que ia pagar a primeira classe para você. Por que raios pegou um vôo econômico pra gente? – Ela fala enquanto buscamos nosso assento. Pude perceber ela com um certo desdém em "estar no meio de pobres".

— Ah meu amor, todo relacionamento sobrevive a certas dificuldades. – Digo com ironia, mas recebo seu olhar de reprovação.

Assim que nos sentamos em nossos lugares, pego uma pasta na minha bolsa e entrego para ela.

— Aqui tem algumas perguntas que vamos ter que responder. Tem uma notícia boa e uma ruim. Qual vai querer primeiro?

— Escolhe você.

— A boa notícia é que eu sei tudo sobre você, já a má notícia é que você só tem quatro dias para aprender tudo sobre mim, então – aponto para a pasta – É bom começar a estudar.

Wednesday para de folhear as páginas e olha nos meu olhos. Nunca havia reparado como o olhar dela é atraente. Ela pareceu surpresa.

— Sabe todas as respostas sobre mim que estão aqui? – Pergunta arqueando a sobrancelha.

— Assustador, não é?

— Um pouco. – Vejo ela procurar alguma coisa nas folhas. – A que sou alérgica?

— Camarão e a qualquer tipo de sentimento humano.

— Ha ha, muito engraçadinha. Hum, deixe me ver... Oh, essa é boa! Eu tenho alguma cicatriz?

— Tenho quase certeza que tem uma tatuagem.

— Quase certeza?

— Sim. Um ano atrás sua dermatologista ligou perguntando sobre uma sessão de remoção à laser. Obviamente fui mais a fundo e descobri que de fato era para remover uma tatuagem. Porém – Faço uma pequena pausa – Você cancelou. E aí o que é? Uma tribal, japonesa ou arame farpado?

Ela se aproxima do meu ouvido e fala quase como um susurro, me causando um pequeno arrepio — Eu diria que é excitante conhecer esse seu lado.

— Vai ter que me dizer onde fica. 

— Isso não é da sua conta. – Ela estreita os olhos.

— Claro que é. Vamos viver juntas agora. Aliás, tenho uma pergunta para você.

— Sou toda ouvidos.

— Como sabe que eu também gosto de mulheres?

— Também? Meu Deus! Eu pensei que fosse lésbica. E à propósito Enid, não é como se você fosse discreta. – Ela responde simples. – Um exemplo disso foi o ocorrido de ontem com o café. Como era o nome dela mesmo? Ah... Lana.

Eu sou bissexual assumida. Contei à minha família quando tinha 16 anos. Eu tinha muito medo que não me aceitassem, mas eles foram compreensivos comigo. Na verdade, a maior decepção que eu já dei à eles foi seguir carreira de escritora.

— Olha, eu nunca me envolvi com essa moça. Ela é sempre um amor comigo quando vou na cafeteria mas não tenho nada com ela. – Respondo sincera.

— Tudo bem garanhã, não somos noivas de verdade. Não precisa me dar satisfação. E já passamos dessa pergunta.

Mais uma vez ela folheia as páginas.

— Vejamos... "Em qual casa irão ficar depois que casarem?" Essa é muito fácil, na minha.

— Por que não pode ser na minha? – Questiono.

— Porque moro na Central Park West e meu apartamento é na cobertura. Já você deve viver em um lugarzinho do tamanho de um ovo com um monte de livros velhos e amarelados. – E isso foi o suficiente para me deixar de mau humor o resto da viagem.

O resto do trajeto foi tranquilo, exceto pela insatisfação de Wednesday por estar achando os assentos desconfortáveis, ou por ter muita gente em pouco espaço.

Depois de algumas horas finalmente chegamos no Alasca. Olhei pela janela e pude ver duas mulheres pulando e segurando uma placa com o meu nome escrito. Era minha mãe e minha avó.

Desci do avião deixando que Wendnesday levasse suas coisas. Ela tinha duas mãos, não precisava da minha ajuda.

Apressei o passo para abraçar as duas.

— Mamãe! Que saudade – Digo dando um sorriso genuíno.

— É tão bom te ver de novo, minha filhinha!

— Ah Esther, está sufocando minha neta! Ande, venha dar um abraço na sua velhinha.

— Vovó! – Abraço ela também. – Cadê o papai?

— Conhece seu pai. Ele está sempre ocupado. – Minha diz um pouco menos sorridente.

— Por que isso não me deixa surpresa?

— Ah querida, vamos mudar de assunto. – Minha mãe me conforta  – E cadê sua noiva?

Tento achar Wednesday e a vejo vindo em nossa direção com uma certa dificuldade por conta dos seus saltos. Qual é o problema de usar tênis?

Faço um gesto para que ela se aproxime mais.

— Aí está ela.

Mamãe tenta abraçá-la mas ela consegue desviar.

— Essa é minha mãe, Esther e essa é minha avó, Annie.

— Muito prazer. – Ela diz sorrindo.

Wednesday cumprimenta as duas.

— Então – Vovó toma a frente – Prefere ser chamada de Wednesday ou de senhorita demoníaca? Por que já ouvimos os dois nomes.

Nessa hora eu gelo de nervosismo. Droga, droga, droga.

Wednesday olha sem entender.

— Ela só tá brincando. – Digo dando um sorriso amarelo.

— Fico muito feliz de terem me incluído nesse final de semana.

— Ah, imagina! Você é da família agora. Bom, vamos levar vocês duas para casa. – Vovó puxa Wednesday para acompanhá-la e a mesma olha para mim julgando até minha décima geração.

Esse final de semana será longo!