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Era fim de fevereiro e o vento frio congelava as gotículas de garoa, transformando-a em pequenos flocos. Meu sobretudo escuro tingido de branco e as mãos quase congelando dentro do bolso.
Eu odiava o inverno, embora soubesse que nós dois tínhamos muito mais em comum do que eu queria admitir.
Gélido, cinza, sem coração. Era assim que eu me sentia, sempre que tirava o sorriso necessário e encarava o verdadeiro Thomas River.
A vida não tinha sido muito justa comigo.
Esfreguei as mãos, soprando um pouco de ar quente nas palmas. Fazia muito frio. Aquele clima gélido, que parecia tomar conta de tudo, dentro e fora de nós.
— Você e sua mania idiota de ficar aqui fora, mesmo neste tempo...
Permaneci como estava, olhos voltados para o rio, sem realmente vê-lo. Conhecia bem aquela voz, e aquele tom. Não esperava outra coisa dele, não depois de trinta e sete anos.
— Acha que vai se redimir se pegar uma pneumonia e morrer também? — Os passos aproximaram-se devagar. — Eu avisei a você que a garota era fraca, Thomas! Uma covarde, como sua mãe!
Engoli em seco, as palavras batendo em minhas costas como socos e fazendo o sangue ferver dentro de mim. Cerrei as mãos em punho, retomando o controle. Não ia discutir, era exatamente o que ele queria.
— Dê-me dez minutos, e eu sorrirei para as câmeras como o senhor espera.
Fechei os olhos, inspirando o ar frio de Washington para dentro de mim. Sabia que não ia parar por aí.
— Impulsivo e indisciplinado... — continuou, como eu já imaginava. — O mesmo garoto rebelde de sempre...
Mantive a postura, apertando os dedos com força, engolindo a vontade de mandá-lo à merda. Não queria um rompimento assim, apesar de tudo. Meu pai podia ser um homem amargo e cheio de farpas, mas eu não era como ele e devolver na mesma moeda só me faria mais distante ainda do antigo Tom.
— Como posso morrer em paz, Thomas? Entreguei tudo a você! Meu legado, a força política que sempre tive, e você não consegue passar de um garoto fraco e patético! — esbravejava. — Sua sorte é que os eleitores sempre o apoiam...
Engoli em seco, sabia bem o quanto a sorte havia custado. Um preço alto que eu tinha pagado sem querer, agora o que me restava era a carreira.
O senador mais jovem da Virgínia. O garoto-prodígio da política, a esperança dos americanos. As pessoas não tinham ideia de quanto suor meu havia nessa sorte.
— Acha que exijo demais? — provocou quando percebeu que eu não lhe respondia mais.
Virei-me devagar, a raiva tomando aquele espaço impulsivo dentro de mim.
— Ao contrário... Acho que cuidar da minha carreira está excessivamente cansativo, meu pai... — devolvi do jeito que sabia que doeria mais. — Tire um tempo, descanse... Eu não estou com pressa de me tornar presidente.
— Seu garoto insolente! — Bateu a mão no gradil. — Acha que vai me enfiar embaixo do tapete agora que está alcançando o topo? Que pode simplesmente me jogar fora como a uma embalagem vazia?
— Quero apenas que me deixe em paz... — sibilei entredentes.
Subi a gola do sobretudo de lã, caminhando alguns passos em sua direção.
O tempo me presenteara com alguns palmos a mais em altura e com constituição física suficiente para que ele não me amedrontasse mais, embora sustentasse meu olhar com o mesmo descaso de quando via um garoto franzino.
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O Bebê Inesperado do Senador (DEGUSTAÇÃO)
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