Pertencer

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Com a cabeça zumbindo, eu observo Eren e sua filha de dentro do rio, meus pés formigam e meus olhos pesam, mesmo assim, quase não consigo desviar o olhar.

Eu nem mesmo consegui falar com ele. 

– Papa, e as ofefendas? – A voz infantil me desperta do transe, arrepiando meu corpo submerso em água gelada até a cintura em um rio de água cristalina que corre cheio de flores caídas das árvores que nos cercam, todas coloridas, perfumando o ar e formando uma paisagem. 

– Já faremos Gabi, seja paciente. – Eren diz com suavidade, seu cheiro ainda em meu nariz como se estivesse bem embaixo dele, é opressor e maravilhoso ao mesmo tempo, me deixa tenso, sem saber como reagir a isso. – É oferenda, repete para mim, o-fe-ren-da.

– O-fe- – Gabi para um segundo, desviando o olhar em minha direção, enquanto estou na água, ela brinca na margem com Eren. Seus olhos dourados brilharam de curiosidade. – O moço também vai, papa? Ele cheira mal.

– Ele não cheira mal. – Eren corrige, rindo suavemente quando a menina se desequilibra e quase cai. – Cheira mais como confuso.

– Ele melhora se vier com a gente? – Gabi é fofa com seu corpo gordinho e olhos grandes, o cabelo bagunçado me lembra seu pai e a imagem é uma distração ótima do homem lindo parado na margem, seu peito nu brilha e atrai meus olhos. – A deusa vai fazer bem ele, tem ceteza, papa.

– Também tenho certeza. – Rapidamente me viro de costas, ignorando o óbvio olhar intenso de Eren e tento terminar o banho, mesmo que minha pele esteja arrepiada e meu rosto quente.

É estranho tomar banho e ficar pelado diante de outras criaturas, mas aparentemente a nudez não é um problema entre essas, então eu tento soar natural apesar da vulnerabilidade da situação.

Sem anéis, sem armas, ainda dolorido e com a cabeça confusa, não sou nada mais que um peso morto agora, incapacitado.

– Estamos indo deixar oferendas para Ymir. – Eren diz quando eu termino e me aproximo dos dois, uma túnica de peles me é estendida e eu tento não encarar os olhos coloridos enquanto me visto. 

O convite fica no ar, eu escutei os dois falando mais cedo, Gabi parece animada no colo de seu pai, que também pega uma cesta e equilibra na cabeça para carregar, grande demais para ser segurada por apenas uma mão.

Um grunhido saiu da minha garganta quando tomei a cesta e segurei em meus braços, Eren apenas sorriu e logo estávamos entrando em mata fechada.

Não há trilha, mas os dois lobos parecem familiarizados com o lugar, pedras de cores terrosas estão espalhadas pelo chão e a grama parece brilhar, flores acompanham os passos dos nativos, acariciando seus pés descalços no caminho.

Eu bufo quando uma pétala faz cócegas em um dos meus pés. É irreal e eu quase acredito que ainda estou sonhando.

Entre tudo isso, Eren é o mais difícil de acreditar.

– Aqui. – Eren diz, colocando Gabi no chão ao parar, não há nada particular no lugar que estamos, mas ambos parecem satisfeitos.

– Posso cavar? – Gabi pede ansiosa, Eren permite com um sorriso e logo sou surpreendido com pequenas garras surgindo nas pontas dos dedos dela, fortes o suficiente para criar um buraco no chão.

– Você também pode fazer isso. – Ele diz para mim, mesmo sem olhar em minha direção, eu apenas sei. – Abaixe-se.

Obedeço mais rápido do que gostaria de admitir, ficando de joelhos assim como Eren e Gabi, ele alcança a cesta e pega pequenas trouxas bem embaladas de dentro, ignorando os outros alimentos.

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