Fake Love - Thiam

Capítulo 61

Theo

Meus pais vivem brigando, por praticamente tudo, mas dessa vez foi diferente.

Minha irmã não esta em casa, e eu acabei de chegar da escola. Tirei C+ em História, feliz, fui contar aos meus pais, porém não obtive muito sucesso, já que meu pai começou a discutir algo sobre o trabalho e jogou na minha cara que eu sou burro e que jamais conseguiria alcançar a nota exigida por ele. 

Sai correndo de casa quando o clima começou a ficar muito intenso para eu poder processar. A árvore que tem em frente a nossa casa foi meu refugio, mesmo velha e balançando com meu peso, eu subi sem medo algum de cair, minha cabeça estava muito bagunçada para eu se quer prestar atenção nisso. 

O choro era inevitável, o vento era gélido, e só o que eu queria era sumir dali. Agarrado as minhas pernas eu chorei, como um bebezinho. Meus pelos todos arrepiados pelo vento gelado que batia contra minha pele me causando calafrios. 

Chorei por tempo suficiente para ficar com os olhos avermelhados e inchados.

- Theo. - ouço sua voz de baixo, embargada e preocupada. Eu levanto minha cabeça devagar para olha-la e vê-la com os olhos levemente avermelhados, as mãos esbranquiçadas pelo frio estendidas em minha direção, mas eu estou alto demais para alcança-la. - Desça dai. - ela pede segurando o choro.

Lembrar do motivo pelo qual ela segurava o choro me deixa fraco. Tara sempre fez o que pode para me proteger de tudo e do mundo, e junto dele os monstros que nele habitam. Quando nossos pais começavam a discutir, ela me levava até seu quarto e em meus ouvidos colocava seus fones, com uma música suave e alegra, num tom levemente alto, alto o suficiente para que eu não conseguisse ouvir o que o mundo a fora eclodia. No começo eu não entendia direito o porquê dela fazer isso, mas com o passar do tempo eu entendi, vi que o mundo não era como em meus desenhos, e foi quando eu parei de desenhar uma família linda, com a mamãe e o papai de mãos dadas, sorrisos em seus rostos, e ao lado eu e minha irmã. Já cheguei até a colocar um cachorro, e na época, nem cachorro tínhamos, mas era meu sonho ter um.

Levei tempo para perceber a tragédia que o mundo era, pois sempre foi difícil para entender algo, mesmo que simples. Sempre tive a ajuda de Tara em tarefas escolares, só nunca tirava 0 pq ela é uma boa professora, sabia me fazer entender ---- mesmo que um pouco ---- as matérias escolares.

Ela sabia também me ensinar sobre a vida. Foi ela quem estava lá quando minha primeira desilusão amorosa veio, aos meus 7 anos de idade, tão novo e ingênuo para entender o que de fato era amor, a única vez em que amei alguém com tal intensidade.

Tara sempre esteve lá para mim, quando eu chorava, ou quando eu sorria, era ela quem estava lá para vivenciar todos os meus momentos, sejam eles bons ou ruins.

Porém, sempre muito teimoso, ao vê-la mandando eu descer, me fez querer chorar ainda mais, algo em mim dizia para que eu descesse dali e a abraçasse com muita força, porém, outra parte só queria ficar sozinha.

Eu não desci. E então ela subia.

- Não Tara, não suba. - ela continuou.

- Então desça daí, Theo! - mas eu não queria, então ela continuou a subir.

O som me fez paralisar. O creque do tronco nos avisando que era peso demais para ele aguentar.

Minhas mãos estavam trêmulas, mas agora não era mais de frio.

- Theo... - sua voz sai como num sussurro.

E de repente, tudo que eu tinha, tudo que eu amava, se vai em vão.

Ela está no chão. Sangue por toda parte, o tronco atravessado sobre seu corpo. A verdadeira visão do inferno, eu queria morrer. Por que não desci?

A sensação me fez quase cair. Aquelo era bem pior do que ouvir meus pais brigando.

Eu desci, mas quando desci meus pais já estavam ali, ligando e gritando por ajuda. Eu não tive a coragem de descer antes, o que só fez eu me sentir pior ainda. E se eu pudesse ter a ajudado? Salvado? Ela era minha irmã e morreu por minha causa. EU MATEI ELA.

Pude ouvir o som dela caindo por anos, até conhecer Liam.