Parte 3 - Sam

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Estou cansada. Na verdade exausta. Estive o dia todo lutando para não perder o controle. "Fique calma, não perca a cabeça, você vai encontrar uma saída."

Disse isso a mim mesma tantas vezes que quase acreditei.

Primeiro tive que me assegurar sobre o estado de saúde da vovó e entrei em contato com os melhores médicos do país para me atualizar mais uma vez sobre a última estadia dela no hospital.

Então me certifiquei de que ela está cuidando da saúde, tomando os remédios e descansando em casa.

Vovó já estava bem consciente de sua situação e parece bem tranquila apesar de ter dito que sua reação inicial foi muito pior. Sua única preocupação era sua solidão.

Não posso levá-la para minha casa. Não posso ficar no palácio o dia todo. Não posso trazer minha família para cá.

Ela já parece feliz só de eu passar poucas horas fazendo companhia para ela.

Estou num dilema sério. Mas farei o que estiver ao meu alcance para que ela fique confortável.

Ela também me pediu algo que no início não entendi o ponto, mas que ao me explicar fez sentido.

Os médicos lhe disseram que sua doença cardíaca poderia ser hereditária. Exames podiam constatar a doença antes dela apresentar sintomas e avançar, então ela quis que eu os fizesse.

Essa era a minha última preocupação, mas ela me fez pensar em minha família, minha esposa e meus filhos.

Não posso deixa-los sozinhos.

Eu sei que Mon é forte o bastante para cuidar de si e dos nossos filhos, ela poderia viver sem mim mesmo sentindo minha falta, mas eu não quero deixa-los. Não posso perdê-los.

Esse é um argumento que pesa bastante na minha decisão de fazer os exames. Infelizmente os resultados saem em dois dias.

Preciso ir para casa. Não vejo Mon e as crianças o dia todo.

Sinto tanta saudade deles. Mas se eu ficasse em casa toda essa carga pesaria em cima deles também.

Não posso deixar isso acontecer.

Devagar entrei no quarto dos pequenos. Só de olhar para aqueles rostinhos dormindo tranquilos em suas camas eu recarrego metade das minhas energias.

Minha pequena flor Mali. Beijo seu rosto. Ela é tão linda e delicada. Tão esperta e travessa. Seu lindo sorriso nunca deixa de iluminar o meu mundo.

Meu rapazinho Meenoi é muito inteligente e gentil. Ele é calmo e afetuoso como um pequeno príncipe cheio de bondade no coração. Ele é tão parecido com Mon.

Não quero acorda-los agora então me despeço afastando sua franja para deixar um beijo em sua testa.

O livro de contos está em cima da mesa. Mon deve ter lido essa noite para acalmar e faze-los dormir.

Me sinto culpada.

Eles gostam que eu os coloque na cama, mas eu não estava aqui. Não consigo dormir.

Ainda estou preocupada com a doença de vovó e com o resultado dos meus exames. O que eu farei se as coisas derem errado?

Não estou preparada para isso.

Quando entro no nosso quarto encontro Mon dormindo seu rosto tão sereno me faz renovar todas as minhas energias.

Ela é o meu lar. Meu porto seguro. Meu pequeno raio de sol.

Não sei o que eu faria sem essa mulher.

Mesmo no escuro posso admira-la enquanto dorme. Sento no chão e velo seu sono enquanto o meu nem dá sinal de chegada.

Nem percebi o dia amanhecer, mas a visão da luz do sol entrando pela janela e alcançar seu rosto é maravilhosa.

Quando ela se move um pouco ao sentir o calor da luz do sol aquecer seu corpo, uma mecha de cabelo cai sobre seus olhos então a afasto colocando atrás de sua orelha. Ela pisca os olhos incrédulos.

"Desculpa. Te acordei? É que eu não queria que nada atrapalhasse minha visão do seu rosto. Bom dia, querida. Eu te amo."

Ela finalmente abre os olhos aflita para constatar que eu a observava dormir. Meus olhos profundos e cansados com certeza me denunciaram.

Mon me agarra e eu sinto seu corpo quente me aquecer num abraço tão gostoso que eu não quis largar, porém ela me afasta para me encarar com sentimentos mistos de preocupação e raiva.

"Onde você esteve? Eu fiquei preocupada. Você sumiu, não avisou para onde ia. Eu te liguei e mandei mensagem... nossos filhos perguntaram por você o dia todo."

Eu olho sentindo falta da palavra. Ela está brava demais para dizer.

"Eu não vou chamar você de 'querida' porque o que você fez me deixou muito brava."

"Eu precisei resolver um assunto importante. Me perdoe. Eu não quis preocupar você, querida."

Ela se mantém firme na reação séria. Eu sei que posso desarma-la fácil com essa palavra, mas dessa vez, ela não vai deixar isso passar.

Mon quer estar ao meu lado em todos os momentos. Bons e ruins. Eu sei disso. Mesmo assim, eu não quero essa carga pesada para ela.

Minha querida esposa não vai desistir da luta antes da derrota.

"Se você quer que eu chame você de querida, tem que me deixar participar da sua vida."

"Não é justo. Eu só quero proteger vocês."

"Não adianta tentar me distrair."

"Eu não vou conseguir te convencer, vou?" Ela negou com a cabeça satisfeita com a minha derrota. "Eu fiz uns exames."

Isso foi como um tapa. Ela recua e seu rosto não entende o que eu quis dizer. Tento esclarecer para não preocupá-la.

"A doença de vovó é hereditária. Ela estava preocupada comigo então fiz os exames para dá certeza da minha saúde perfeita. Mas você sabe que não há nada para se preocupar."

"Você parece preocupada."

"Não estou. Nem um pouquinho. Preciso também que você não esteja. Por eles."

Ouvimos os barulhinhos de risos e correria vindos na direção do nosso quarto. É o meu "bom dia" chegando. A porta do quarto se abre e meus pequenos se jogam na cama em cima de nós fazendo festa.

"Daddy! Daddy! Bom dia daddy! Bom dia mami!"

Mon desfez o rosto preocupado e abriu seu maior sorriso para cumprimenta-los com beijinhos e abraços. Eu faço o mesmo.

A brincadeira na cama dura o suficiente para me deixar exausta mais uma vez, então Mon os leva para fazer a higiene matinal e tomar café da manhã enquanto eu consigo um tempinho para descansar.

Quando levantei, Mon não me deixou fugir da conversa.

O trato foi feito.

Esperar os resultados dos exames saírem e prosseguir após uma nova conversa.

Tudo ia depender dos resultados.

Enquanto isso, eu passarei mais tempo com a vovó e as crianças vão conhece-la amanhã.

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MonSam - Nosso Mundo Cinza & RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora