Theo
Não tinha ideia do quanto o amava até precisar me afastar para protegê-lo de mim e dos meus problemas. No entanto, penso que é isso que o amor é: deixar ir embora, mesmo que isso signifique partir também. Vou permitir que ele siga o caminho certo da vida, afinal, Liam merece tudo, tudo o que, no momento, não posso dar. Talvez, quando eu o reencontrar um dia – o que pretendo fazer assim que eu estiver emocionalmente estável – possamos ser felizes da maneira correta, sem pesadelos me assombrando à noite, sem os problemas do passado.
A única coisa que tenho absoluta certeza é que o amo, mesmo que ainda seja incerto para mim ter que partir. Mas o que é certo provavelmente é o que precisa ser feito. Não posso resolver meus problemas se a única coisa em que consigo pensar é o Liam, e não posso mantê-lo seguro se a única coisa que posso oferecer são problemas.
Quando abri a porta do hospital e me deparei com o exterior, respirei fundo e senti o vento acariciar meu rosto. Olhei para trás, através da porta de vidro, que me proporcionava uma visão parcial do interior. Novamente, senti-me tolo por fazer as coisas dessa maneira. Não é justo deixá-lo aqui sem qualquer lembrança de nós dois, porém, não posso suportar vê-lo sofrer ao recordar das coisas que lhe fizeram mal, assim como das coisas que fiz e talvez ele não tenha presenciado. Eu queria entrar novamente e abraçá-lo, mas se o fizesse, não conseguiria sair dali nunca mais, o que causaria ainda mais problemas. Preciso de um tempo, tempo para refletir e compreender o que desejo para mim. Quando estiver mais resolvido com a vida, voltarei a procurá-lo. Se ele estiver com outra pessoa, o parabenizarei. A única certeza é que sempre o amarei e, por mais que tente esquecê-lo, não conseguirei. Afinal, é impossível apagar da memória aqueles olhos que me fazem sentir mergulhado num oceano vasto e vazio, somente eu e ele.
Meu peito latejava, algo dentro de mim emergia, eu compreendia o que estava ocorrendo, porém uma parte relutava em aceitar. Mãos trêmulas e respiração entrecortada, ele abalava minha estabilidade emocional, até mais do que antes.
Rumei em direção ao meu automóvel, com dificuldade. O carro estava gélido, meu corpo eriçado e eu me sentia frio. Agarrei o volante com tanta intensidade que pude perceber o couro rasgando minha pele, ardendo em dor, mas aquilo era irrelevante. Tentei inspirar, porém em vão, tudo se tornava ainda mais árduo.
Fechei os olhos e liguei o veículo, tentei respirar mais uma vez, mas meu corpo enfraquecia, o carro se movia lentamente, quando me dei conta, já estava deixando o hospital para trás.
Eu não fazia ideia para onde estava indo até avistar a frente da minha residência. Ela me parecia sombria, a árvore causava calafrios. Assim que me deparei com aquela cena, mudei bruscamente de direção, seguindo um caminho desconhecido. Avistei então a casa de Liam, o único lugar em que eu imaginaria estar em circunstâncias melhores, embora não sejam tão boas. Surgiu a dúvida se deveria entrar, mesmo tendo a chave da casa. Talvez eu apenas não quisesse adentrar, pois isso me machucava. Aquele lugar, onde criei mais memórias felizes do que na minha própria casa, agora parecia abandonado. Talvez fosse pela escuridão e a iluminação da rua estragada, transmitindo uma sensação de desolação. A rua estava deserta, como se não houvesse ninguém naquele horário.
Eu lutei contra aquela dor e saí do meu carro. Esgotado, apoiei-me nos meus joelhos. Levantei-me novamente e entrei na casa, agora escura e fria, embora costumasse ser quente e acolhedora.
Como uma única pessoa pode transformar tantas coisas calorosas e felizes em algo tão frio e sem vida? Sinto-me assim dentro desta casa talvez pelo medo de nunca mais retornar. Isso é paranoico, pois pretendo voltar algum dia, mas não sei quanto tempo levará.
Liguei algumas luzes para iluminar o meu caminho, subi as escadas à procura dos meus pertences. Deveria retirar tudo o que é meu daqui, para que, quando Liam voltar, não existam motivos para lembrar-se de mim. A cada degrau, meu coração falhava os batimentos, subir aquelas escadas me deixava atordoado, parecia uma eternidade em comparação aos antigos cinco segundos, agora transformados em cinco minutos.
Consegui superar os degraus e encontrei o quarto dele, sim, aparento estar perdido nesta casa, pelo menos por agora. Avistei a porta, entreaberta, e a abri lentamente, o ranger dela parecia ainda mais assustador agora. Pareço mesmo uma criança em um mundo desconhecido, não é? Apenas porque perdi alguém que supostamente é o amor da minha vida, talvez o único amor que tive em anos. Dizendo isso, questiono a mim mesmo, como saber se essa pessoa realmente é o grande amor da minha vida? Será que o Liam é isso? Ou será que estou apenas sentindo todas essas coisas porque o amo demais? Não faço a menor ideia, e é correto fazer perguntas assim agora? Deve ser meu subconsciente tentando me poupar de tanto sofrimento, mas isso não resolve nada, continuo me sentindo estúpido por passar por tudo isso.
Os meus pertences saltavam aos olhos a cada olhar que lançava pelo quarto: camisetas, cadernos, mochila, anéis, livros, lápis. Aproximei-me da sua mesa e deparei-me com o caderno de história dele, lembrava-me bem desse caderno, era o que ele mais usava. Talvez por ser a sua matéria favorita. No entanto, estava repleto de desenhos meus. A não ser que Liam soubesse desenhar, isso não o deixaria desconfiado. Mas Liam ainda desenha bonecos com palitinhos. Então, com certeza ele não conhece a arte dos desenhos. Agarrei na minha mochila e comecei a colocar lá tudo o que era meu: roupas, cadernos de desenho, lápis, acessórios, que estavam espalhados pelo quarto. Os meus pertences de higiene no banheiro. Realizei uma inspeção no quarto e certifiquei-me de que estaria tudo limpo quando eu saísse.
Então, dei mais uma olhada ao redor do quarto, suspirei antes de fechar os olhos e deixar escapar uma lágrima. Raramente chorava, mas ultimamente tenho me entregado à tristeza. Enxuguei a lágrima que escorria e fechei a porta do quarto. Apaguei todas as luzes da casa e a tranquei, deixando a chave atrás do arbusto ali ao lado. Voltei para o carro com meus pertences, não me restava outra opção além de voltar para casa. No entanto, decidi não entrar, pelo menos por enquanto. Fiquei ali, imóvel, observando a porta de entrada e o galho quebrado da árvore caído no chão. Com os braços cruzados, apoiei a cabeça no banco, fechei os olhos e permiti que as lágrimas rolassem um pouco mais. Precisava daquilo, agora era mais fácil respirar, mesmo que a dor ainda persistisse no peito.
Revisitei todos aqueles momentos em que compartilhei ao lado de Liam e sua família, desde o nosso primeiro encontro, quando iniciamos um relacionamento falso que, ao longo do tempo, se tornou verdadeiro. Ele sabia que eu o amava, mas não tinha ciência do quanto, e creio que isso era o que mais me causava dor.
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Fake Love - Thiam
FanfictionLiam termina com seu namorado Brett, por conta de uma traição e com isso decide se vingar fingindo um romance com com o cara que Brett mais odiava. Começou: 21.08.2022 Terminou: ??.??.????