Vulnerabilidade

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Eren estava rosnando muito alto. Como um som de fundo contínuo, eu podia senti-lo vibrando nas pontas dos meus dedos onde estava me segurando em sua pele, assim como o vento jogando meu cabelo para trás, lacrimejando meus olhos e me deixando ofegante.

Ou talvez fossem sintomas do nervosismo que me dominou, minhas mãos estavam tremendo e minha mandíbula mordida com tanta força que doía, eu não me importava.

Nós alcançamos a barreira quebrada muito rápido graças à velocidade surreal de Eren, eu pulei de suas costas sem nenhuma graça para avançar sozinho até a árvore onde tinha deixado o feitiço, Eren bem atrás de mim, respirando sobre minha cabeça e bufando de impaciência.

Como imaginei, o feitiço queimou, me alertando e deixando registrado que sim, alguém atravessou a linha invisível ao redor da fronteira, deixei meus olhos vagarem, da árvore à minha frente até a floresta ao redor, do pequeno rio cortando a fronteira alguns metros adiante e da mata fechada protegendo Maria como um muro vivo.

Não havia sinal de intrusos, nem mesmo cheiro ou marcas, eu e Eren ficamos por longos segundos apenas olhando em volta, confusos e preocupados com a possibilidade de alguém não só ter passado por Maria, mas ter passado e ido direto até a alcatéia.

– Onde eles estão? – Perguntei em voz alta, encarando a fronteira enquanto Eren apenas funga, provavelmente usando seu olfato sensível para sentir qualquer discrepância no ar. – Meu feitiço é adaptado para animais e insetos, não pode ter sido um alerta falso…

Como se ouvisse minha pergunta – Ela ouviu, sim – a floresta se moveu, inicialmente as árvores balançavam como se estivessem seguindo o vento, suas folhas se espalhando e abrindo caminho para grossos galhos que se entrelaçam em movimentos estranhamente coordenados.

Eren rosnou antes que os galhos finalmente revelassem quatro figuras maltrapilhas presas pelos apêndices de madeira, seus membros e barriga fortemente contidos, impedindo-os de sequer mover o pescoço, imobilizados pela própria floresta.

Eren avançou, uma grande pata batendo no chão em direção ao grupo de três machos e uma fêmea que eu reconheci imediatamente, mesmo que seus cabelos estivessem sujos e suas roupas ensanguentadas e rasgadas.

– Espere. – Ergui um braço sem olhar em sua direção, ainda observando fixamente quatro dos membros do meu batalhão, criaturas que eu poderia me considerar próximo sempre que estávamos em campo. – São soldados do meu batalhão.

Eu podia sentir Eren me olhando, olhos diferentes me encarando com o que aposto ser confusão. Não que eu esteja muito diferente agora, é difícil não estar confuso com quatro presenças tão específicas, Petra, Eld, Gunther e Oluo eram confiáveis como soldados de Rose, na Guerra, mas aqui, sob a mira de Maria, que poderia tê-los matado como sempre fez com outros invasores, e de Eren, que continuou cheirando com uma agressividade feroz, eu não soube o que fazer.

– Acha que Maria pode ter acionado as proteções para nos avisar? – Me senti louco, falando sozinho e me referindo à uma floresta viva, mas Eren bufou atrás de mim, seu cheiro desconfiado ao nosso redor cada vez mais forte. – Ela não os deixaria vivos sem uma razão.

Eu podia vê-los se movendo e grunhindo contra os galhos, por conta da escuridão e da distância, cegos e surdos para as presenças metros abaixo deles. 

Eren bufou novamente, como se estivesse resignado, seu cheiro suavizou e seu focinho se esfregou em minha nuca – confiança.

– De qualquer forma, nós poderíamos lidar com eles. – Eu digo rapidamente, olhando por cima do ombro apenas para encontrar olhos diferentes me encarando com preocupação, suspirando, ergo uma mão para esfregar meu pulso onde acredito ser seu pescoço. – Confie em mim.

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