– Ei, garoto. – A voz rouca de adulto não atrai a atenção do pequeno menino no chão, fios escuros escondendo seu rosto e suas lágrimas, pequenas mãos segurando os joelhos com força, garras minúsculas perfurando a pele, porém imperceptíveis para a criança transtornada no chão. – Nanico, estou falando com você!
O mais velho bufa, cutucando a criatura com o pé, apenas para ser recebido por um rosnado fino e fraco, costelas cutucando seu sapato com o contato.
– Chorar não vai encher sua barriga, coisinha. – Uma mão grande sacode os fios escuros, bagunçando-os sem cuidado. – Você quer comida?
O som do pequeno estômago roncando faz o homem alto sorrir de lado, nenhum humor honesto no movimento.
– Faminto, hein, claro que sim. – Uma faca cai aos pés da criança, é pequena, mas afiada, o reflexo de olhos cinzentos molhados surge na prata. – Criaturas como nós precisam aprender a se virar para sobreviver, o mundo nunca será gentil conosco.
– O que… – Ele fungou, limpando os olhos. – O que isso quer dizer?
– Quer dizer que vou te ensinar a usar isso. – Aponta para a faca, seu sorriso é frio, sem humor. – Meu nome é Kenny, criança, qual é o seu?
– Eu não sou criança, tenho doze anos! – O grito infantil fez Kenny rir com deboche, claro que sim, o garoto não parece ter mais de oito. – Meu nome é Levi!
Ao erguer os olhos, Levi não percebe suas orelhas felpudas desaparecendo entre fios de cabelo escuro, nem as garras se retraindo em suas mãos, alheio demais para notar sua própria espécie, isso causa divertimento no velho feiticeiro, trás lembranças que ele não gosta de pensar, junto delas uma culpa antiga, o ódio e a indiferença, é confuso.
– Você me lembra alguém, Le-vi.
•••
Todos estão falando ao redor, há barulhos dos recipientes com comida batendo contra a mesa, de garras raspando ossos, de mastigação e trituração constante, risadas e conversas paralelas, até mesmo rosnados soando entre as palavras ásperas, tudo ao mesmo tempo durante mais uma refeição em grupo.
Não é como se eu estivesse escutando verdadeiramente, além de nojento, não existem muitas pessoas que me interessam o suficiente para prender minha atenção, eu não me importo e a maioria parece entender isso, me deixando em paz.
– Levi. – A voz de Eren me atrai como uma mariposa nas chamas, meus olhos já estavam nele e minha atenção dobrou em sua figura, quase posso sentir minhas pupilas dilatando apenas com o som de sua voz. – Estou indo.
Ele fala enquanto se levanta, não sei quanto Eren comeu, mas não pareceu o suficiente, e diferente de alguns dias atrás, não há um convite em suas palavras, ele apenas se afasta, criando ainda mais distância, aumentando o abismo escuro que em algum momento surgiu entre nós dois.
Por um momento sinto como se estivesse parado no tempo, observando as costas de Eren se afastando, cada vez mais longe, cada passo pesado assim como as batidas dentro do meu peito, um incômodo envolvendo-o, fazendo com que cada baque que me torna vivo doa, consumindo minha respiração, me deixando ofegante.
– Capitão? Tudo bem? – A voz de Petra quebra o feitiço, meus olhos escapam das costas de Eren apenas para perceber o quão perto ela está sentada, seu braço encostando no meu, suas pernas roçando as minhas.
Petra é tão baixa quanto eu, e bonita também, suas características são praticamente humanas, assim como seu cheiro de suor e sujeira, faz meu nariz se retorcer enquanto balançava a cabeça em concordância, procurando por Eren novamente.
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Ayanmo
Fanfiction》Rivaereri | ABO: alfa x alfa | fantasia《 Em que lobisomens sonham com seu destino: Levi, um feiticeiro bêbado, está sempre sonhando com lindos olhos brilhantes, um verde e outro dourado, vivos e determinados. Encarando-o profundamente a cada noite...