NARRADORA
Semanas antes.— Alexandre, caralho! — Reynaldo chamou o amigo, tentando o puxar do meio das duas mulheres seminuas.
Alexandre revirou os olhos, se irritando.
— O que você quer, porra? — Ele fez um sinal para as moças se afastarem, e assim foi feito.
Reynaldo cruzou os braços.
— Precisamos ir embora. Na verdade, nem devíamos ter vindo! — Reynaldo reclamou. — Otaviano vai nos matar.
Alexandre deu de ombros, bebendo um gole de seu whisky.
— Otaviano é sem graça. E você está começando a ficar...— Ele murmurou, ganhando um olhar feio do amigo.
Eles caminharam até a saída em silêncio.
Era uma casa de prostituição mais afastada da cidade, onde homens como Alexandre e Reynaldo frequentavam na tentativa de não serem vistos em casas mais comum em qualquer lugar.
Os dois entraram no carro após um dos seguranças entregarem a chave do automóvel.
Alexandre estava alto demais para dirigir, então, Reynaldo tomou a frente.
— Já são 4h40, acha que 3 horinhas de sono vão nos manter acordados durante o treino? — Reynaldo perguntou.
Alexandre deu os ombros, encarando o lado de fora pela janela.
— Sei lá. Estava cogitando nem ir.
Reynaldo o olhou rapidamente.
— Que? Você não está louco.
Alexandre riu fraco.
— Não, mas eu quero um dia de paz. — Alexandre cruzou os braços. — Otaviano vai saber que passei a noite fora, vai encher a porra do meu saco e toda aquela coisa de sempre.
Reynaldo balançou a cabeça.
— Alexandre, isso é estritamente culpa sua. — Ele parou no farol. — Porra, cara! Eu tive que vir atrás de você de madrugada para te levar pra casa.
— Veio porque quis. Eu não pedi. — Alexandre esbravejou. — Vocês estão com essa mania de merda de ficar querendo cuidar de mim. E eu não preciso de ninguém cuidando de mim!
Reynaldo assentiu.
— Concordo. Você não pediu, mas eu sou seu melhor amigo e amigos são para isso. E mesmo que você ache que não precise de cuidados, sabe que é exatamente disso que está te faltando.
Reynaldo entrou no condomínio de Alexandre, estacionando o carro na vaga do grisalho e suspirou.
— Eu sei que tá foda, Alexandre. — Reynaldo o encarou. — Mas a vida não pode parar. Estamos entrando em temporada e não dá para você simplesmente jogar tudo para cima por que algo na sua vida deu errado.
Alexandre o encarou irritado.
— Vai se fuder. — Ele abriu a porta e a bateu com força.