21. Minhas Lágrimas Ricocheteiam

1.3K 154 22
                                    

HOGWARTS
23 DE DEZEMBRO| 1976 
—— quarta-feira

O NATAL EM HOGWARTS ERA MÁGICO. Essa é a única coisa que May conseguia se forçar a repetir. Ela amava essa época do ano desde pequena, o modo como eles decoravam toda a escola, quão especial a fazia se sentir, e como voltava para o mundo dos trouxas e celebrava com sua família. Tão especial, até meses atrás. Agora, ela não tinha ninguém para voltar para casa. A dias atrás havia pensando em pedir para.. pedir para Sirius ficar com ela em Hogwarts. Mas agora ela também não o tinha. Mas se ela não o tinha, então o que havia sobrado?

Lizzie havia para quem voltar, Regulus nunca havia cogitado ficar em Hogwarts. Então, o que agora?

— May? — Gilbert chamou, sentado ao seu lado.

— Foi mal, acho que estava em outro planeta.

— Você tem certeza que não quer ir lá para casa?

Gibby..

— Não, sério. Minha mãe ia te amar, só iria achar que estamos namorando e vamos nos casar, mas isso eu posso resolver.

Ela tentou sorrir. Era um gesto doce, mas aceitar apenas iria a fazer se sentir pior, mais sozinha, mais miserável. May sorriu sem mostrar o dentes e negou com a cabeça.

— Obrigada, mas eu vou ficar bem. Sério.

Para evitar discutir sua mentira não muito convincente, May pegou seus livros e deixou a sala de aula. Gilbert ainda a chamou, mas ela já estava próxima demais da porta para tentar voltar. Andar pelos corredores era uma missão. Sua visão periférica a traia muitas vezes, trazendo a imagem dele. Na primeira semana, Sirius esperou do lado de fora da porta por ela, a seguindo pelo corredor, tentando dizer tudo ao mesmo tempo que não dizia absolutamente nada. Ela o ignorou, como se não estivesse lá em nenhuma das vezes.

Na segunda semana, Sirius não apareceu.

A parte que a matava, era que ela esperava que ele estivesse lá. Como se uma pequena parte tivesse ficado decepcionada em não vê-lo. Mas não era o que ela queria? Que a deixasse em paz, a esquecesse como um pirata faz com seu tesouro, esquecesse onde ele a enterrou no fundo de seu coração. Sirius não conseguia fazer aquilo. May também não.

Ela evitava a maioria daquelas pessoas. As pessoas que antes cumprimentaria com um aceno ou um sorriso. Estava cansada demais para isso. Um único sorriso sincero veio para Remus, que a esperava sentado ao lado da parede de pedra antiga. De algum modo, Lupin estava sendo a única pessoa que ela conseguia se comunicar. Vai ver era por que ele estava tão ferrado quanto ela. Lizzie estava sempre de braços abertos, mas ela não entendia. Regulus sabia que algo estava errado, mas May fez todos prometer que não contariam nada para o Black mais novo.

Sirius tinha pessoas demais o odiando, seu irmão não precisava ser uma delas.

— Oi, May.

— Oi, Remmy.

Os dois caminharam juntos pelo corredor. Ela não precisava falar muito com o Lupin, nem esconder que estava cansada ou que não havia dormido bem aquela noite, ou a noite anterior. Remus carregava os livros dela sem a deixar discutir sobre o assunto. Eles passavam a tarde ou perto do lago ou no quarto da garota. Era bom por que o Lupin também estava se escondendo de Sirius, então eles podiam muito bem se esconder juntos.

𝐒𝐓𝐀𝐑 | 𝐒𝐈𝐑𝐈𝐔𝐒 𝐁𝐋𝐀𝐂𝐊Onde histórias criam vida. Descubra agora