Cauã Souza
Não estou atrasado. Graças a Deus não estou atrasado. Dou duas leves batidas na porta e espero Manuella aparecer para me receber, depois de alguns segundos quando isso não acontece eu volto a bater, dessa vez um pouco mais forte. Nada. Bato novamente, cinco vezes ainda mais forte, porém ela não aparece. Manuella não ousaria ter me passado o endereço errado. Ela pode estar no banho, ou não ter ouvido, basta eu bater novamente. Mais cinco batidas, fortes e altas.
— Tino eu tenho uma espingarda, se você insistir em bater eu vou te dar um tiro!
Arregalo os olhos. Não sei qual foi a pior parte: eu ser chamado de Tino, a espingarda, o provável tiro que eu posso levar ou essa ser a voz de uma idosa.
Sim. Manuella ousaria me passar o endereço errado.
Mando uma mensagem para Isa perguntando onde ela mora, claro consigo minha resposta em poucos segundos. Manuella deveria começar a ter algumas aulas de etiqueta com as suas amigas.
Parado dessa vez em frente a verdadeira porta do apartamento de Manuella, eu dou três batidas e espero ver a maçaneta ser girada. A imagem de dela aos poucos vai surgindo em minha visão, o sorriso satisfatório se formando nos lábios dela quando ela vê minha expressão que provavelmente não é das melhores.
—Eu poderia levar um tiro! — digo sem saudações.
—Dona Helena não faria isso — ela diz rindo — a coitadinha nem enxerga direito.
Balanço a cabeça em negação, escondendo o sorriso que quer se formar em meu rosto. Manuella Manella tem sim senso de humor, um pouco sádico talvez, mas ainda assim tem.
Os olhos dela me medem de cima a baixo, suas sobrancelhas erguem logo em seguida.
—Vejo que veio com roupa— claro que ela iria lembrar disso.
Deixo um pequeno e contido sorriso abrochar em meu rosto.
—Se você preferir eu posso entrar e ficar sem elas— sussurro ao tempo que Manuella arregala os olhos.
—Credo! Por favor, poupe meus olhos— ela se afasta e abre ainda mais a porta, me dando acesso para entrar em seu apartamento—entre logo antes que eu te deixe aí fora.—Sempre bem educada!
Dou três passos para dentro do apartamento dela, quando Manuella se vira para fechar a porta eu aproveito esses poucos segundos para analisar sua sala de estar. Não é espaçosa mas é aconchegante, tem um toque de arrumação feminina que com certeza a brohouse não tem.
Ela passa por mim e aponta para seu quarto, sigo ela calado, um silêncio um tanto que constrangedor.
Não sei o que eu esperava ver, talvez velas pretas acesas, cheiro de enxofre, cortinas escuras impedindo a luz do sol entrar e uma pichação escrita demônio na parede do quarto dela porém não é isso que eu encontro. O quarto de Manuella Manella é a cara dela. O ambiente tem um cheiro leve de jasmins tenho certeza que é do perfume que ela usa, as paredes são brancas, exceto por uma, a da janela, que é lilás, as cortinas são finas e quase incolor, a cama de casal está repleta de almofadas, há uma estante cheia—não cheia não — entupida de livros de todas as cores e tamanhos e por fim há uma bancada de estudos próximo a janela, é grande e está repleta de papéis e post its.
Me viro para Manuella ficou atrás de mim.
—Cadê os meus bonecos que você enfia agulhas, cadê as minhas fotos marcadas com chifres e rabos, cadê seu quadro com o plano infalível para me matar? — brinco— escondeu tudo em algum lugar?
Ela arqueia uma de suas sobrancelhas, divertida. Há um sorriso ali, eu posso ver.
—Vai se ferrar! — Ok, talvez não tenha sido um sorriso.
Manuella Manella
Cauã senta na poltrona em frente a minha bancada de estudos, os olhos dele já vasculharam todo o meu quarto e quando enfim percebeu que eu não tinha nada que remetesse a ele, ele se conformou. Me sento na cama com as pernas cruzadas tentando pensar como começar a fazer isso.
—Tudo bem— digo — Você vai precisar rever todos os assuntos do semestre passado, eu separei todas as minhas anotações e resumos 'pra você.
As órbitas preta dele chegam até mim, cauã franze as sobrancelhas e estreita os olhos.
—Nada de apresentações? Tipo, sou Manuella Manella Vieira serei sua professora de filosofia, sociologia e psicologia— o tom brincalhão em sua voz não me passa despercebido.
—Cauã olha aqui... —começo mas sou interrompida pelos bips do celular dele.
O aparelho vibra sem parar e não para de fazer barulho. Lanço um olhar mortal para ele que não dando a mínima para minha frustração pega o celular e vai verificar seja lá o que for. Se olhares pudessem queimar esse aparelho seria resumido a pó em questão de segundos. Espero até que ele perceba pela expressão em meu rosto que celulares não são permitidos, entretanto isso não acontece pois em nenhum momento ele desviou o olhar da tela acesa.
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Eu E Você?
Fiksi PenggemarOnde Cauã o capitão do time de futebol da faculdade, precisa de nota para poder passar de ano e sua única opção é pedir ajuda a garota mais inteligente da sua turma: Manuella Manella, sua inimiga declarada.