Parte 15 - Sam

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Vi a cara da minha esposa mudar assim que nos aproximamos do Palácio com o carro, vi como ela me olhou sabendo o que eu estava fazendo, ela me questionou porque queria ouvir da minha boca que eu estava contrariando minha vontades, os nossos desejos para atender mais uma vez as exigências de vovó. Então vejo ela assentir com tristeza no olhar.

Isso me deixou em frangalhos. Quis desistir no mesmo instante em que ela lançou um olhar a vovó como se dissesse "tudo bem, você venceu", mas eu não podia mais recuar. Eu não conseguia dizer não a ela. Eu sei, eu sou fraca e covarde. Eu só queria que tudo ficasse bem e eu consegui pelo menos que ela mantivesse Khun Kang longe de nossa família por um tempo. Não o veremos pelos próximos meses e posso conseguir que isso se estenda indefinidamente, por enquanto preciso conversar com minha esposa.

Eu a machuquei. Sinto que fui longe demais quando não disse nada essa manhã ou no caminho até aqui, eu somente não sabia como dizer a ela que não pude dizer mais um "não" a minha avó quando o argumento dela foi tão válido para mim. Talvez se eu conversar com ela agora, Mon possa ver também que aquela mudança repentina possa ter suas vantagens. Também vou assegurá-la de que será até o bebê nascer e nem um minuto a mais.

Não quero que as crianças cresçam naquele lugar onde fui tão quebrada e infeliz. Sim, eu tive momentos que me trazem boas lembranças, com meus pais, com minhas irmãs e até com minha avó, porém minha adolescência não foi fácil, vovó era rígida e severa somente a obediência absoluta lhe agradava e eu me submetia aos seus gostos e exigências mesmo que isso me custasse tanto.

Quando me libertei do Palácio e conheci Mon, eu pretendia nunca mais me permitir sentir como me sentia na minha adolescência as rédeas de vovó. Eu faria minhas próprias escolhas ou compartilharia com minha esposa as nossas próprias opiniões discutindo saudavelmente qual seria nossa decisão, no entanto aqui estou mais uma vez a sua ordens e mais uma vez me sinto muito mal por isso.

Nos instalamos em completo silêncio em nosso quarto após Mon ver onde ficariam nossos filhos. Ela estava apreensiva em deixá-los com as funcionárias, queria ficar com eles e se distanciar de mim porque estava brava comigo por toda a situação e eu não lhe tiro a razão, mas ao perceber o cuidado e gentileza com que Meenoi e Mali eram tratados e como eles pareciam à vontade com aquelas pessoas estranhas para eles, ela relaxou um pouco deixando-os para me seguir até o nosso quarto.

O quarto era maior que a sala da nossa casa e deixando bem claro que não me queria por perto, Mon se colocou no canto mais distante sentada numa poltrona de pernas e braços cruzados. Ela sacudia a perna com impaciência aguardando minha explicação. Tento me aproximar, mas ela gesticula me fazendo recuar. Acho que vai ser mais difícil do que imaginei. Engulo em seco e começo minha súplica.

"Se eu puder falar e você tentar me entender, as coisas podem ficar bem de novo."

"As coisas estavam bem, Khun Sam?" Questiona retoricamente num tom quase agressivo. Perdi a coragem mais uma vez, mas ela me incentiva a continuar. "Vamos lá, estou esperando. Fale."

"Vovó pediu para vir morar com ela de novo."

"Isso é evidente. Continue."

"Ela argumentou que nós podemos ser melhor atendidas aqui caso uma emergência venha acontecer novamente." Vejo o semblante dela mudar um pouco apesar dela tentar disfarçar talvez ponderando sobre o motivo que me fez aceitar a proposta com mais cuidado. "Há uma equipe médica de plantão que chegará em menos tempo caso venha a ocorrer algo comigo ou com bebê e nós estaremos completamente confortáveis aqui nesse quarto enquanto as crianças vão está também próximas a nós caso sintam nossa falta."

Vejo seu semblante suavizar um pouco mais e ela perde boa parte da irritação inicial. No entanto, ainda não é o suficiente para desarmá-la apesar de já sentir que posso me aproximar e o faço assim que seus braços se desfazem do aperto em seu peito e a perna inquieta parar de balançar. Pego suas mãos e ela levanta para ficar a altura dos meus olhos fixando seu olhar no meu para ouvir o restante de minhas palavras.

MonSam - Nosso Mundo Cinza & RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora