Instinto

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Acordo com batidas brutas na porta da cabana, meu corpo dolorido reclama quando me mexo nas peles duras onde passei a noite, meu estômago está revirado com a falta de tecido ao meu redor e eu sinto muito frio apesar do sol brilhando lá fora.

– Levi, Levi, touxe presentes! – A voz de Gabi atravessa as paredes e a sugestão da presença de Eren me faz praticamente pular da cama desconfortável. Eu ignoro as batidas fortes em meu peito enquanto corro para atender, muito sonolento para notar minha ansiedade com algo tão idiota.

– Bom dia. – Eren me cumprimenta, sorrindo como se fosse o próprio sol, iluminando tudo ao seu redor com o puxar de lábios mais bonito que já vi. – Espero que sua noite não tenha sido muito ruim.

– Foi boa. – Não foi, mas minto mesmo assim, o que não parece convencer Eren, que me olha como se pudesse ler minha mente. – O que faz aqui?

Minha grosseria matinal é deixada no ar quando Gabi me cutuca na perna para chamar minha atenção, ela também sorri abertamente como a mini cópia feminina de Eren, faltam dois dentes e mesmo assim é adorável.

– Papai touxe uma coisa. – Ela me informa com muito orgulho em sua voz fina, eu movo a cabeça em concordância e então olho para Eren, que está com as bochechas coradas, trocando o peso de uma perna para outra enquanto finalmente noto os tecidos presos debaixo de seu braço, parece haver uma dúzia deles, todo bem amarrados por algum tipo de corda. – São presentes.

– Como acabou de chegar, imaginei que não seria confortável dormir em um ninho vazio, então trouxe alguns dos meus sobressalentes. – Murmuro em concordância, sem entender muito como que algumas peles poderiam ajudar, mas aceito mesmo assim, estendendo as mãos e pegando os tecidos.

Apenas para perceber que eles cheiram bem, muito bem, o mel doce na medida certa misturado com o álcool refrescante do vinho, é mais almiscarado que suave e me lembra exatamente de Eren.

É preciso muita força de vontade para suprimir a tentação urgente de esfregar meu pescoço nas peles e ronronar como um maldito animal, cheira-los bem diante de Eren já me torna esquisito o suficiente, obrigado.

– Obrigado. – Minha voz soa seca, mas eu espero que Eren entenda além disso, e estou muito focado na ansiedade que de repente me toma para prestar atenção nos dois na minha porta.

A necessidade de espalhar as peles na cama – ninho – me deixam muito confuso para notar Eren assentindo e puxando Gabi para ir embora, estou muito envolvido no puxão esquisito que me faz relaxar e apagar entre os tecidos que cheiram tão bem, muito confortável na fortaleza que construí tão instintivamente.

•••

Dois dias são o suficiente para eu perceber que Eren de repente está muito distante, ele está sempre nos arredores, mas distante, não me olhando, não falando comigo, não cheirando como eu-

É difícil respeitar a vontade dele, agonizante, mas o faço mesmo assim, observando de longe enquanto outros lobisomens parecem se esforçar para me incluir.

Um velho beta chamado Hannes me convida para caçadas, uma alfa com sorriso malicioso com nome da deusa, Ymir, treina sparring sempre que nós dois estamos livres, uma ômega loira ainda mais baixa que eu, e companheira de Ymir, Historia, sempre me avisa sobre as colheitas e a cultura envolta disso.

As noites são mais vazias e muitas vezes me peguei apenas observando Eren e Gabi de longe. A garotinha sempre acenava para mim, mas os lindos olhos de meus sonhos estavam sempre distantes.

2\– Ei, acho que terminamos aqui. – Historia diz suavemente, seu sorriso doce é um pouco demais para mim, mas aceno com a cabeça mesmo assim, pegando então as duas cestas que enchemos nas últimas horas, ela não reclama do meu cavalheirismo instintivo, parecendo satisfeita observando o tanto que conseguimos colher. – Teremos muitas opções para o jantar de hoje.

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