nao parece tão ruim

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                Manuella Manella

—Qual é Cauã, eu nunca te pedi nada— digo, meio que implorando para que ele deixasse eu continuar.

— Eu tenho que estudar, lembra? Achei que você iria querer passar o mínimo de tempo possível comigo e se fizermos isso, acredite, você só vai demorar aqui — ele tenta me desmotivar mas com certeza isso não vai funcionar.

Dou de ombros.

—Isa e leh só voltam amanhã, não me importo de ficar um pouco a mais.

— Isso é um convite para dormir na minha cama?— ele brinca e eu faço um gesto de vômito —Tudo bem, manu, você pode entrar na minha cabeça e desvendar os mistérios da
minha vida.

—'ha 'ha 'ha, muito engraçadinho. Agora eu quero que você defina sua infância em três sentimentos.

Ele suspira e revira os olhos, porém ainda assim parece considerar meu pedido

—Te dou a resposta se... — interrompi ele.

—É claro que tem um se...

—Se você aceitar responder umas perguntas minhas também e me deixar pedir pizza pra gente, estou morrendo de fome e aposto que você também.

Pondero seu acordo. Não parece tão ruim.

Estendo meu braço e aperto sua mão, um sorriso pequeno surge nos lábios de cauã e talvez — só talvez — uma pontada de arrependimento surja em mim. Eu tenho medo das loucuras que ele pode me perguntar, afinal estamos falando de cauã, o cara não tem filtro nenhum.

Cauã vira pra mim enquanto se levanta da cama e pega o celular em cima da bancada.

—Vegetariana? Ou alguma outra preferência?

Sorrio.

—Você não é que nem os outros caras que pedem calabresa e queijo e esperam para descobrir que a garota é vegetariana quando a pizza chega?

—Se você ainda não percebeu, eu sou um cara diferenciado, não existem muito de mim por aí, se fosse você não me deixava escapar — ele pisca pra mim enquanto disca o número da pizzaria.

—Calabresa e pepperoni por favor – sussurro pra ele quando ele já estava fazendo o pedido.

—Felicidade, amor e gratidão— Cauã diz enquanto mastiga seu pedaço de pizza, o que 'surpreendemente não é nojento — esses são os três sentimentos que remetem a minha infância.

Anoto em meu caderno: memórias felizes, bloqueio de qualquer mal momento.

Quando vou abrir a boca para fazer minha próxima pergunta ele me interrompe.

Qual sua cor predileta?—me surpreendo com a pergunta, estava esperando alguma coisa um pouco diferente.

— vermelho —respondo — defina sua mãe em uma palavra.

Sem exitar ele responde: — morta.

Ele espera que eu ria quando isso não acontece ele revira os olhos e resmunga algo sobre eu não ter senso de humor.

—Ok, então: amável. Se pudesse ter um animal de estimação qual seria?

Não preciso pensar antes de responder— Cachorro.

—Defina sua time de futebol em uma palavra — peço.

—Família—ele diz começando a comer seu segundo pedaço de pizza e entregando outro pra mim que aceito sem reclamar.

—Descreva seu pai em uma palavra.

Ele me fita, não há nenhuma sombra de sentimentos em seus olhos. Dessa vez eu não consigo lê-lo.

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